Vista aérea de toras empilhadas no parque de toras da Zona Econômica Especial do Gabão, em Nkok, Gabão, 12 de outubro de 2021. (REUTERS / Christophe Van Der Perre) Vista aérea de toras empilhadas no parque de toras da Zona Econômica Especial do Gabão, em Nkok, Gabão, 12 de outubro de 2021. (REUTERS / Christophe Van Der Perre) 

Da COP26, a intenção de zerar desmatamento até 2030

Uma decisão importante para proteger e restaurar os pulmões verdes do planeta foi concordada por mais de 100 países, que se comprometeram em destinar para tal um montante de 19,2 bilhões de euros. Coalition for Rainforest: agora o compromisso é passar das declarações aos fatos

Marine Henriot - Glasgow e Gabriella Ceraso - Cidade do Vaticano

Uma declaração conjunta de valor histórico foi tomada no segundo dia de trabalhos em Glasgow e que diz respeito ao compromisso de salvaguardar o patrimônio florestal mundial até 2030 da exploração indiscriminada.

Mais de uma centena de líderes mundiais, que lideram os países que detém cerca de 86% das florestas do mundo, se comprometeram em deter o desmatamento colocando sobre a mesa a intenção de assumir compromissos financeiros, inclusive privados, no valor de 19,2 bilhões de euros. O acordo também inclui ações conjuntas para a restauração de ecossistemas severamente ameaçados pelo desmatamento e para o apoio também do ponto de vista financeiro às comunidades indígenas que deles fazem parte.

 

Entre os signatários também Brasil, Rússia, China, Colômbia, Indonésia, Austrália, Costa Rica. A União Europeia se comprometeu com um bilhão e com a promessa de uma regulamentação para combater o desmatamento. O presidente estadunidense Joe Biden anunciou que vai pedir ao Congresso que aloque nove bilhões até 2030. O primeiro-ministro britânico Boris Johnson definiu o acordo sobre o desmatamento como fundamental para o objetivo global de limitar o aumento da temperatura a 1,5°C, o mais ambicioso do Acordo de Paris.

O compromisso inclui ainda o plantio de pelo menos um trilhão de novas árvores, também até 2030, essenciais para a absorção de dióxido de carbono e para conter as mudanças climáticas. Governos de 28 países também trabalharão para remover o desmatamento do comércio global de alimentos e outros produtos agrícolas, como óleo de palma, soja e cacau.

Satisfação mas também cautela dos observadores presentes em Glasgow. Entre eles Federica Bietta, diretora-geral da Coalition for Rainforest, uma ONG comprometida junto aos governos, comunidades e povos tropicais para gerenciar com responsabilidade suas florestas tropicais:

Qual foi a primeira reação a essas declarações de entendimento sobre a questão do desmatamento?

Certamente, qualquer declaração que traga as florestas para o primeiro plano após o esquecimento desses anos em que se acreditava que a tecnologia salvaria o mundo é bem-vinda. Mas se isso é suficiente, não sei. Há anos que trabalhamos nesta questão e tememos que esta seja uma das tantas declarações, que depois não se concretizam. Um compromisso assumido, uma declaração clara, 12 bilhões de dólares em cima da mesa, mas sem uma orientação clara sobre como usá-los, com quais mecanismos. Portanto, é nosso dever agora trabalhar arduamente neste sentido.

 

De fato, estamos diante de uma declaração que os países podem assinar, mas depois não levar em consideração ... é este o temor?

A Declaração de Nova York é um precedente neste sentido: é por isso que estamos trabalhando em mecanismos de implementação, especialmente no que se refere a implementações que salvem as florestas. Já existe um artigo sobre isso no Acordo de Paris que inclui todas as florestas e se aplica aos países em desenvolvimento e a ideia é que com esse mecanismo possamos realmente reduzir as emissões, o desmatamento e aumentar o plantio. Também é importante uma análise que realizamos sobre os custos de oportunidade dos países. Calculamos que serão necessários mais de US$ 100 bilhões anuais para reduzir o desmatamento global nos próximos dez anos. Estamos falando de um trilhão de dólares. É importante entender isso: os países em desenvolvimento não cortam a floresta por prazer, é uma grande dificuldade, mas cortam porque tem um valor econômico e no momento esse valor é perverso. Ou seja, se corta e depois plantam café, chocolate ou criam fazendas, ganham dinheiro e isso não está bem. É necessário que o preço seja adequado ao valor e que convenha às comunidades que utilizam a floresta como renda. Porque se eles tiverem uma alternativa para se manter, eles o farão. Os meios estão aí, foram decididos em Paris, só é preciso implementá-los e dar apoio financeiro.

Por que as florestas são tão importantes contra as mudanças climáticas, especialmente as florestas tropicais?

Essas florestas conseguem reter um terço do carbono existente. Portanto, precisamos parar o desmatamento e plantar mais. Além disso, essas florestas tropicais, ao contrário do que acontece no Ocidente, onde ao perderem suas folhas perdem a capacidade de reter dióxido de carbono, ao longo do ano mantêm sua capacidade de proteger o ar que respiramos intacto. O outro objetivo, que temos globalmente, é deter o aumento das temperaturas: caso contrário, já estamos vendo os efeitos catastróficos de eventos em todo o planeta. E seria cada vez pior. Não podendo parar tudo de imediato, as extrações, as emissões, e não tendo experiência suficiente com energias alternativas, o que podemos fazer agora é parar o desmatamento e sobretudo garantir que esta ação seja plausível, uma oportunidade para quem a realiza, seja conveniente em termos de custos para aqueles que delas e com as florestas vivem.

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03 novembro 2021, 07:00