Paulo VI em sua peregrinação à Terra Santa em 1964 Paulo VI em sua peregrinação à Terra Santa em 1964 

Paulo VI na Terra Santa - II Parte

O Papa Montini, em janeiro de 1964, com o Concílio em andamento, fez uma breve, mas intensa peregrinação de três dias à Terra Santa, onde visitou 11 locais de dois países diferentes. Sua intenção foi uma viagem espiritual, voltando às origens, à terra de Jesus.

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

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Era 4 de janeiro de 1964 quando o Papa Paulo VI chegou a Jerusalém, entrando pela Porta de Damasco para dirigir-se ao Santo Sepulcro. Sua viagem à Terra Santa foi histórica, pois de fato, era a primeira vez que o Sucessor de Pedro regressava aos lugares onde Jesus nasceu e viveu, onde nasceu a Igreja, onde "todos nascemos", como recita o Salmo. Naquele período, o Concílio Vaticano II estava em pleno andamento, o que conferia particular significado a esta peregrinação tão desejada.

A acolhida em Jerusalém foi surpreendente. Foi necessária uma hora e meia para Paulo VI percorrer os poucos metros que separam a Porta de Damasco do Santo Sepulcro, tal era a multidão que se aglomerava nas ruelas da Cidade Velha para o saudar e ver de perto o sucessor de Pedro.

 

Já em Belém, Paulo VI chegou na manhã da Epifania, e às 7h50 celebrou na gruta da Natividade. E em Belém, também quis deixar dois sinais concretos de sua visita: a Universidade para os jovens e o Instituto Efatá para o tratamento de meninos e meninas surdos-mudos. Esses dois sinais permaneceram e ainda hoje recordam aquela histórica visita.

No programa de hoje, padre Gerson Schmidt*, que tem nos acompanhado nessa jornada de memória do Concílio Vaticano II, volta a falar sobre Paulo VI na Terra Santa:

"O Papa Paulo VI surpreendeu os padres conciliares quando, em pleno andamento do Concílio, quis numa visita rápida e profunda, retornar à terra de Jesus, quando quis colocar os pés nas pegadas de Jesus, como afirma em seu discurso na chegada a Jerusalém. Que esta peregrinação seja rapidíssima – como disse o Papa Paulo VI - que tenha um caráter de simplicidade, de piedade, de penitência e de caridade”. “É a terra de Jesus Cristo, à qual, após vinte séculos da saída de Pedro, um sucessor seu regressa, em condição de humilde peregrino, com atitude de oração e penitência e para colocar toda a Igreja reunida em Concílio em uma união, mais íntima e vital, com os mistérios da redenção”[1]. A proposta dos padres conciliares era de um resgate e volta às fontes originais do Evangelho. A Igreja, de fato, não precisa ir em busca de uma identidade. Ela existe deste a Igreja primitiva. Por isso, basta voltar às fontes originais da missão da Igreja, identificada pelo anúncio ardoroso do Evangelho, desde sua fundação e intenção de Jesus Cristo.

O Papa Montini, em janeiro de 1964, com o Concílio em andamento, fez uma breve, mas intensa peregrinação de três dias à Terra Santa, onde visitou 11 locais de dois países diferentes. Sua intenção foi uma viagem espiritual, voltando às origens, à terra de Jesus.

Seu secretário particular na época Pasquale Macchi, deu um significativo depoimento à revista italiana 30Giorni em fevereiro de 2000, recordando esses tocantes momentos da visita de Paulo VI à terra Santa: “Muitas outras etapas levaram a lugares cheios de memória e de mistério: o beijo na terra ensanguentada no Getsêmani, a oração de joelhos no chão do Cenáculo, o beijo na pedra às margens do Lago onde Jesus confiou sua Igreja à Pedro, a subida no Monte Tabor na doce luz do crepúsculo, foram experiências que marcaram o coração do Papa e deixaram uma viva recordação em todos nós”.

Num dos trajetos e lugares importantes, o Papa se encontra em frente à Basílica em que fica o sepulcro de Jesus. A Igreja está iluminada por potentes refletores e o Pontífice quase não tem espaço para celebrar a missa. Durante a celebração, a luz se desaparece e sobre a Basílica cai o claro-escuro produzido por algumas velas. Acompanhado por dois cerimoniários, Paulo VI entra no Sepulcro, deixa um ramo de oliveira sobre o mármore que cobre a pedra em que esteve o corpo sem vida de Cristo. O Papa se ajoelha. Ao final, emocionado, recita sua surpreendente oração pessoal. Preste atenção, ouvinte:

“Eis nos aqui, oh Senhor Jesus:
Viemos como os culpados voltam ao lugar de seu crime;
Viemos como aquele que Te seguiu, mas que também Te traiu; fiéis, infiéis, temos sido muitas vezes;
Viemos para confessar a misteriosa relação entre nossos pecados e a Tua Paixão: nossa obra, Tua obra;
Viemos para bater no peito, para pedir perdão, para implorar a tua misericórdia; porque sabemos que podes e queres nos perdoar.
Porque expiaste conosco. Tu és a nossa redenção, Tu és nossa esperança”."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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[1] CAYUELA, Aquilino. Carmen Hernandez, Notas Bibliográfica, Loyola, 2022, 142.

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19 dezembro 2022, 09:08