Visita do Papa Francisco ao Iraque em março de 2021 Visita do Papa Francisco ao Iraque em março de 2021 

Cardeal Sako: seguir o caminho da fraternidade indicada pelo Papa Francisco

É necessário "renunciar ao fundamentalismo em todas as suas formas, que não é um retorno às origens, mas se tornou uma ideologia fanática e extremista", ressalta a nota publicada no site do Patriarcado Caldeu.

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Rejeitar todas as formas de fundamentalismo, educar aos valores da tolerância na família e na escola, promover uma educação religiosa saudável nas mesquitas e igrejas, reformar o sistema jurídico para garantir a todos uma cidadania plena, e oferecer informações corretas, equilibradas e profissionais. Este é o caminho para recuperar a "convivência perdida" e a harmonia que sempre marcou a sociedade iraquiana desde a antiguidade. É o que diz o patriarca de Babilônia dos Caldeus, cardeal Louis Raphael Sako, numa reflexão publicada, na segunda-feira (14/06), no site do Patriarcado.

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Resultado da visita do Papa Francisco

Na nota, o Patriarca Caldeu enfatiza como a convivência e a promoção dos valores de moderação, tolerância e respeito não devem ser reduzidos a meros "slogans", mas são o resultado de um processo educacional e institucional, lembrando que no Iraque, berço de antigas civilizações mesopotâmicas, árabes, curdos, turcomenos, muçulmanos, cristãos, sabeus e yazidis e outras minorias conviveram pacificamente no passado "porque sentiam que pertenciam a uma única terra e tinham laços de parentesco, língua e fé, não obstante a diferença de religião".  "Hoje", observa, "os iraquianos lamentam aqueles tempos, porque sentem que a mentalidade de cotas, a exclusão religiosa, sectária e étnica e o caos político destruíram sua sociedade e comprometeram o futuro de seu país, e gostariam de recuperar essa convivência perdida.

Para isso, o cardeal Sako convida a "aproveitar" o feliz resultado da visita do Papa Francisco ao Iraque em março passado. "Os seus discursos sobre a unidade dos irmãos na diversidade" - diz ele -, "os apelos pela paz e a não matar em nome da religião, que se acrescentam ao Documento sobre a Fraternidade Humana assinado em 4 de fevereiro de 2019, em Abu Dhabi, com o Imame de Al-Azhar, Ahmed Al-Tayeb, mas também as palavras do Grão Aiatolá, Ali al-Sistani, durante o histórico encontro de 6 de março, são a base a partir da qual se reconstruir esta convivência em harmonia na sociedade iraquiana".

Para que isso seja possível, é necessário "renunciar ao fundamentalismo em todas as suas formas, que não é um retorno às origens, mas se tornou uma ideologia fanática e extremista", ressalta a nota. "O fundamentalismo usa a religião como cobertura para interesses políticos e financeiros, rejeita o pluralismo e incita a eliminação do outro. É algo "estranho à natureza dos iraquianos e de sua civilização, caracterizada pelo pluralismo e pela aceitação respeitosa do outro". É por isso que deve ser combatido através de uma mensagem religiosa de sinal contrário. É fundamental neste sentido, "o papel da família e da escola na educação dos jovens para a tolerância, ao respeito pela fé dos outros e aos valores da liberdade, justiça e igualdade estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos".

Evidenciar a riqueza da diversidade

Também é importante o papel dos meios de comunicação, chamados a oferecer informações equilibradas, corretas e profissionais. O cardeal sublinha a importância central de uma "educação espiritual saudável nas mesquitas e igrejas": os líderes religiosos devem evidenciar a riqueza da diversidade religiosa, social e cultural da sociedade iraquiana. "Há versículos da Bíblia e do Alcorão que apoiam esta visão de convivência, tolerância, amor e solidariedade."

À luz do caráter multiétnico e multi-religioso da sociedade iraquiana, o patriarca caldeu volta a pedir uma reforma da legislação do país, com particular referência ao status pessoal e à liberdade de crença, a fim de garantir a cidadania plena e efetiva de todos os iraquianos, independentemente de sua pertença religiosa, étnica e cultural. Na verdade, a nova Constituição de 2005 garante formalmente o respeito à liberdade de fé, mas o Islã continua sendo uma religião privilegiada em detrimento das minorias, que de fato são discriminadas, inclusive no acesso a cargos públicos.

Vatican News Sevice - LZ/MJ

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15 junho 2021, 15:49