Cardeal Grech em Portugal (Foto: Agência Ecclesiae) Cardeal Grech em Portugal (Foto: Agência Ecclesiae) 

Sínodo. Cardeal Grech: “o dever de abrir o nosso coração para ouvir os outros”

De passagem por Portugal, na Arquidiocese de Braga, o cardeal Grech afirmou que o Sínodo é uma “experiência sem precedentes”. Sublinhou a importância da participação e da escuta do povo de Deus.

Rui Saraiva – Portugal

Dando aplicação prática ao significado da palavra Sínodo, que quer dizer caminhar juntos, esteve em Portugal o cardeal Mario Grech, de 14 a 17 de dezembro a convite de D. José Cordeiro, arcebispo de Braga.

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O Secretário-Geral do Sínodo proferiu uma conferência na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa com o tema “Igreja Sinodal: Fruto Maduro do Concílio Vaticano II”.

Para o âmbito alargado desta arquidiocese portuguesa, o purpurado partilhou no auditório “Espaço Vita” uma outra conferência subordinada ao tema: “Sinodalidade: Forma e Estilo da Igreja”.

Experiência sem precedentes

 

Em declarações à Agência Ecclesia, numa entrevista concedida ao jornalista Octávio Carmo, o cardeal Grech afirmou que o Sínodo está a ser “uma experiência sem precedentes” que quer partilhar a esperança com toda a humanidade. Referiu a importância dos 112 relatórios que foram enviados pelas conferências episcopais do mundo.

“Nós recebemos um relatório de quase todas as conferências episcopais no mundo. São 114 e 112 enviaram o seu relatório. Para mim já isto é um motivo de alegria. Porque nunca aconteceu antes. É uma experiência sem precedentes. Houve 15 sínodos ordinários desde que Paulo VI instituiu o Sínodo dos Bispos, mas nunca antes houve este interesse. Demonstrou-se esta atenção, direi esta paixão pela Igreja. Paixão por Jesus. Nós estamos a falar de uma Igreja que quer evangelizar. E isto fomos encontrar no povo de Deus. E este é um facto que toca o meu coração. Às vezes, naquilo que lemos, encontramos notícias negativas da Igreja, que acendem os holofotes sobre as feridas da igreja, que existem e como. Mas há tanta beleza, tanta riqueza, tanta bondade. E o povo de Deus quer partilhar esta esperança com toda a humanidade”, sublinhou o cardeal Grech.

O que o Espírito Santo quer comunicar à Igreja

 

“Queremos ouvir todos, sem excluir ninguém”, salientou o purpurado assinalando que este “é o momento” da participação do povo de Deus, para descobrirmos “o que o Espirito Santo quer comunicar à Igreja”.

“Agora é o momento daqueles que no povo de Deus tomam consciência do seu dever de comunicar aquilo que estão convencidos seja o que o Espirito Santo quer comunicar à Igreja. Porque a fase continental é ainda a fase da escuta. Então é este o meu apelo sincero, porque tanto o Santo Padre como eu repetimos, constantemente, que queremos ouvir todos, sem excluir ninguém. Não queremos que nenhuma parte, nem entre conservadores nem entre liberais, deixe de respeitar o Sínodo: este é um papel em branco, os membros da assembleia querem receber o material para poder fazer um discernimento objetivo”, declarou o cardeal.

O responsável vaticano, em forma de opinião pessoal, fez votos de que “entre a primeira sessão do Sínodo e a segunda sessão haja uma outra oportunidade na qual o povo de Deus seja consultado”.

“E eu até posso juntar isto, que é a minha opinião, não há nada decidido, mas eu faço votos de que entre a primeira sessão do Sínodo e a segunda sessão haja uma outra oportunidade na qual o povo de Deus seja consultado. Porque a consulta do povo de Deus não é uma experiência acessória, secundária. Pelo contrário, é fundamental. Os padres sinodais não vão ali a título pessoal, mas porque representam os bispos. E os bispos representam o povo de Deus que lhes foi confiado”, frisou.

Tomar decisões escutando o povo de Deus

 

O cardeal Grech não deixou de sublinhar que aquilo que o povo de Deus é chamado a fazer neste Sínodo é “a contribuir com a sua reflexão e a sua oração” dizendo “o que falta à Igreja para se tornar verdadeiramente uma igreja sinodal”.

O Secretário-Geral do Sínodo, lembrando a frase do Papa que nos diz que “ninguém se salva sozinho”, afirmou que na igreja da escuta temos “o dever de abrir o nosso coração para ouvir os outros”.

“O Santo Padre diz: ‘hoje ninguém se salva sozinho’. Nem o pároco, nem o bispo, nem o Papa. A igreja da escuta quer dizer que todos temos o direito e o dever de abrir o nosso coração para ouvir os outros, antes de tomar posições e decisões. Quem tem o dever de tomar decisões deve-o fazer em maneira informada. E como se informa? Escutando o povo de Deus”, afirmou.

“Alarga o espaço da tua tenda” é a frase do profeta Isaías que serve de inspiração para a nova fase do processo sinodal iniciado pelo Papa Francisco em outubro de 2021 e que serve de título ao Documento para a Etapa Continental recentemente publicado. Um documento que dá amplo espaço às sínteses nacionais desenvolvidas na fase diocesana do Sínodo.

A nova fase do Sínodo terá nos primeiros meses do ano de 2023 momentos de especial encontro e reflexão. Serão as assembleias sinodais continentais de África, Oceania, Médio Oriente, Ásia, América Latina, América do Norte e Europa. Vão decorrer entre janeiro e março.

O Sínodo iniciado pelo Papa Francisco propõe um caminho conjunto cada vez mais alargado de comunhão, participação e missão. Para que mais do que “produzir documentos” seja possível “fazer florescer a esperança”.

Em outubro de 2023, em Roma, decorre a primeira sessão do Sínodo. Em 2024 será a segunda sessão.

Laudetur Iesus Christus

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19 dezembro 2022, 15:48