Busca

Diante dos bombardeios turcos, famílias curdas deixam suas casas em Ras al-Ein, norte da Síria Diante dos bombardeios turcos, famílias curdas deixam suas casas em Ras al-Ein, norte da Síria 

Na guerra de interesses, cristãos pagam a conta, diz arcebispo sírio-católico

Com a retirada das tropas dos Estados Unidos da Síria os curdos, que combateram ao seu lado para derrotar o Estado Islâmico, estão abandonados à própria sorte diante do exército turco, que pretende criar uma zona colchão na fronteira com a Síria. Por temor dos combates, muitos cristãos já abandonaram as cidades fronteiriças. O arcebispo sírio-católico emérito de Hassaké-Nisibis, na área curda da Síria, Dom Jacques Behnan Hindo, teme um novo êxodo.

"Como sempre, cada um tem seus próprios interesses, mas somos nós, cristãos, que pagamos as consequências."

Com profunda amargura, Dom Jacques Behnan Hindo, arcebispo sírio-católico emérito de Hassaké-Nisibis, na área curda da Síria, comenta à Fundação de direito Pontifício Ajuda à Igreja (AIS) as notícias vindas da fronteira entre a Síria e a Turquia. Dois cristãos teriam sido mortos e outros resultado feridos em um ataque ocorrido nas últimas horas na Igreja de St. George, em Qamishli.

Curdos perderão confronto com a Turquia

 

Dom Hindo havia se reunido em março passado com os líderes do Partido Democrata Curdo (PYD). "Convidei-os a desistirem de seus planos,  pois eles acreditam ter direito a uma região autônoma assim como existe um Curdistão iraquiano e um turco. Mas a população curda naquela região da Síria é de apenas 10%. Ademais, trata-se de pessoas que chegaram como requerentes de asilo depois de 1925, que têm nacionalidade turca ou iraquiana. Eles não têm direitos".

O bispo está convencido de que os curdos perderão o confronto com a Turquia, principalmente devido à falta de apoio dos Estados Unidos e de outras forças ocidentais. "Foi uma jogada estúpida dos curdos, estava claro que ninguém os ajudaria. Agora eles irão perder tudo, como aconteceu com Afrin”.

Novo êxodo de cristãos?

 

Nestas horas, o pensamento de Dom Hindo vai para as 5.000 famílias da Diocese de Hassaké-Nisibi. "Nos últimos dias, muitos já haviam abandonado as cidades fronteiriças em direção a Hassaké. Agora, o conflito se tornou ainda mais sério e eu temo que muitos emigrem. Desde o início da guerra na Síria, 25% dos católicos de Qamishli e 50% dos fiéis de Hassaké deixaram o país, junto com 50% dos ortodoxos. Eu temo um êxodo semelhante, se não maior”. Também milhares de famílias curdas deixam a região.

Ameaça do Isis

 

Também existe uma grande preocupação com a forte presença na área de militantes do Isis. "Esta manhã soube que a prisão de Chirkin seria atacada, onde estão detidos jihadistas do Estado Islâmico. Para que? Desta forma, a maioria deles conseguirá escapar. Este é um plano para destruir a Síria e não só. Agora os terroristas chegarão também na Europa, através da Turquia e com o apoio da Arábia Saudita".

Mea culpa

 

O arcebispo sírio-católico chama a comunidade internacional às próprias responsabilidades. "Estados Unidos, Itália, França, Reino Unido e Alemanha, deveriam todos fazer um mea culpa. Eles agiram na Síria. pelos próprios interesses, escondendo-se atrás dos ideais de liberdade e democracia. Em vez disso, não fizeram nada além de enfraquecer nosso país às custas da população. Por que eles não lutam pela liberdade e democracia na Arábia Saudita?"

(Com Ajuda à Igreja que Sofre)

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui

10 outubro 2019, 17:50