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A dupla finalidade do êxodo - o culto e a terra prometida

Na obra preciosa de Joseph Ratzinger - agora traduzida no Brasil pelas edições da CNBB e disponível nas editoras brasileiras - intitulada “Teologia da Liturgia – o fundamento sacramental da existência Humana” – Obras completas, Volume XI, Joseph Ratzinger, apresenta uma dupla finalidade da saída do Povo: entrar na Terra Prometida e litúrgica.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

No nosso espaço Memória Histórica, 50 Concílio Vaticano II, vamos tratar no programa de hoje sobre o tema: “A dupla finalidade do êxodo - o culto e a terra prometida”.

Em nosso último programa falamos sobre liturgia e Joseph Ratzinger. Na introdução do livro “Teologia da liturgia, fundamento sacramental da existência humana” das edições CNBB, o Papa emérito escreve que a liturgia da Igreja tem sido para ele, desde a infância, a realidade central de sua vida, indicando que a instrução teológica de alguns Mestres, tornaram-se o centro de seu trabalho sobre a liturgia, que pode ser entendido a partir da questão sobre o culto Divino.

No programa de hoje, padre Gerson Schmidt aprofunda essa questão, trazendo reflexão, “A dupla finalidade do êxodo, o oculto e a terra prometida”:

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Na obra preciosa, agora traduzida no Brasil pelas edições da CNBB, de Joseph Ratzinger, disponível nas editoras brasileiras, intitulada “Teologia da Liturgia – o fundamento sacramental d existência Humana” – Obras completas, Volume XI, Joseph Ratzinger apresenta uma dupla finalidade da saída do Povo. Uma delas conhecemos: que é entrar na Terra Prometida. Mas existe outra finalidade litúrgica. No mandamento originário dirigido por Deus ao Faraó soa assim: Deixa meu povo ir para me servir no deserto” (Ex 7,16). Essa frase, com pequenas variações, é repetida quatro vezes. Na bíblia, o que se repete é importante. Nas tratativas com o Faraó não existe a finalidade de entrar em outra terra, mas somente servir a Deus no deserto. “Em tudo isso não se trata da Terra Prometida. Como única finalidade aparece a adoração, que pode acontecer somente de acordo com a norma de Deus e é, então, subtraída às regras do jogo do compromisso político”[1]. Israel não parte, portanto para ser um povo como todos os outros povos. Mas paste para servir a Deus. A meta do êxodo do Egito é a montanha de Deus, ainda desconhecida. A finalidade última é o serviço prestado a Deus. Não será a simples posse da terra. “A simples posse da terra, a simples autonomia nacional, rebaixaria Israel ao mesmo nível de todos os povos (...)a posse da terra se torna verdadeiro bem, o dom real de uma promessa cumprida somente se nela reina Deus e, desse modo, se desenvolve a maneira correta da existência humana”[2]. A liturgia, o culto a Deus (por meio da Aliança no Sinai), portanto, é uma das finalidades do ser humano existente que peregrina: amar a Deus sobre todas as coisas, sobre todos os bens adquiridos, sobre todas suas paixões e amores. No fundo, o Shemá – a adoração ao Deus único – está por detrás de toda a conquista da Terra Prometida, onde corre leite e mel.

 

Ratzinger ainda diz assim sobre a verdadeira liturgia e culto a Deus: “Deste modo, a finalidade da peregrinação no deserto, indicada ao Faraó, se realiza Israel aprende a adorar a Deus no modo por ele mesmo desejado. A essa adoração pertence o culto, a liturgia no sentido verdadeiro e próprio: mas ela requer também o viver de acordo com a vontade de Deus, que é uma parte irrenunciável da reta adoração. ‘ a Gloria de Deus é o homem vivo, mas a vida do homem é ver a Deus, afirma Santo Irineu, colhendo exatamente o núcleo daquilo que tinha acontecido no deserto, no encontro sobre a montanha: definitivamente, a própria vida do homem, o homem que vive retamente, é a verdadeira adoração de Deus, mas a vida se torna vida verdadeira apenas se recebe a sua forma de olhar dirigido a Deus. O culto serve parra isto: para possibilitar esse olhar e para adorar assim aquela vida que se torna glória para Deus”[3].

Essa parada do Povo de Deus não é parada pra descanso, mas para constituir o Povo da Aliança, um povo ordenado pelos dez mandamentos e tudo o que dele se traduz e se reorganiza. Por intermédio da Aliança e do direito divino, Israel se constitui no Povo de Deus e Deus como verdadeiro Deus para o seu povo. O povo de Deus no Sinai recebeu a forma comunitária da vida reta. Desta forma, posteriormente, a Terra poderá ser um dom. Toda a vez que Israel se esquece de Deus e não lhe presta o verdadeiro culto, numa reta liturgia, do justo culto a Deus, acaba fraquejando e sendo presa fácil para os povos inimigos. Toda a vez que Israel abandona o justo culto a Deus, distancia-se de Deus para dirigir-se aos ídolos – aos poderes e valores mundanos – diminuindo sua liberdade e se torna novamente escravo, como no Egito e também no exílio babilônico[4].

Por isso, há aqui um ordenamento de toda a nossa vida por meio da liturgia, do verdadeiro culto que devemos dar a Deus: nossa vida correspondendo á oferta e ao culto que oferecemos ao Senhor. Todas as relações do homem podem estar em ordem somente se a relação com Deus estiver correta. Por isso, não existem sociedades ou comunidades privadas de culto. Se não adoramos a Deus Criador de todas as coisas, acabamos por adorar as criaturas e, assim, desfocando nosso genuíno culto ao único Pai e gestor da vida. O verdadeiro culto a Deus não pode brotar de nossa fantasia, da nossa própria criatividade, mas que Deus responda, pois é ele nosso destinatário concreto, “que se mostra a nós e com isto orienta a nossa existência na direção correta”[5], como se revelou ao Povo de Deus no Sinai.”

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[1] RATZINGER, Joseph., “Teologia da Liturgia – o fundamento sacramental da existência Humana” – Obras completas, Volume XI, edições da CNBB, Editor em Lingua alemã: Cardeal Gerhard Muller e Editor em Lingua Portuguesa Antonio Luiz Catelan Ferreira, Brasilia-DF, 2019, introdução do autor, p. 33. 

[2] Idem, 34.

[3] Idem, p. 34-35.

[4] Cf. RATZINGER, Joseph., “Teologia da Liturgia – o fundamento sacramental d existência Humana” – Obras completas, Volume XI, edições da CNBB, Editor em Lingua alemã: Cardeal Gerhard Muller e Editor em Lingua Portuguesa Antonio Luiz Catelan Ferreira, Brasilia-DF, 2019, introdução do autor, p. 36.  

[5] Idem, p. 37.

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20 fevereiro 2020, 16:12