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D. José Traquina, Bispo de Santarém D. José Traquina, Bispo de Santarém  

Portugal: Abstenção “faz parte da crise, uma falta de credibilidade”

Entrevista exclusiva à VATICAN NEWS de D. José Traquina, bispo de Santarém e Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana.

Domingos Pinto – Lisboa

“Quando se serve da democracia para cometer injustiças, para se cometerem falhas graves, para se cometer corrupção ao mais alto nível, isto faz perder a credibilidade da própria democracia e as pessoas ou não votam, ou votam em branco, e não querem saber”.

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É desta forma que D. José Traquina, que tutela a Pastoral Social na Conferência Episcopal Portuguesa, interpreta a elevada abstenção das eleições legislativas do passado dia 6 de outubro que deram a vitória, sem maioria absoluta, ao partido socialista.

Para o bispo de Santarém, a abstenção “também faz parte da crise, que é uma falta de credibilidade”, no fundo,” reconhecer que a democracia precisa de pessoas credíveis, bem formadas”.

Já sobre os indicadores de pobreza no país, o prelado lembra que “em 2018 foram muitos milhares, mais de 100 mil pessoas a procurar em Portugal apoio junto das cáritas diocesanas”, ou seja, aumentou o número de pessoas “em busca de apoios, claramente apoio económico para as situações de dificuldade com a própria gestão da família e com endividamentos que não conseguem satisfazer”.

Já na perspetiva das migrações, o Presidente da Comissão Episcopal que integra a Mobilidade Humana está apreensivo com o acolhimento, “sobretudo com situações de abuso”, de exploração humana e laboral, “de algumas empresas que não cumpriram com os seus deveres para com funcionários em Portugal”.

“Temos feito um apelo a que em todas as dioceses, em todo o país, haja um olhar para a realidade, uma aproximação, um diálogo com as pessoas, a maior aproximação com as pessoas que chegam”, diz D. José Traquina que alerta também para as assimetrias sociais do país, sobretudo o abandono do interior, onde, “nalgumas terras, não há pessoas para trabalhar para apoiar essas pessoas nas instituições existentes”.

“Muitas aldeias com muita pouca gente em que está a ser difícil assegurar os serviços, mesmo os serviços de apoio social no que diz respeito a serviços de lares de idosos, apoio domiciliário, centros de dia”, sublinha o bispo de Santarém que pede “um crescendo de sensibilidade à realidade da pobreza, à realidade das migrações, à realidade da pessoa humana”.

Nesta entrevista ao portal da Santa Sé D. José Traquina deixa ainda um alerta: “Uma sociedade que não inclua os seus doentes, os seus idosos, os seus pobres, as suas pessoas com deficiência, que não integre no todo, que os esqueça, que os abandone, não pode de modo nenhum ser uma sociedade desenvolvida, ainda que tenha bons resultados económicos”.

 

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15 outubro 2019, 12:08