A Venerável Sílvia Cardoso Ferreira da Silva viveu entre 1882 e 1950 A Venerável Sílvia Cardoso Ferreira da Silva viveu entre 1882 e 1950  

Venerável Sílvia Cardoso, vida e apostolado de uma mulher portuguesa

No âmbito da publicação da Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre a santidade “Alegrai-vos e Exultai”, damos a conhecer a vida, obra e apostolado da Venerável Sílvia Cardoso. Entrevistamos o padre Samuel Guedes, vice-postulador da causa de beatificação.

Rui Saraiva – Porto

O Papa Francisco publicou nesta segunda-feira dia 9 de abril uma Exortação Apostólica sobre a santidade. “Gaudete et Exsultate”, “Alegrai-vos e Exultai” é o nome do documento do Santo Padre. Nele o Papa afirma no número 2 um objetivo “humilde”: “ fazer ressoar mais uma vez o chamamento à santidade, procurando encarná-la no contexto atual, com os seus riscos, desafios e oportunidades, porque o Senhor escolheu cada um de nós «para ser santo e irrepreensível na sua presença, no amor» – escreve o Papa.

Tomando como estímulo esta Exortação de Francisco noticiamos hoje o percurso de uma mulher portuguesa: Sílvia Cardoso Ferreira da Silva viveu entre 1882 e 1950 e o Papa Francisco declarou-a “verdadeiramente heroica na prática das virtudes cristãs” no dia 27 de março de 2013.

A agora Venerável Sílvia Cardoso foi a impulsionadora de várias obras sociais de apoio a crianças, juventude e idosos em Portugal. Uma mulher de fé profunda e atuante na formação de leigos através de uma intensa atividade promotora de retiros espirituais.

Falamos com o padre Samuel Guedes, vice-postulador da causa de beatificação e canonização de Sílvia Cardoso, à margem de uma jornada de espiritualidade reparadora que aconteceu em Paços de Ferreira, na diocese do Porto, em Portugal. Uma jornada de estudo que era, precisamente, sobre a Venerável Sílvia Cardoso e também sobre o Cónego Manuel Formigão, o grande apóstolo de Fátima, que tem também a decorrer um processo de beatificação.

Nas suas declarações, o padre Samuel Guedes começou por recordar a declaração do Santo Padre em 2013 sobre a heroicidade de Sílvia Cardoso, tendo referido o andamento do processo de beatificação e canonização em Roma:

“No dia 27 de março de 2013 o Papa Francisco proclamou o decreto de heroicidade de virtudes da Venerável Sílvia Cardoso. Portanto, a partir desse momento começamos a chamar-lhe Venerável e a trabalhar no sentido de promover a causa o mais possível agora com mais possibilidades pois estamos já com um avanço significativo. Foi por causa disso também que fizemos no dia 3 de abril de 2016, em pleno Ano da Misericórdia e no Dia da Divina Misericórdia, a trasladação dos restos mortais de Sílvia Cardoso do cemitério para a Igreja Paroquial, que foi um acontecimento que deu um impulso grande à causa de beatificação. A partir dessa altura começou a ser muito visitado o seu túmulo, por muitas pessoas dos vários sítios do país por onde ela passou. Também o anterior vice-postulador, o Monsenhor Ângelo Alves, que foi o grande apóstolo da vida da Sílvia Cardoso, grande investigador e historiador, deixou-nos um livro com escritos e testemunhos inéditos: ‘As maravilhas de Deus na vida e no apostolado de Sílvia Cardoso’. E tínhamos também o estudo de um possível milagre na Causa dos Santos. Infelizmente, esse processo está parado porque os peritos entenderam que não tínhamos caminhos para avançar. Em todo o caso chegaram-me já documentos de outra situação que eu estou neste momento a analisar e a ver se tem capacidade para organizarmos um outro processo para estudo na Causa dos Santos.”

Sílvia Cardoso dedicou-se intensamente ao apostolado da caridade e à formação dos leigos percorrendo Portugal de norte a sul. Segundo o vice-postulador da causa de beatificação ela foi uma espécie de “primeira assistente social em Portugal”:

“Eu até costumo dizer que a Sílvia Cardoso foi a primeira assistente social em Portugal. O que é que fazem as nossas assistentes sociais? Olham para o meio, veem o problema, as dificuldades e depois vão arranjar soluções para as dificuldades. Ora ela fazia isso. Fazia isso com os dinheiros próprios da sua família, uma família abastada. Eu diria que ela ‘derreteu’ toda a sua fortuna na ação social.”

