Fiel recebe as Cinzas no início da Quaresma, em igreja em Tijuana, México Fiel recebe as Cinzas no início da Quaresma, em igreja em Tijuana, México 

A Paróquia na Eclesiologia de Comunhão

O Papa João Paulo II, em sua Carta Apostólica Christifideles Laici, vinte anos depois do Concílio Vaticano II, apresenta uma bela explicação desse mistério de comunhão na Igreja descrito da Constituição conciliar, propondo a comunhão eclesial como “organicidade”, diversa e complementar. A paróquia, diz o Documento sobre a missão e vocação dos leigos, é a “expressão mais imediata e visível” da comunhão eclesial .

Jackson Erpen - Vatican News

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No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos falar hoje sobre “A Paróquia na eclesiologia de Comunhão”.

Dando sequência a nossa série de programas sobre a Igreja como Corpo Místico de Cristo, padre Gerson Schmidt* inspira sua reflexão de hoje na Constituição Dogmática Lumen Gentium e no magistério de São João Paulo II, para falar desse “mistério de comunhão na Igreja”:

 

“Quando se fala em Eclesiologia de Comunhão, pensa-se a profunda comunhão, de onde se origina a vida e a missão da Igreja a partir do Concílio Vaticano II. Por isso, é também chamada de Eclesiologia de Comunhão do Vaticano II. Esse tema evoca uma eclesiologia que remete imediatamente às primeiras páginas da conciliar Constituição Dogmática sobre a Igreja, Lumen Gentium.

Nesse documento, a Igreja vem apresentada como o “Corpo Místico de Cristo”, que é fundamentado a partir da analogia paulina com o corpo humano em várias de suas cartas, em especial na Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1 Cor 12, 12ss): “Com efeito, o corpo é um e, não obstante, tem muitos membros, mas todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, formam um só corpo. Assim também acontece com Cristo. Pois fomos todos batizados num só Espírito para ser um só corpo, judeus e gregos, escravos e livres, e todos bebemos de um só Espírito”.

A Constituição Dogmática Conciliar se refere aos textos paulinos, em que a comunhão eclesial se dá, dessa maneira, como comunhão orgânica e rica, onde a diversidade se torna complementariedade e cada fiel leigo (membro do corpo) é entendido como participante na sua vinculação com a totalidade do corpo. Escrevem assim os padres conciliares: “Também na edificação do Corpo de Cristo há diversidade de membros e de funções. Um só é o Espírito que, para utilidade da Igreja, distribui Seus vários dons segundo suas riquezas e as necessidades dos ministérios (cf. 1 Cor 12,1-11). (...) A cabeça deste corpo é Cristo. Ele é imagem de Deus invisível e n’Ele foram criadas todas as coisas. É necessário que todos os membros se conformem com Ele...”(LG, 07).

Compreende-se aqui uma Igreja que se revela como Comunhão em Cristo e por meio d’Ele com a Trindade, onde todos os seus membros estão intimamente interligados, conectados assim como os membros de um corpo humano. A vinculação das várias partes desse Corpo Místico se dá, sobretudo, com sua cabeça, que na Igreja é Cristo. Por meio d’Ele e por Ele é que todas as partes recebem vida. Essa comunhão eclesiológica não é uma realidade tão-somente mística, no sentido puramente espiritual e transcendente, mas existencial, concreta, de participação efetiva, encarnada na realidade. É algo que deve ser vivenciado na vida e estrutura eclesial.

O Papa João Paulo II, em sua Carta Apostólica Christifideles Laici, vinte anos depois do Concílio Vaticano II, apresenta uma bela explicação desse mistério de comunhão na Igreja descrito da constituição conciliar, propondo a comunhão eclesial como “organicidade”, diversa e complementar.  A paróquia, diz o Documento sobre a missão e vocação dos leigos, é a “expressão mais imediata e visível” da comunhão eclesial[1].

Como já dissemos, a comunhão eclesial se dá na complementariedade e onde cada fiel leigo é entendido como participante na sua vinculação com a totalidade do corpo. Na sua carta apostólica, Novo millennio ineunte, o Papa João Paulo II reafirmou o verdadeiro conceito de comunhão, aquele que deve guiar os projetos pastorais em todos os níveis, dizendo: “A unidade da Igreja não é uniformidade, mas integração orgânica das legítimas diversidades”. Emprega, nessa carta, uma bela e sugestiva expressão: a Igreja deve ser “a casa e a escola da comunhão”.

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[1] JOÃO PAULO II, Exortação apostólica pós-sinodal sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo Christifideles laici, 20.

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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24 fevereiro 2021, 09:11