Afresco na igreja dos Santos Vicente e Atanásio na Fontana di Trevi Afresco na igreja dos Santos Vicente e Atanásio na Fontana di Trevi  A história

Deus mora em Roma?

A história de dois ucranianos que descobriram Deus e eles mesmos na cidade de Roma

Natalia Kindrativ e Iryna Kohut

Viktoria: de nenhuma religião ao exército

O pai de Viktoria era comunista. Por esta razão ela cresceu sem religião. “Os meus pais não me ensinaram a rezar”, recorda. “Quando fui trabalhar em uma fábrica, uma amiga me deu uma carta com as palavras do ‘Pai Nosso’ e me aconselhou a lê-la antes de dormir. Era a única oração que conhecia”.

Em 1955 Viktoria deixou a fábrica e entrou no exército. Tornou-se oficial e a sua tarefa era a de impedir a entrada de pessoas não autorizadas na base militar. Mas a sua voz não foi suficientemente “autoritária”, para ela foi difícil e estressante se adaptar ao estilo da vida militar.

Viktoria com seu ícone preferido
Viktoria com seu ícone preferido

Maksym: do exército à religião

O tio de Maksym é um coronel, comanda o regimento de helicópteros. Por isso Maksym sente-se bem no exército, gosta do trabalho. “Quando me perguntaram o que eu queria fazer – disse – respondi que queria voar como meu tio”. “Mas os meus pais estavam tão assustados que me convenceram a ir a qualquer lugar desde que não trabalhasse na aviação”.

Por isso Maksym entrou no departamento de segurança da Artilharia. No seu quarto ano de estudos começou a fazer amizade com os capelães militares. “Os capelães são pessoas muito interessantes”, revela. “Costumava ir com um deles fazer visitas ao orfanato. Era como encher os pulmões de ar puro fora do duro regime militar”. Para Masksym chegou um momento de profunda descoberta quando assistiu pela primeira vez uma liturgia na igreja. “Era muito profundo e tocante. Não entendia o que se dizia, mas fiquei fascinado e impressionado”.

 Maksym olha para a Basílica de São Pedro
Maksym olha para a Basílica de São Pedro

Viktoria: o caminho para Roma

No ano 2000 Viktoria chega a Roma. Na Ucrânia deixou sua filha com a avó. Viktoria não fala italiano, mas precisa de dinheiro para mandar Katerina ao colégio. Em Roma encontra Maria, que lhe sugere trazer sua filha para a Itália. Katerina vem ao encontro da mãe, mas as coisas não funcionam como previsto. “No início não queria ficar aqui”, conta Viktoria. “Não foi aceita na escola. Faltavam documentos”. Mãe e filha começam a trabalhar como baby-sitter para duas famílias diferentes. Suas vidas se separam.

“Quando cheguei em Roma, Maria deu-me um livro de orações que comecei a ler”, recorda Viktoria. “Gostava muito principalmente da oração para as crianças e a rezava todas as noites”. Quando tinha um fim de semana livre, Viktoria ia visitar a Basílica de Santa Maria Maior e ali ficava rezando por muitas horas. Suas orações são sempre para sua filha Katerina.

Viktoria na sua casa em Roma
Viktoria na sua casa em Roma

 

Maksym: caminho rumo ao sacerdócio

Também Maksym reza. Para ele rezar é uma novidade. Reza principalmente para entender o que fazer da sua vida. Não tem mais certeza de querer voltar ao exército. Por fim toma uma decisão importante: confessa-se e recebe a comunhão pela primeira vez.

“Recordo o momento que decidi entrar no seminário. Foi um choque para os meus parentes meus comandantes e amigos”. “Senti-me muito feliz e em paz”, conta a nós. “Entrei em uma relação cada vez mais profunda com Deus. Foi uma profunda conversão pessoal”. Depois do “fechado mundo militar” segundo a sua opinião, Maksym diz que se sente livre: “Consegui crescer, podia fazer uma escolha”. E no seminário descobre a psicologia. “Me interessava porque me dava uma compreensão melhor de mim mesmo, a oportunidade de reconhecer espiritualmente a minha vocação”.

