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Papa Francisco e o Cardeal Sepe na visita a Nápoles de 21 de março de 2015 Papa Francisco e o Cardeal Sepe na visita a Nápoles de 21 de março de 2015 

Nápoles, cidade de braços sempre abertos

É com grande alegria que Nápoles se prepara para abraçar o Papa Francisco nesta sexta-feira (21/06). Para nós é como se fosse nosso conterrâneo, por ser próximo ao espírito de uma cidade com os braços sempre abertos, acolhedores por vocação

Cardeal Crescenzio Sepe, Arcebispo de Nápoles

Não é comum que um Pontífice participe de um simpósio, mas o tema tratado pelo simpósio organizado pelos padres jesuítas, seus coirmãos, na Faculdade de Teologia da Itália Meridional está no coração do Papa: “A teologia depois da Veritatis gaudium no contexto do Mediterrâneo”.

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E é sobre a palavra “contexto” que quero refletir. Os estudiosos falam de “teologia contextual", uma teologia que não modifica a verdade revelada que nos vem de Cristo, mas que lê e interpreta as “coisas divinas” em relação à realidade social, política e religiosa na qual nos encontramos. Em uma mensagem enviada ao Congresso Internacional de Teologia, realizado de 1º a 3 de setembro de 2015 na Pontifícia Universidade Católica de Buenos Aires, o Santo Padre escrevia: “Uma das principais contribuições do Concílio Vaticano II foi precisamente a de procurar superar este divórcio entre teologia e pastoral, entre fé e vida. Ouso dizer que revolucionou em uma certa medida o estatuto da teologia, o modo de agir e de pensar crente”. São palavras que Francisco cita também na constituição apostólica Veritatis gaudium, na qual recorda que o decreto conciliar Optatam totius, promulgado em 28 de outubro de 1965, “convida veementemente os estudos eclesiásticos a ‘concorrer de modo harmônico para que à mente dos alunos se abra o mistério de Cristo, que atinge toda a história da humanidade e continuamente penetra a vida da Igreja’. Para alcançar este objetivo, o decreto conciliar exorta a conjugar entre si a meditação e o estudo da Sagrada Escritura, como ‘alma de toda a teologia’, a participação assídua e consciente na Liturgia sagrada, como ‘primeira e necessária fonte do espírito verdadeiramente cristão’, e o estudo sistemático da Tradição viva da Igreja em diálogo com os homens do respectivo tempo, em uma escuta profunda dos seus problemas, feridas e solicitações”.

“Portanto é necessário dialogar com o homem contemporâneo, escutar, na perspectiva de uma “teologia de baixo”, o grito da humanidade. Aquele grito que muitas vezes, nos últimos anos, chegou do Mediterrâneo, mar que dá vida e riqueza, mas que pode também dar morte e afundar as pobres vidas de quem procura fugir da miséria e da guerra”

Não é fácil unir pastoral e teologia, muitas vezes consideradas em contraposição. Neste aspecto, a faculdade de teologia fez muito tanto em âmbito acadêmico, como também na Igreja local, seguindo as pegadas do magistério do Papa Francisco enfrentou este autêntico desafio no próprio ambiente de referência. A rede de solidariedade e assistência colocada a serviço dos últimos e no caso específico dos sem pátria é ainda ativa e extensa, mesmo reconhecendo que age em um campo no qual os recursos nunca são suficientes.

No plano mais geral, recordamos um dos momentos mais emocionantes da visita do predecessor do Papa Francisco, Bento XVI. Em coincidência com a visita de Bento XVI em 21 de outubro de 2007, Nápoles foi a sede do encontro anual da Comunidade de Santo Egídio, que teve como tema: “Para um mundo sem violência. Religiões e culturas em diálogo”. No apelo em prol da paz de Santo Egídio, 12 anos atrás, lia-se em um trecho: “Entrando no profundo das nossas tradições religiosas, redescobrimos que sem diálogo, não há esperança e condenamo-nos ao medo uns dos outros. O diálogo não é a ilusão dos fracos, mas a sabedoria dos fortes que sabem se deixam confiar à força frágil da oração”.

O Mediterrâneo, exatamente como Nápoles, é lugar de contrastes, algumas vezes conflitos, mas pode se tornar um lugar de diálogo, paz e fraternidade. Não a caso, é também chamado de Mare nostrum. Nosso mar, não meu. Não pertence apenas a um povo, ao contrário, aquele mar nos aproxima. Em um simpósio, certamente não se pode falar de todos os problemas dos homens e das mulheres que vivem às margens do Mediterrêneo, mas pode-se abrir um novo horizonte, feito de regras absolutas que valem também para quem vive no outro hemisfério da terra.

“A humanidade realmente não precisa de muros, mas de pontes, cujos alicerces estão bem firmes na boa terra da Palavra de Deus”

Talvez a humanidade também tenha necessidade de memória e de recordar o que o Criador nos disse desde o livro do Gênesis, no versículo 27 do capítulo 1: “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou”. Eis o que aproxima, no Mediterrâneo e em todos os cantos da terra: a humanidade, o ser homens e mulheres criados por Deus, à sua imagem, sem distinções.

O fato do Papa escolher Nápoles para falar de um tema tão importante e, fato raro, para não dizer único, participe de um simpósio, nos enche de saudável orgulho. Exatamente em Nápoles, autêntica capital do Mediterrâneo, mar da cuja essência é síntese. O Santo Padre irá propor uma mensagem que será ouvida pelos teólogos e os estudiosos das universidades e faculdades eclesiásticas de todo o mundo. Desta vez, com relação à visita de 21 de março de 2015, a visita de Francisco terá uma duração breve e será limitada aos estudantes e professores da Faculdade de Teologia, mas Nápoles estará no centro da vida da Igreja.

Nós, napolitanos queremos dizer ao Papa: volte mais uma vez à nossa cidade, uma terceira vez. Nós te acompanharemos sempre com a oração e com o coração de quem te quer muito bem. Damos a Francisco uma saudação de boas-vindas e o abraço de toda Nápoles.

 

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20 junho 2019, 11:54