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O cardeal Parolin com Graça Machel Mandela e o cardeal Gambetti O cardeal Parolin com Graça Machel Mandela e o cardeal Gambetti 

Cardeal Parolin: sem diálogo não se constrói a paz, mas se desencadeia a guerra

O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, abriu os trabalhos da “Mesa pela Paz” do II Encontro Mundial sobre a Fraternidade Humana, em Roma, com cerca de 30 vencedores do Prêmio Nobel: “a guerra atinge a dignidade humana”. A esperança de Graça Machel Mandela: “que daqui possa partir uma mensagem para unir a família humana na fraternidade”. Rigoberta Menchù Tum: “juntos podemos construir uma aliança global”. Neste sábado (11/05), a audiência com o Papa.

Paolo Ondarza - Vatican News

“Embora reafirmando o direito inalienável à autodefesa, a guerra é sempre um fracasso da humanidade como um todo e não apenas das partes individuais envolvidas”. Todas as guerras estão em contradição com a dignidade humana e “não se destinam, por sua natureza, a resolver problemas, mas sim a agravá-los”. Com essas considerações, o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, abriu a "Mesa pela Paz" em Roma, no Palazzo della Cancelleria, no âmbito do II Encontro Mundial sobre a Fraternidade Humana. Com ele, na manhã desta sexta-feira (10/05), cerca de 30 vencedores do Prêmio Nobel da Paz, incluindo Rigoberta Menchù Tum, da Guatemala; Dmitrij Muratov, da Rússia; Tawakkol Karman, do Iêmen; além de personalidades como Machel Mandela, viúva de Nelson Mandela; e o administrador da Nasa, Bill Nelson.

O evento, então, dá início à manifestação #BeHuman, o II Encontro Mundial sobre a Fraternidade Humana, organizado nos dias 10 e 11 de maio pela “Fundação Fratelli tutti”: doze mesas temáticas abertas ao público e algumas delas transmitidas ao vivo via streaming, com a participação de cientistas, economistas, médicos, gestores, trabalhadores, campeões esportivos e cidadãos comuns. Todos juntos para buscar alternativas às guerras e à pobreza, inspirados pelo princípio da fraternidade.

A guerra afeta a dignidade humana

“Deus criou a humanidade para viver em paz e valorizar a criação, não para destruí-la". Ao atingir a dignidade humana e ao se colocar em uma direção diametralmente oposta à criação, a guerra, aponta Parolin, “ataca não apenas a dignidade dos outros, mas também a sua própria”.

A discussão sobre o conceito de uma “guerra justa"

De acordo com o secretário de Estado, hoje “o próprio conceito de ‘guerra justa’, nascido em uma época em que os conflitos eram relativamente limitados em seu escopo, deve ser questionado. Na era contemporânea, com o advento das armas nucleares e das armas de destruição em massa, essa teoria se apresenta como altamente problemática”.

Os trabalhos no Palazzo della Cancelleria, em Roma, na sexta-feira (10/05)
Os trabalhos no Palazzo della Cancelleria, em Roma, na sexta-feira (10/05)

A voz da diplomacia prevalece sobre a das armas

Em seu discurso de saudação, o cardeal faz referência à Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário de 2025 promulgada na quinta-feira (09/05) pelo Papa Francisco e enfatiza que, sem diálogo, não só não se constrói a paz, mas se desencadeia a guerra, que substitui a voz da diplomacia pela das armas. Em seguida, o cardeal cita as três áreas de compromisso identificadas pelo Pontífice para que as sementes da paz possam começar a ser plantadas: remediar as causas da injustiça, liquidar dívidas injustas e insolventes e saciar os famintos.

Pobreza, a grande injustiça do mundo contemporâneo

“A libertação da injustiça promove a liberdade e a dignidade humana” e é fundamental, de acordo com o cardeal, “a proteção da justiça social, especialmente no contexto atual, em que o valor da pessoa está seriamente ameaçado pela tendência generalizada de recorrer exclusivamente aos critérios da utilidade e do ter”. A ausência de justiça social, prossegue o cardeal, é a premissa da pobreza, “uma das maiores injustiças do mundo contemporâneo”, na qual “aqueles que possuem muito são relativamente poucos e aqueles que não possuem quase nada são muitos”. Daí a “falta de educação, que muitas vezes leva à adesão ao extremismo e ao fundamentalismo”.

O primeiro dia de trabalhos do II Encontro Mundial sobre a Fraternidade Humana
O primeiro dia de trabalhos do II Encontro Mundial sobre a Fraternidade Humana

Dívida e fraternidade

Além da pobreza das pessoas, o cardeal cita a dos países que “não conseguem manter-se em dia com a dívida externa”: “Embora reafirmando o princípio de que a dívida contraída deve ser honrada”, segundo Parolin, é necessário “não comprometer o direito fundamental dos povos à subsistência e ao progresso”, redescobrindo a fraternidade entre as nações.

A indústria das armas

Atenção especial deve ser dada à questão das armas: em 2023, os gastos nessa área chegaram a US$ 2.443 bilhões, enquanto a ajuda ao desenvolvimento ficou próxima de US$ 233 bilhões. “As guerras continuam a proliferar porque a indústria de armas, na verdade, sustenta a economia de muitos países”, observa o cardeal, que repete com veemência as palavras de Pio XII: “nada se perde com a paz. Tudo pode ser perdido com a guerra”.

Graça Machel Mandela, viúva de Nelson Mandela
Graça Machel Mandela, viúva de Nelson Mandela

“Devemos fazer tudo o que pudermos para acabar com a guerra, com os conflitos que estão devastando o mundo: na Ucrânia, em Gaza e no Sudão do Sul”, disse Graça Machel Mandela à mídia do Vaticano. “Devemos começar a discutir as causas fundamentais, porque sem tocar nas razões pelas quais um conflito existe, podemos falar de paz, mas o conflito sempre voltará a ocorrer. Minha esperança é que possamos enviar uma mensagem para unir a família humana na fraternidade”.

“Diante de uma crise global em que não há verdadeiro diálogo ou multilateralismo, mas apenas posições de poder”, afirma Rigoberta Menchù Tum: “estamos reunidos e temos uma grande oportunidade. A maioria dos presentes nesta cúpula exerceu liderança espiritual, política ou técnica. Juntos, podemos formar uma aliança global com pessoas comuns, porque a grande maioria da população mundial não toma decisões sobre seu próprio futuro, mas vive com as consequências das decisões de outras pessoas”.

Os participantes da "Mesa da Paz" serão recebidos em audiência pelo Papa Francisco na manhã deste sábado, 11 de maio, e depois pelo presidente da República Italiana, Sergio Mattarella.

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11 maio 2024, 08:02