Slogan pedindo democracia escrito em uma rua de Yangon Slogan pedindo democracia escrito em uma rua de Yangon 

Cardeal Bo acredita que "um novo Mianmar é possível" e convida a rezar pela conversão dos militares

“Hoje a dor nos uniu em uma única humanidade, foram necessários setenta anos, mas aconteceu”, demonstrando que “um novo Mianmar de paz e justiça não é impossível”, mas “somente saberemos escutar Jesus", "se tivermos fé" na construção desta paz e reconciliação, disse o arcebispo de Yangon no último domingo, convidando os fiéis a "um período de intensa oração" pelas vítimas, pelos desaparecidos, por aqueles que estão na prisão, pelos deslocados e pelos que perderam tudo, mas também pelos que matam, incluindo os militares.

Vatican News

Um grito de dor pelo sofrimento infligido pela repressão sangrenta da junta militar birmanesa, acompanhado por um convite aos birmaneses para não perderem a fé e a esperança na ajuda de Deus para o retorno da paz ao país, foi lançado no último domingo pelo arcebispo de Yangon e presidente da Conferência Episcopal de Mianmar, cardeal Charles Maung Bo, ao celebrar a Santa Missa na capital birmanesa.

Quase cinco meses após o golpe de Estado de 1º de fevereiro que depôs Aung San Suu Kyi, o regime militar endurece sempre mais a repressão, atacando igrejas e outros locais de culto e também prendendo sacerdotes, sob o pretexto de suposta cumplicidade com os guerrilheiros que pegaram em armas. Uma escalada que levou o Papa Francisco a fazer uma nova intervenção pelo país no Angelus do último domingo, unindo-se ao apelo dos bispos de Mianmar pela abertura de corredores humanitários aos deslocados e para que as igrejas, pagodes, mosteiros, mesquitas, templos, bem como escolas e hospitais sejam respeitados "como locais neutros de refúgio".

 

Na homilia dominical, o purpurado birmanês voltou a falar dos sofrimentos vividos pela população como uma “Via Sacra”, em particular pelos habitantes de Loikaw e Mindat, palco dos recentes ataques sangrentos do exército. "Sentimos a dor dessas pessoas inocentes, suas lágrimas, sua sensação de abandono", disse o cardeal Bo.

Recordando o Evangelho do domingo sobre a tempestade acalmada por Jesus, o arcebispo de Yangon observou como a tentação neste momento de sofrimento é a de perder a fé e dar espaço ao desespero. “Mas quando se perde a esperança, perdemos nossa humanidade”, alertou.

“Como na alegria, também o nosso sofrimento nos chama a afirmar nossa humanidade interligada. A resposta à dor e à destruição é, portanto, a partilha da fé em Deus e a afirmação da vida, “também por aqueles que a tiram”.

Citando as palavras de São Paulo aos Coríntios, o cardeal Bo destacou em seguida como em Cristo "todo sofrimento pré-anuncia um novo nascimento" e como os sinais desse renascimento são vistos também em Mianmar, "em meio a derramamento de sangue e lágrimas". Um exemplo disso é a "maior compreensão mútua" dos birmaneses e, em particular, do sofrimento das minorias étnicas do país, como os Kachin, Karen, Kayah e Chin.

 

“Hoje a dor nos uniu em uma única humanidade, foram necessários setenta anos, mas aconteceu”, demonstrando que “um novo Mianmar de paz e justiça não é impossível”, disse o presidente dos bispos birmaneses, mas “somente saberemos escutar Jesus", "se tivermos fé" na construção desta paz e reconciliação.

Nesse sentido, o purpurado reiterou que a solução para a violência não pode ser outra violência: “Por setenta anos, as armas ressoaram matando. As armas nunca resolverão os problemas deste país. Só a mudança de coração pode curar esta nação que sofre há muito tempo”, frisou.

Recordando o mandamento de Jesus aos discípulos para amar os inimigos e rezar por aqueles que os perseguem, o cardeal Bo convidou os fiéis para "um período de intensa oração" pelas vítimas, pelos desaparecidos, por aqueles que estão na prisão, pelos deslocados e pelos que perderam tudo, mas também pelos que matam, incluindo os militares.

“Sim, rezemos por cada soldado que empunha uma arma”, afirmou o cardeal. “Rezemos pelo exército e seus líderes. Eles realmente precisam de orações. Seus corações devem amolecer e compreender que a violência não é contra uma nação inimiga, mas contra seu próprio povo. Se o exército afirma ser o protetor da nação, que então proteja cada vida, mesmo a vida daqueles que têm opiniões diferentes”.

Vatican News Service - LZ

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22 junho 2021, 07:00