Bispo de Donetsk e Mariupol da Igreja Ortodoxa da Ucrânia, Serhiy Horobtsov, participa de um serviço memorial em Mariupol Bispo de Donetsk e Mariupol da Igreja Ortodoxa da Ucrânia, Serhiy Horobtsov, participa de um serviço memorial em Mariupol 

Cisma entre Igrejas de Moscou e Kiev contribuiu para invasão, diz diretor da AIS

O patriarca ecumênico Bartolomeu I assinou o o tomos que concede a autocefalia à Igreja Ortodoxa da Ucrânia no sábado, 5 de janeiro de 2019, na Igreja patriarcal de São Jorge, em Istambul. Antes disso, em 15 de outubro de 2018, foi apresentada uma Declaração durante o Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa realizado em em Minsk, em Belarus, sob a guia do Patriarca Kirill, com a qual o Patriarcado russo rompia todos os vínculos com o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla.

Para o diretor da Ajuda à Igreja que Sofre Itália, Alessando Monteduro, "o cisma entre o Patriarcado de Moscou e Kiev e o reconhecimento da Igreja ucraniana pelo Patriarcado Constantinopla em 2019 representaram um golpe duríssimo para a Igreja Ortodoxa Russa que saiu enfraquecida, a ponto de contribuir para a ignição de uma das faíscas que acenderam a invasão desses dias."

Ao analisar o conflito para a Agência ADNKRONOS, Monteduro considera que "paradoxalmente no leste da Ucrânia, com referência à Crimeia e às duas autoproclamadas Repúblicas de Donetsk e Luhansk, nos últimos 7 dias há maior tranquilidade. Sofreram desde 2014 devido a severas restrições à liberdade religiosa, mas agora não é a área que sofre. A sofrer agora são todas grandes áreas metropolitanas. Excluindo aquelas mais ocidentais na fronteira com a Polônia e a Romênia. Por sua vez, estão em condição dramática Kiev, Odessa, Kharkiv e Mariupol".

 

Segundo o diretor da Fundação de direito pontifício, "a situação não distingue entre religiosos e leigos neste momento. E não acredito que a bomba no Memorial do Holocausto tenha sido um fato deliberado. Os invasores não teriam nenhum benefício, tanto quanto os israelenses colocaram-se como mediadores entre as partes em conflito”.

“Infelizmente – observa - não há lógica nos bombardeios e agora o drama da guerra envolve todos, em todas as áreas do país. Tanto que é enorme o esforço realizado pela Igreja Greco-Católica e pela Igreja Latina (que somam 4879 religiosos, sendo 1350 monjas).  Mosteiros e paróquias acolhem quem não tem um lugar onde se sentir protegido. Sendo estruturas comunitárias, há um compartilhamento de estoques e alimento, portanto há proximidade também material na oração, verdadeiros momentos de fé e devocionais nos bunkers onde é celebrada a Santa Missa".

Perguntado se haveria riscos às celebrações religiosas em função dos resultados do conflito, Monteduro respondeu que "sim, em particular para a Igreja Ortodoxa Ucraniana, Igreja Greco-Católica ucraniana, para os cristãos protestantes e para as Testemunhas de Jeová.

 

Segundo o relatório anual do Departamento de Estado dos EUA - recorda – as violações da liberdade religiosa no Donbass incluíram detenção, prisão, tortura, confisco de propriedade, agressões físicas, ameaças, vandalismo, restrições a atividades missionárias e a celebrações, encontros, cerimônias".

Por trás disso, na sua avaliação, estaria “a separação entre Igreja e Estado, que na Rússia não existe, portanto, a liberdade não é garantida. Se a Constituição ucraniana estabelece claramente a liberdade de religião e culto e a separação entre Igreja e Estado, na Constituição de 16 de maio de 2014 da República Popular de Donetsk, especifica-se que a religião dominante é o cristianismo ortodoxo liderado pelo Patriarcado de Moscou".

 

"Acredito de fato - acrescenta - que na Igreja Ortodoxa Russa se está passando por momentos de forte constrangimento nos dias de hoje: inevitavelmente não se pode ser a favor do conflito, mas há dificuldade de manifestar isso de forma explícita e peremptória, devido à dificuldade de considerar o Patriarcado de Moscou separado do Estado.”

Alessandro Monteduro recorda que tudo isso recorda de certa forma o rei da Inglaterra Henrique VIII, pois “houve uma separação de uma Igreja dominante, houve um cisma que levou ao nascimento da Igreja Anglicana com a consequente modificação do patrimônio geopolítico global".

Ele recorda que o mundo ortodoxo é composto por 220 milhões de fiéis, 140 milhões dos quais russos e ucranianos. Na Ucrânia, 30 milhões já não se reconhecem no Patriarcado de Moscou. “Vimos uma vontade popular de ser pró-países ocidentais em 2014. Independência eclesiástica, comparável ao desejo de aderir à UE ou à OTAN, isto é, à independência Federação Russa, manifestou-se antes mesmo do desejo daquela política, em 2018. É como se um exército tivesse deixado a própria comunidade, como se tivesse desertado, proclamando a autocefalia".

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02 março 2022, 13:56