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Cardeal Fridolin Ambongo, Presidente do SCEAM,  no encontro do Jubileu de Ouro do CEPACS, em Lagos Cardeal Fridolin Ambongo, Presidente do SCEAM, no encontro do Jubileu de Ouro do CEPACS, em Lagos 

Igreja em África não está de braços cruzados

A Igreja em África não está de braços cruzados perante os desafios do Continente. Numa recente mensagem, o SCEAM manifesta solidariedade social e caritativa em relação às pessoas vulneráveis e famílias em situação de precariedade e, embora favorável ao sistema democrático, afirma que as razões que levaram a golpes de Estado no Sahel e na África Central exigem discernimento.

Dulce Araújo - Vatican News

De 18 a 23 de novembro findo, os Arcebispos e Bispos membros do Conselho Permanente do SCEAM (Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar) estiveram reunidos em Lagos na Nigéria no seu segundo encontro anual e para as celebrações do Jubileu de Ouro do CEPACS (Comité Pan-africano para as Comunicações Sociais) que faz parte do SCEAM.

No final do encontro dirigiram uma mensagem a todos os cristãos do continente africano e às pessoas de boa-vontade, em que agradecem a Deus pelos 50 anos do CEPACS e encorajam os dirigentes deste organismo no seu serviço de evangelização e de desenvolvimento humano integral em África.

Nos debates sobre as realidades vividas pelas populações da África emergiu - frisa o SCEAM - que a pobreza prevalece apesar dos esforços governamentais no sentido da recuperação económica após a crise provocada pela Covid-19 e outras fragilidades.

Um ponto de viragem em África

O Comité afirma ter tomado conhecimento também dos conflitos entre Estados e das guerras que se seguem, provocando vítimas inocentes, sobretudo crianças. Isto “devido às ambições desenfreadas de certos dirigentes, para quem os interesses pessoais e os dos seus clãs, e mesmo dos seus aliados estrangeiros, contam mais do que os dos seus respetivos países.” - escreve o SCEAM que diz rezar por essas vítimas.

No que toca às diversas eleições políticas agendadas para 2023 e 2024, o Comité diz ter ficado com a sensação de que “algumas destas eleições estão a ser organizadas de forma a favorecer os candidatos do Estado e que, consequentemente, a democracia está a ser desrespeitada.” Sobre este ponto várias conferências episcopais já se pronunciaram” - afirmam os bispos - fazendo saber que subscreveram a mensagem de junho de 2023 da CENCO (Conferência Episcopal Nacional do Congo), segundo a qual a estabilidade desse país e o bem-estar do seu povo dependem, em particular, de eleições livres, inclusivas, transparentes e pacíficas.

Como sabemos - prossegue a mensagem - os golpes de Estado no Sahel e na África Central têm estado no centro da atualidade este ano. Ao contrário dos golpes de Estado dos anos 70 e 80, em que os golpistas pretendiam conquistar o poder e mantê-lo durante o tempo que quisessem, os golpes deste ano distinguem-se pelo seu caracter messiânico, na medida em que o objetivo é libertar o povo da injustiça e pôr fim à monopolização das riquezas nacionais pelas “dinastias políticas” e seus aliados estrangeiros. O que é surpreendente é que o povo abraçou a causa dos golpistas, porque vê o golpe de Estado como uma manifestação de raiva há muito reprimida contra a injustiça de que foi vítima e porque lhe deu a oportunidade de questionar a lógica geopolítica que foi aplicada e imposta durante tanto tempo aos países africanos produtores de matérias-primas. Esta mudança no Sahel e na África Central, representa, portanto, um ponto de viragem em África.”

Alguns casos de golpe de Estado exigem discernimento

O SCEAM sublinha ainda que “por princípio” é “contra os golpes de Estado”, e que esta resposta “está de acordo com o ensinamento da Igreja, que não aprova a conquista do poder pela força”, mas sim pelo sistema democrático, que “assegura a participação dos cidadãos nas opções políticas e garante aos governados a possibilidade escolherem e controlares os seus governantes ou de os substituírem de forma pacífica, quando tal se revelar oportuno”.

O Comité diz-se ainda consciente de que “o sistema democrático não é perfeito, mas é o menos mau em comparação com outros modelos de governo, porque garante a promoção e a defesa dos direitos humanos.”

No entanto - prossegue a mensagem - “há casos específicos como os do Sahel e da África Central, que exigem discernimento. A Igreja não é indiferente à sorte das populações que vivem nestas regiões e que manifestaram a sua cólera apoiando o governo de facto que emergiu do golpe de Estado.”

Diálogo para evitar desvios

Em sintonia com “as aspirações dos povos dessas regiões a uma vida melhor”, o SCEAM declara que “a Igreja fará seu o dever de apoiar o que está a ser feito de bom nestes países para que o processo conduza ao estabelecimento de uma verdadeira democracia.” E, nesta perspetiva apela “aos líderes e atores políticos, bem como à sociedade civil, para que organizem um diálogo que evite qualquer desvio, como a tentação de perpetuar a transição para a democracia.”

Por fim o SCEAM assegura que perante a série de desafios que o continente africano enfrenta atualmente, “A Igreja não está de braços cruzados, mas mostra-se solidária com os povos deste Continente, intensificando a sua ação social e caritativa para ajudar as pessoas vulneráveis e as famílias em situações precárias.”

Os Arcebispos e bispos do Comité Permanente do SCEAM exprimem também a sua solidariedade aos seus colegas bispos “que estão a trabalhar para encontrar soluções para estabelecer uma paz duradoura na região dos Grandes Lagos e no Sudão.”

Lançar bases para uma cultura de fraternidade

“A África - concluem - está numa encruzilhada e nós convidamos a lançar as bases de uma cultura de fraternidade e a construir a ponte da fraternidade, como o Papa Francisco tem repetidamente recomendado, para dar nova vida à África.”

“Que a Virgem Maria, Rainha da África, interceda por nós junto de Cristo para que a justiça e a paz reinem em África” - remata a mensagem que traz a data de 23 de novembro de 2023 e é assinada pelo Cardeal Fridolin Ambongo, Arcebispo de Kinshasa e Presidente do SCEAM. 

Oiça

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02 dezembro 2023, 14:24