Profª. Linda Ghisoni  no Encontro sobre a Proteção dos Menores no Vaticano Profª. Linda Ghisoni no Encontro sobre a Proteção dos Menores no Vaticano 

Profª. Ghisoni: agir em conjunto, esse é o caminho

O discurso da tarde desta sexta-feira (22) no Encontro “A proteção de menores na Igreja”, foi da doutora e professora de Direito Canônico, Linda Ghisoni, subsecretária da Seção Fiéis Leigos, Dicastérios Leigos, Família e Vida. O tema de sua conferência foi “Communio: agir em conjunto”

Jane Nogara - Cidade do Vaticano

A doutora Linda Ghisoni, iniciou recordando o testemunho de uma vítima. Vítima de um pastor, “Pastor da Igreja que deveria cuidar dos pequenos e protegê-los”. Em seguida afirma de modo incisivo: “Escutar testemunhos como este, não é um serviço de comiseração, é um encontro com a Carne de Cristo, na qual são infligidas feridas que talvez nunca se curem, imprescritíveis”.

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Deveríamos nos ajoelhar

“Como podemos falar de proteção de menores na Igreja, sem considerar as vítimas e suas famílias, sem falar dos abusadores, dos cúmplices, dos negacionistas, dos acusados injustamente, dos negligentes, dos que desviaram os casos, dos que tentaram falar e agir mas foram calados?” e concluiu dizendo: “Ajoelhados: essa seria a postura adequada para tratar os assuntos destes dias”. E disse:

“[ Vamos trabalhar para que no futuro um evento como este não cause mais tanto clamor e a Igreja e o Povo de Deus assumam o cuidado, de modo competente, responsável e amoroso, das pessoas envolvidas, dos fatos ocorridos, para que a prevenção não se esgote em um programa bem feito, mas se torne um comportamento pastoral ordinário]”

Depois a doutora Ghisoni prosseguiu sua conferência falando em situar e fundar oportunamente a prestação de contas: “Diante abnormidade intrínseca de todos os tipos de abusos contra menores, impõe-se principalmente, um dever de consciência do que aconteceu, juntamente com uma tomada de consciência do seu significado, do dever de verdade, de justiça, de reparação e prevenção para que se consiga a não reiteração destas abominações”, e para conseguir as exigências citadas é necessário “assumir a devida responsabilidade” para com os que sofreram e o consequente dever de prestar contas.

Prestar contas: natureza comunional da Igreja

Todavia, continua Ghisoni “a prestação de contas na Igreja, ao contrário do que possa parecer, não responde a exigências de caráter social e organizativo ou necessidade de transparência. Tais exigências - completa – não devem ser minimizadas ou esquecidas, mas o fundamento da prestação de contas deve ser procurado na natureza própria da Igreja como mistério de comunhão”. Apoiada na natureza comunional toda a ação da Igreja faz sentido: mesmo uma ação marcada claramente por exigências de caráter social como pode parecer a prestação de contas, é preciso que seja reconduzida à própria natureza da Igreja, ou seja, à sua dimensão comunional”. “E o que isso pode significar no nosso âmbito?”, pergunta-se a doutora Ghisoni. “Significa falar abertamente dos abusos”.

“Tomar consciência do fenômeno e assumir a própria responsabilidade não é uma fixação não é uma ação inquisitória para satisfazer simples exigências sociais. Mas uma exigência que nasce da própria natureza da Igreja como mistério de comunhão, fundado na Trindade, como Povo de Deus a caminho, que não evita, mas enfrenta, sempre com renovada consciência comunional, também os desafios ligados aos abusos ocorridos dentro da Igreja contra os menores que ameaçam e dividem esta comunhão”.

Questões eclesiológicas

Em seguida a doutora Ghisoni detém-se sobre algumas questões eclesiológicas consequentes: “Somente a partir da visão da Igreja como sacramento que manifesta o mistério da comunhão trinitária, é possível compreender corretamente a variedade dos carismas, dos dons e ministérios da Igreja, a variedade dos papéis e das funções dentro do Povo de Deus”. Seguindo esta temática, a professora fala sobre a relação entre o Bispo e o presbítero:

“Uma correta relação entre o Bispo e presbítero leva a uma assunção real do ponto de vista material e espiritual, dos sacerdotes por parte do Bispo, sobre o qual cabe em primeiro lugar a responsabilidade da sua santidade”

Communio que constitui a Igreja

Ainda na visão de Igreja comunhão, Povo de Deus a caminho, uma nota a ser mencionada é a exigência de “interação entre os vários carismas e ministérios”, evidencia-se a partir desta communio, “uma necessária contribuição diversificada de todos, não para reclamar o protagonismo de alguém, mas para tornar visível a riqueza multiforme da Igreja no respeito da individualidade de cada um, com a pretensão de que o carisma da síntese seja a síntese dos carismas”.

A professora afirma: “É o fundamento comunional da Igreja que nos indica o caminho e o método, neste caso de um dinamismo de envolvimento de todo o Povo de Deus que comporta: viver, caminhar juntos, a sinodalidade como processo partilhado, na qual cada um tem sua parte, responsabilidades diversificadas, mas onde todos continuem a ser uma única Igreja”.

“Voltar à natureza comunional da Igreja , onde se realizam as diversidades de carismas e ministérios não significa redução mas comporta riqueza e força, ajuda a encontrar as razões para evitar slogans extremos e improdutivos”.

Pontos práticos

Ao falar sobre os pontos concretos a serem sugeridos, a professora inicia recordando a importância de conhecer e estudar práticas já aplicadas e eficazes promovidas em alguns contextos eclesiais.

Sobre as diretrizes nacionais a serem seguidas sugere “um capítulo específico que determine motivos e procedimentos para prestação de contas, para que os Bispos e os Superiores religiosos estabeleçam um procedimento de verificação ordinária”. Em seguida apresenta as possibilidades de prestação de contas entre todos os envolvidos nos casos que possam ocorrer, “mas quanto ao Bispo”, pergunta-se a professora, “a quem deve prestar contas?” e continua “Determinar uma realidade de responsabilização não o enfraquece na sua autoridade, ao contrário, o valoriza como pastor de um rebanho, que dentro de sua própria função não está separado do povo para o qual foi chamado a dar a vida”.

Depois a doutora, sugere que no território de cada Conferência Episcopal sejam criadas comissões consultivas independentes para aconselhar e assistir os Bispos e Superiores religiosos e promover um nível uniformizado de responsabilidade nas várias dioceses.

Também foram sugeridas a consideração de criar uma sede central para promover a formação destes organismos com uma identidade propriamente eclesial; a revisão da atual normativa sobre o segredo pontifício, evitando a ideia de que o segredo seja utilizado para esconder problemas ao invés de proteger os bens que estão em jogo; e por fim a importância de afinar critérios para uma correta comunicação combinada com a confidencialidade.

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22 fevereiro 2019, 16:40