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Acordo de "Paz Definitiva", assinado em Maputo (Moçambique) em 2019 Acordo de "Paz Definitiva", assinado em Maputo (Moçambique) em 2019 

Moçambique: 48 anos de independência, um percurso entre avanços e retrocessos

Moçambique celebra neste 25 de junho 48 anos de independência política, um projeto que para o Prof. Samuel Simango, analista e perito em Ciências políticas e relações internacionais, é sim abraçado pelos moçambicanos, mas também se caracteriza por altos e baixos, por momentos de avanço e retrocesso.

Rogério Maduca – Radio Pax, Beira, Moçambique

Em entrevista à Radio Pax, emissora da Arquidiocese da Beira (centro de Moçambique), o Prof. Samuel Simango reafirmou ser inquestionável a independência de Moçambique: “o País é politicamente independente, um projeto abraçado por todos os moçambicanos”, mas é também preciso ter em conta que, nestes 48 anos, o País teve alguns avanços e muitos recuos”.

Desafio económico para um País que vive de conflito em conflito

Para o analista político, um dos grandes recuos que Moçambique teve foi o facto de não ter conseguido manter o desenvolvimento económico que o País tinha em 1973, e também de a sociedade moçambicana não ter conseguido manter a paz entre si: “somos um País que viveu de conflito em conflito, até hoje”, apontou Simango, reconhecendo que nestes dois pontos o País não foi um bom exemplo, antes, deixou muito a desejar.

Massificação da educação, mas continua taxa de analfabetismo

Mas houve também alguns avanços, entre os quais no nível da educação: no Moçambique independente houve massificação da educação, reafirmou o Prof. Simango, pois na altura da independência, o País tinha uma taxa de analfabetismo bastante alta, taxa que que agora reduziu, embora ainda não tenha chegado aos níveis desejados – “mas houve melhorias ao nível da educação, pois hoje temos mais escolas, mais universidades, e isto permite dizer que há áreas onde nós fracassamos e outras áreas em que avançamos bastante”, reafirma.

Povo com dificuldades, mas resiliente e lutando pela autoafirmação

Para o analista político Samuel Simango, uma das áreas em que ainda continuamos com grandes desafios é o sector da saúde: “a qualidade da nossa saúde não é a que almejavam os que, desde 1962, lutaram para a conquista da independência”, ressalta o Professor reconhecendo que Moçambique é “um País de altos e baixos, um País em que, embora com dificuldades, o povo é resiliente e tem lutando pela sua afirmação”.

Samuel Simango também falou do desenvolvimento económico de Moçambique nestes 48 anos de independência política, enfatizando que tal desenvolvimento não se mede apenas com o número de fábricas existentes ou de áreas cultivadas, mas que é preciso fazer relação deste crescimento com o envolvimento da população nos seus resultados. Neste aspecto, não houve grandes avanços, diz o Professor universitário, recordando que a classe política, a classe dirigente que assumiu a independência, tinha muitas dificuldades, e que havia certa incapacidade dos governantes para darem continuidade ao processo de desenvolvimento existente no período antecedente à independência.

Socialismo produziu retraimento do desenvolvimento

Outro factor importante apontado por Simango é o facto de se ter adoptado “uma ideologia e uma política que cortava diametralmente com o desenvolvimento que nós vínhamos tendo”: havia uma economia capitalista antes da independência, havia uma agricultura industrial e, com a independência, se adoptou o Socialismo, “e praticamente isto produziu um retraimento para o desenvolvimento e para o investimento”. Portanto, para o analista Simango, o Socialismo foi um dos grandes responsáveis para que o País não continuasse na senda do desenvolvimento, para além do facto de termos tido uma classe política pouco preparada – “não tínhamos gente preparada para continuar com o capitalismo e, pior ainda, para abraçar o Socialismo” – sublinha Simango.

Muitas Universidades, mas pouca preocupação pela investigação

Por último, Simango observou que as nossas Universidades e laboratórios ainda não têm a capacidade suficiente para produzir conhecimento capaz de reverter a situação e responder à pobreza criada pela falta de conhecimento.

“Nós podemos ter as melhores universidades, mas se as políticas adoptadas pela elite política não conduzirem ao desenvolvimento, nada feito”, reconhece Simango, para quem “é preciso que se crie um ambiente que favoreça o desenvolvimento, e este ambiente ainda não foi criado”.

Para a falta de ambiente propício ao desenvolvimento, Samuel Simango aponta, antes de tudo, “a guerra em que o País vive praticamente do segundo ano da proclamação da independência, até hoje: guerra civil e agora uma guerra em Cabo Delgado que o País não conseguiu evitar”. Com efeito, para Simango, o aspecto político pesa mais para o não desenvolvimento do País do que o aspecto meramente técnico ou científico, e é um facto que “as nossas Universidades, até aqui, estão mais viradas à docência, a transmitir o conhecimento, e não na investigação, porque a própria investigação requer muito empenho financeiro, humano, e também político” – conclui Samuel Simango.

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25 junho 2023, 08:45