O momento inicial fundamental da vida de apostolado da Venerável Sílvia Cardoso foi o da sua consagração. Aconteceu em Tuy, na fronteira entre Portugal e a Espanha, na Galiza, como nos conta o padre Samuel Guedes, acentuando a profunda ligação de Sílvia Cardoso com a mensagem de Fátima:

A 1 de abril de 1917 Sílvia Cardoso fez a sua Consagração ao Sagrado Coração de Jesus e ao Apostolado Cristão na Capela das Irmãs Doroteias em Tuy. E há uma proximidade de datas com o 13 de maio de 1917, a primeira aparição de Nossa Senhora em Fátima. A Sílvia Cardoso quando sabia de algo de anormal ia à procura. Infiltrava-se, metia-se, tinha que saber e, portanto, ela não ficou indiferente a esta proximidade de datas. Ela foi para Fátima, foi ver o que aquilo era. No dia 13 de outubro de 1917 ela estava em Fátima, ela assistiu ao milagre do Sol. Toda esta envolvência de Sílvia Cardoso e a devoção ao Sagrado Coração de Jesus à qual ela juntou depois a devoção ao Imaculado Coração de Maria fez com que ela tivesse uma ligação grande ao fenómeno Fátima. Ela conhecia a família dos pastorinhos, ela alojava em casa dos pastorinhos, ela combinava encontros da ação do apostolado em casa dos pastorinhos. Temos fotografias dela com os pais dos pastorinhos. E depois correspondeu-se com a Lúcia.”

A Venerável Sílvia Cardoso deixa-nos um testemunho de paixão pelos pobres, pela formação dos leigos e pela adoração a Deus – refere o padre Samuel Guedes assinalando o abnegado apostolado de uma mulher que procurava “colocar o seu coração perto do coração de Deus”:

Sílvia Cardoso deixa-nos um testemunho de uma paixão pelos pobres, de uma paixão pela formação dos leigos e de uma paixão pela adoração a Deus. Ela via Deus nas suas próprias obras. O seu processo de beatificação tem cinco mil páginas. Quase dois terços desse processo são escritos pessoais nos quais fazia as suas meditações. E com insistência, com uma espiritualidade profunda, ela tinha a capacidade de colocar o seu coração perto do coração de Deus. E dialogavam os dois corações. Sempre com esta vivência de Deus e a obra. A obra era expressão da beleza de Deus e da ação de Deus na vida dela e na vida daqueles que estavam à sua responsabilidade.”

As pessoas iam fazer retiros para uma casa e ela não dormia. Servia e rezava por elas. E de dia e de noite, tendo oportunidade, ia para junto do Santíssimo. O colar que ela tinha com uma cruz ao peito era rodeado por várias chaves de sacrários. E depois era desarrumada e, muitas vezes, não havia de comer para dar às pessoas que estavam em retiro. “Não se preocupem. Vai aparecer ai. Nosso Senhor vai providenciar” – dizia Sílvia. E daí a pouco batiam à porta e entregavam uma sopa da vizinhança das casas onde ela promovia os retiros e… era assim!

A Venerável Sílvia Cardoso foi uma importante figura do seu tempo tendo exercido “uma forte intervenção na sociedade portuguesa” – afirmou o vice-postulador:

O dia da trasladação dos seus restos mortais para a Igreja Paroquial teve uma celebração com cinco mil pessoas… E estiveram pessoas de todo o país. Ela esteve envolvida em várias obras, não só na criação de casas religiosas, como também em patronatos, como também em obras sociais, e também nos retiros que ela desenvolvia ao longo da sua vida por todo o país. Portanto, há uma forte intervenção na sociedade portuguesa desta mulher Sílvia Cardoso.”

Sílvia Cardoso, praticou com heroicidade as virtudes cristãs – declarou o Papa Francisco em 2013 – sendo hoje uma Venerável Serva de Deus.

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10 abril 2018, 13:14