Maksym no Pontifício Colégio Santo Atanásio em Roma
Maksym no Pontifício Colégio Santo Atanásio em Roma

Viktoria: encontrar uma casa longe de casa

Com a ajuda de Maria, Viktoria e sua filha começam ir à igreja todos os domingos. Frequentam a paróquia ucraniana no centro de Roma, Nossa Senhora dos Montes. Ali encontram muitos membros da diáspora ucraniana na cidade: podem conversar, compartilhar notícias de casa, festejar juntos e até mesmo participar dos “vertepes”, uma forma tipicamente ucraniana de teatro de marionetes encenado no Natal.

“Os nossos parentes estão longe” diz Viktoria, “portanto é a comunidade paroquial que nos mantém unidos. No Natal preparamos uma ceia ucraniana para 20-30 pessoas juntos na mesma casa”. Há muitos ucranianos que vivem e trabalham em Roma, que conseguiram até mesmo uma audiência com o Papa. Viktoria nos mostra com orgulho a fotografia do encontro com Francisco.

A foto de Viktoria com o Papa Francisco
A foto de Viktoria com o Papa Francisco

Maksym: encontrar uma vocação na vocação

Maksym não queria ser logo ordenado sacerdote. Ainda estava muito fascinado pela psicologia: uma vocação na sua vocação. Estudou na Pontifícia Universidade Salesiana de Roma e morou no Pontifício Colégio Grego de Santo Atanásio. “Foi uma ocasião para estudar em uma universidade na qual há muitas nacionalidades”, revela. Na Ucrânia Maksym tinha conhecido apenas a Igreja greco-católica ucraniana. “Depois encontrei a Igreja romana e a minha visão espiritual ampliou-se. Por exemplo, vi uma Igreja aberta às pessoas, uma Igreja acessível”.

Maksym considera que as disciplinas teológicas podem ser muito teóricas e filosóficas. Na sua opinião a psicologia é diversa, é muito prática, toca a “realidade psicoespiritual” das pessoas. “A psicologia abre a porta a pessoas que não estão na Igreja e que têm dificuldade na vida”, continua. “Fornece instrumentos de conhecimentos e abordagens para comunicar com eles”. Maksym acredita que a tecnologia e a psicologia possam ser combinadas de modo prático. Por isso pretende exercer contemporaneamente ambas as vocações “para se dedicar à psicoterapia como terapeuta, e na Igreja como sacerdote”. Disse que teve a oportunidade de encontrar em Roma pessoas que conseguem combinar ambas as coisas com sucesso.

Maksym no Pontifício Colégio de Santo Atanásio em Roma
Maksym no Pontifício Colégio de Santo Atanásio em Roma

Viktoria: o poder da oração

As orações de Viktoria pela sua filha foram ouvidas. Katerina criou novas amizades e descobriu uma nova paixão: as artes marciais. Chegou a faixa preta em Taekwondo, e hoje tem um curso para crianças e pretende abrir novas turmas em breve. Katerina graduou-se me psicologia na Universidade Católica de Roma e na primeira página da sua tese escreve: “Mãe, conseguimos juntas!”. Viktoria tem convicção de ter descoberto a fé em Roma. As pessoas que encontrou a ajudaram a se aproximar de sua filha e a Deus. Mas no final é o poder da oração que faz a diferença. “acredito que a oração seja uma grande força”, conclui Viktoria. “Quando se reza, Deus escuta”.

Maksym: viver com Deus

O mesmo sentimento tem Maksym que acredita que Roma tenha influenciado muito na sua vocação. “Durante meus estudos comecei a me sentir mais entusiasmado na minha busca pessoal”, diz. “Roma me ajudou a desenvolver ulteriormente a minha verdadeira vocação”.

Maksym considera também que foi em Roma que descobriu seus valores fundamentais: “para viver com Deus… como pessoa”.

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25 setembro 2019, 08:00