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Cura d'Ars: santo e pároco de todos os sacerdotes do mundo

Modelo de vida sacerdotal, São João Maria Vianney é lembrado hoje pela Igreja. A sua missão como pastor foi dedicada à salvação das almas. Passava 16 horas por dia no confessionário.

Andrea De Angelis/Mariangela Jaguraba – Vatican News

Patrono de todos os presbíteros e párocos, modelo para cada sacerdote e santo há quase um século. De fato, o centenário de sua canonização se realizará em 2025, ano do próximo Jubileu. Nesta terça-feira (04/08), a Igreja recorda o Cura d'Ars, São João Maria Vianney, nos 161 anos de sua morte. No ano passado, em 4 de agosto, e inspirado pelo santo, o Papa Francisco escreveu uma carta a todos os sacerdotes do mundo, mostrando-lhes proximidade, encorajamento, apoio e conforto. “Como o Cura d’Ars, labutais na «trincheira», aguentais o peso do dia e do calor e, sujeitos a uma infinidade de situações, as enfrentais diariamente e sem vos dar ares de importância para que o povo de Deus seja cuidado e acompanhado”, ressalta Francisco na carta. Através dos sacerdotes de hoje, o pontífice revivia a figura do Cura do final do século XVIII.

Cura d'Ars: perseverança e santidade

Ele declarou que “a amava antes de conhecê-la”, definindo-a de “o afeto mais antigo”, invocando Maria diante de uma imagem de madeira bruta, dada a ele por sua mãe que levava o nome da Virgem Santa. João Maria Vianney, o quarto de seis filhos, nasceu no mês dedicado à Mãe de Deus, em 8 de maio de 1786, em Dardilly, uma pequena cidade francesa perto de Lyon. Passou sua infância junto com sua família trabalhando no campo e já em tenra idade costumava rezar, fazendo pequenos intervalos durante o trabalho. Foi sua irmã mais nova, Margarida, que revelou como sua vocação, amadurecida após receber a Eucaristia, fosse tangível desde pequeno. Foram, porém, anos difíceis para a Igreja francesa, os anos da Revolução. As missas eram celebradas clandestinamente, como também foi o caso da Primeira Comunhão do pequeno João Maria. A sua vocação, no entanto, não conhecia nenhum fechamento: apesar dos receios de seu pai sobre a difícil situação econômica, política e social, Vianney foi ordenado sacerdote quando ainda não tinha trinta anos, em 13 de agosto de 1815. O seu caminho foi particularmente rico de insídias, o que exigiu grande perseverança.

A figura de pe. Balley

A vida de João Maria está ligada ao pe. Carlo Balley, que o hospedou em casa junto com outros jovens ansiosos para seguir o caminho do sacerdócio, embora a situação fosse particularmente adversa no início do século XIX na França. Depois de uma recusa inicial, pe. Balley, tendo encontrado o jovem, repensou. Quem sabe se naquele dia ele imaginou que João Maria se tornaria seu vigário. Mas havia muitas provações a superar, Balley foi chamado às armas e involuntariamente se tornou um desertor (foi socorrido por outros desertores enquanto estava com a saúde precária). Em 1810, após a anistia concedida pelo imperador, ele ficou livre.

Finalmente sacerdote

Em janeiro do ano seguinte, retornou a Dardilly. Em 1812, deixou a reitoria do pe. Balley para ir ao seminário de Verrières, onde encontrou muitas dificuldades com o latim. A perseverança, mais uma vez, não faltou e assim, três anos depois, aos 29 anos, foi ordenado sacerdote. Depois da primeira missa, celebrada em 14 de agosto na capela do Seminário Maior, João Maria voltou a Ecully, onde foi acolhido por um entusiasmado pe. Balley e recebeu seu primeiro mandato: ajudar o padre espiritual como vigário paroquial. Foram dois anos ricos de experiência para o jovem sacerdote, que terminaram com um doloroso adeus a seu guia espiritual: foi o próprio João Maria quem deu a extrema unção a pe. Balley, uma semana antes do Santo Natal. Menos de dois meses depois, a vida do pe. Vianney mudou. Para sempre.

