Busca

Solenidade de Todos os Santos Solenidade de Todos os Santos 

Ressuscitados em Cristo

A celebração de Todos os Santos e a dos fiéis defuntos abre para nós a meditação sobre a profissão da nossa fé, sobre a esperança que trazemos conosco na vida eterna e no Amor no qual um dia seremos mergulhados.

Pe. Rafhael Silva MacielCidade do Vaticano

Iniciamos o mês de novembro fazendo memória da Igreja Triunfante e da Igreja Padecente, com a Solenidade de Todos os Santos e a comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, respectivamente. Refletimos sobre o sentido de nossa vida aqui e sua continuação para além desta nossa realidade temporal – com a morte.

O que é a morte? Para os cristãos “a morte é o termo da vida terrena. As nossas vidas são medidas pelo tempo no decurso do qual nós mudamos e envelhecemos. E como acontece com todos os seres vivos da terra, a morte surge como o fim normal da vida. Este aspecto da morte confere uma urgência às nossas vidas: a lembrança da nossa condição de mortais também serve para nos lembrar de que temos um tempo limitado para realizar a nossa vida” (Catecismo da Igreja Católica [CIC], n. 1007).

Um tempo limitado para realizar nossa vida! Se é assim, e todos sabemos que é, o cristão não pode “perder tempo” em ninharias mundanas, preocupando-se de tal modo com as coisas temporais que se esqueça que de não tem aqui morada definitiva, assim escrevia São Paulo aos Colossenses: “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com ele na glória” (Cl 3,1-4).

A morte é consequência do pecado (CIC, n.1008), daquela queda na qual nosso primeiros pais caíram; o Filho de Deus, assumindo em tudo nossa humana condição – menos no pecado – passou pelo flagelo da dor e da morte. Porém, sua morte foi redentora e sua obediência ao Pai “transformou em bênção a maldição da morte” (CIC 1009). Desse modo, mesmo diante da dor da separação a morte para o cristão assume significado e valor de esperança, baseada na fé que professamos: “na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; e na vida eterna”.

A celebração de Todos os Santos e a dos fiéis defuntos abre para nós a meditação sobre a profissão da nossa fé, sobre a esperança que trazemos conosco na vida eterna e no Amor no qual um dia seremos mergulhados – Deus mesmo! Como diz São João evangelista em sua I Carta: “Veremos Deus tal como é” (Jo 3,2).

Pensemos, então dois pontos que podem nos ajudar em nossa peregrinação. O primeiro tem a ver conosco. Diz o Catecismo, no n. 1014: “A Igreja exorta-nos a prepararmo-nos para a hora da nossa morte (...), a pedirmos à Mãe de Deus que rogue por nós ‘na hora da nossa morte’ (...) e a confiarmo-nos a S. José, padroeiro da boa morte”. Prepararmo-nos por uma vida de fé sincera, seja na prática da oração seja na vivência das Obras de Misericórdia corporais e espirituais. Não deixemos para depois a oração, as obras de caridade, pois o depois não sabemos até onde vai.

Dentre os atos de piedade cristã que realizamos no dia de finados está aquele de visitar os cemitérios. Dizia Papa Francisco, em uma sua homilia: “Neste cemitério existem as três dimensões da vida: a memória, podemos vê-la ali [indica os túmulos]; a esperança, que vamos celebrar agora na fé, não na visão; e as luzes para nos guiar no caminho de modo a não errarmos a estrada, que acabámos de ouvir no Evangelho: são as Bem-Aventuranças”(02.11.2018).

Um segundo ponto é aquele da nossa comunhão com os que nos precederam na vida eterna. Existem apenas dois destinos para quem morre: Céu e Inferno! “Viver no céu é ‘estar com Cristo’. Os eleitos vivem ‘n'Ele’; mas n'Ele conservam, ou melhor, encontram a sua verdadeira identidade, o seu nome próprio” (CIC, n. 1025). Por outro lado, “morrer em pecado mortal sem arrependimento e sem dar acolhimento ao amor misericordioso de Deus, significa permanecer separado d'Ele para sempre, por nossa própria livre escolha. E é este estado de auto exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa pela palavra ‘Inferno’” (CIC, n.1033).

Por isso mesmo, lembramos as palavras de Bento XVI: “Em particular, a visita aos cemitérios permite-nos renovar o vínculo com as pessoas queridas que nos deixaram; a morte, paradoxalmente, conserva o que a vida não pode preservar. De fato, descobrimos de maneira singular precisamente dos túmulos, que permanecem quase como um espelho da sua existência, do seu mundo: o modo como os nossos defuntos viveram, o que amaram, temeram, esperaram e refletiram; eles nos interpelam e levam-nos a estabelecer um diálogo que a morte pôs em crise. Assim, os lugares da sepultura constituem uma espécie de assembleia, na qual os vivos encontram os próprios defuntos e com eles restabelecem os vínculos de uma comunhão que a morte não pôde interromper. (Homilia, 03.11.2012)

Mas, pode ocorrer de um fiel “morrer na graça e na amizade de Deus, mas não de todo purificado, embora seguro da sua salvação eterna, sofre depois da morte uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do céu” (CIC, 1030). O lugar para essa purificação necessária a Igreja chama de purgatório. É exatamente para esses fiéis que ainda “padecem no purgatório” que a Igreja nos chama a rezar, a sufragar suas almas para que entrem para no Céu, lugar da realização das BemAventuranças. De modo que, “desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos, oferecendo sufrágios em seu favor, particularmente o Sacrifício eucarístico para que, purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também a esmola, as indulgências e as obras de penitência a favor dos defuntos” (CIC 1032). Rezemos hoje por quem já se foi, um dia outros rezarão por nós!

Assim, iniciando o mês de novembro, peçamos aos nossos irmãos que já entraram no Céu – na Igreja Triunfante – que continuem intercedendo por nós, que fazemos aqui nossa peregrinação rumo ao Céu; e rezemos, nós, por aqueles que estão na Igreja Padecente, sofrendo as agruras do Purgatório, para que indulgenciados pela Misericórdia Divina possam entrar para as Núpcias do Cordeiro.

Todos os Santos de Deus, roguem por nós!

As almas dos fiéis defuntos descansem em paz!

Roma, 01 de novembro de 2019

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

01 novembro 2019, 10:15