A área atacada está em emergência desde 2017, devido à violência e guerra civil A área atacada está em emergência desde 2017, devido à violência e guerra civil

Níger: pelo menos 100 pessoas morrem no pior massacre de civis por grupos armados

É o que descrevem as autoridades sobre o massacre que aconteceu no sábado (2), na fronteira com o Mali. Um ataque planejado militarmente, que ainda não foi reivindicado, mas que os observadores não hesitam em atribuir aos terroristas islâmicos. Segundo um jornalista da agência de notícias Fides, do Vaticano, o massacre tem raízes em dinâmicas locais e grupos internacionais.

Fausta Speranza e Andressa Collet - Vatican News

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Entre o Saara e o Sahel, em um mundo sem fronteiras, apesar da presença de tropas internacionais. Pelo menos para os jihadistas que desta vez atingiram duas aldeias do Níger na região sudoeste de Tillabéri, num deserto entre o Mali e Burkina Faso. As aldeias de Tchombangou e Zaroumdareye, em plena luz do dia do último sábado (2), viram a violência chegar através de 100 motos: homens armados - vindos do Mali - mataram dezenas de pessoas que corriam para as suas casas: até esta segunda-feira (4) o balanço era de pelo menos 100 vítimas. E pensar que, justamente por razões de segurança, as motos são proibidas naquela região.

Um terror, aquele semeado pelo ataque, que durante anos acompanha o tráfico de seres humanos, de armas e de drogas entre o Mali, o Níger e Burkina Faso. Em 2019, foram registradas cerca de 4 mil mortes apenas por atos de terrorismo, de acordo com uma estimativa da ONU. A violência é tão generalizada quanto a instabilidade política e as más condições de vida: os feridos do último ataque foram levados para dois hospitais, distantes mais de 100 Km de distância.

Em meio às eleições presidenciais

A ameaça acontece sobre um país em mudança política. O Níger começou a contar nestes dias os votos do primeiro turno das eleições presidenciais realizadas em 27 de dezembro, o que poderia trazer ao país a primeira transição democrática de poder desde a independência da França em 1960. Quase 7,5 milhões de nigerianos votaram para escolher um sucessor do presidente Mahamadou Issoufou, que se demitiu após dois mandatos de cinco anos à frente do país de cerca de 23 milhões de pessoas. Os resultados são esperados em 5 dias e pode levar duas semanas para que o Tribunal Constitucional oficialize o resultado. Em seguida, será realizado o segundo turno da votação.

Uma "cascata de instabilidade", afirma jornalista

Para poder compreender as dinâmicas que vão além do episódio de derramamento de sangue e que atravessam toda a região, o Vatican News entrevistou Luca Mainoldi, responsável pela África da agência de notícias Fides, do Vaticano. Ele primeiramente enfatiza que, para os terroristas, o período eleitoral é um fator de amplificação dos seus gestos, mas depois recorda se trata de uma área onde velhos e novos interesses são acrescentados.

O jornalista lembra as conexões territoriais entre Mali, Níger e Burkina Faso em particular, mas também recorda que as revoltas em Camarões ou a violência na República Centro-Africana não estão muito distantes. Os protagonistas dessa história - que infelizmente se repete nessa região - são grupos de milicianos locais que estão ligados de várias maneiras a grupos internacionais. Às vezes, explica Mainoldi, "se trata de uma espécie de marca, uma marca internacional que alguns grupos assumem para confrontar outros. Na verdade, trata-se de uma vasta área onde o terrorismo administra o tráfico com interesses locais, mas a isso se sobrepõe o plano de interesses geopolíticos em que também entram as dinâmicas externas de poder”.

Na entrevista, o jornalista também sugere voltar atrás para entender como a instabilidade política e o conflito vividos no Mali há algum tempo tenham provocado consequências nos outros países, como se a violência contida pelo menos de certa forma com a intervenção francesa tivesse sido "transbordada" para os territórios vizinhos. Mas Mainoldi nos convida a dar mais um passo atrás para lembrar como o fim do regime de Gaddafi, além das muitas outras considerações que poderiam ser feitas, tenha contribuído para desestabilizar a região do norte da África e do Sahel. Gaddafi, de fato, “à sua maneira, mantinha um certo equilíbrio que também assegurava a um ou a outro, dependendo das circunstâncias, armas ou apoio. Podemos discutir sobre o seu papel, mas sem dúvida a saída de cena de Gaddafi causou uma cascata de instabilidade”.

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04 janeiro 2021, 14:04