O Cura d'Ars

Ars: três cartas, trinta quilômetros, quarenta anos de sacerdócio. John Maria foi transferido a Ars, não muito distante de Lyon, em fevereiro de 1818 e lá permaneceu até o final de seus dias. O novo pároco chegou à pequena cidade a pé, percorrendo trinta quilômetros que o separavam de Ecully na companhia da viúva Bibost, que tinha ajudado ele durante seus anos no seminário. Não conhecendo bem o caminho, o cura pediu indicação a um jovem pastor, Antônio Givre, e à sua resposta pronunciou a frase que ainda está gravada no monumento que recorda este encontro: “Você me indicou o caminho para Ars, eu lhe ensinarei o caminho para o Paraíso.” Essa estrada foi ensinada por Vianney a centenas de pessoas, depois se tornou milhares ao longo dos anos, quando Ars se tornou meta de peregrinação.

Sacerdote de rua

Em mais de quarenta anos de sacerdócio, o seu compromisso foi particularmente ligado ao Catecismo e à Penitência. Dedicou muito tempo à formação dos jovens e ao confessionário. Ele também foi um “sacerdote de rua”: são famosas as suas batalhas contra o alcoolismo, que levaram a resultados concretos, às vezes surpreendentes. Morreu em 1859. Proclamado Beato pelo Papa Pio X, em 1905. Foi canonizado por Pio XI vinte anos depois, que em 1929 o declarou patrono dos párocos. No centenário de sua morte, em 1º de agosto de 1959, o Papa João XXIII dedicou-lhe a encíclica Sacerdotii Nostri Primordia, nomeando-o modelo para os sacerdotes. Em 6 de outubro de 1986, o Papa João Paulo II foi em peregrinação a Ars e recordou que “os santos são sempre as maravilhas de Deus, a mensagem incessante que Deus envia a todos nós porque todos somos chamados à santidade”. Em 16 de junho de 2009, o Papa Bento XVI publicou a Carta para a Convocação do Ano Sacerdotal por ocasião dos 150 anos da morte de São João Maria Vianney.

A carta do Papa Francisco

O Papa Francisco agradeceu e encorajou todos os sacerdotes com a ajuda de quatro palavras: tribulação, gratidão, ardor e louvor. “Dirijo-me a cada um de vós que tantas vezes, de forma imperceptível e sacrificada, no cansaço ou na fadiga, na doença ou na desolação, assumis a missão como um serviço a Deus e ao seu povo e, mesmo com todas as dificuldades do caminho, escreveis as páginas mais belas da vida sacerdotal”, escreveu o Papa um ano atrás. A carta endereçada aos sacerdotes por ocasião do 160º aniversário da morte do Cura d'Ars foi aberta com um olhar sobre o escândalo dos abusos, do “clamor, muitas vezes silencioso e silenciado, de irmãos nossos, vítimas de abusos de poder, de consciência e sexuais por parte de ministros ordenados”. “Sem negar nem ignorar o dano causado (...) seria injusto não reconhecer que tantos sacerdotes (...) oferecem tudo o que são e têm pelo bem dos outros”.

Gratidão

Após o convite a “não desanimar”, a segunda palavra, gratidão, que o Santo Padre chama de “uma arma poderosa”. Francisco recorda que “a vocação, mais que uma nossa escolha, é uma resposta a um chamado gratuito do Senhor”. O terceiro substantivo é “ardor” e a sugestão do Papa é “perguntar-se sempre como enfrentamos a dor”, advertindo a não cair na acédia, “naquela tristeza que paralisa a coragem de prosseguir no trabalho, na oração”, que “torna estéril todas as tentativas de transformação e conversão, espalhando ressentimento e aversão”. Por fim, o  “louvor”, porque “contemplar Maria é voltar a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto”, tal como São João Maria Vianney sabia fazer, desde criança.

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04 agosto 2020, 11:38