Encontro de Francisco com o sultão: superar a lógica do conflito de civilizações
Silvonei José – Jerusalém
Terceiro dia da conferência dedicada ao tema "800 anos do encontro entre São Francisco e o Sultão", que se realiza em Jerusalém, na sede do convento de São Salvador da Custódia da Terra Santa. Nestes dias, ocorre uma série de conferências para celebrar o ano jubilar do encontro entre o Pobrezinho de Assis e o Sultão Al-Malik Al-Kamel.
São vários os especialistas que falam através dos documentos sobre a verdade histórica deste evento que ocorreu no Egito para fornecer uma base para as próprias celebrações", como disse o frei Narcyz Klimas, vice-arquivista da Custódia e organizador da conferência. "Pensamos nesta conferência desde o ano passado e a organizamos desde maio", comentou frei Klimas: "Não esperávamos este grande número de participantes, mas é um sinal do interesse e da atualidade dos temas que escolhemos.
Vários os encontros destes dias. Começando com um estudo aprofundado das fontes árabes feita pelo Dr. Bartolomeo Pirone, professor de Línguas e Literatura Árabe, e o estudo das fontes Cruzadas e Ocidentais pelo medievalista Dr. Antonio Musarra.
Ontem houve um aprofundamento do tema através das Fontes Franciscanas, realizado por dom Felice Accrocca, Bispo de Benevento, e um novo aprofundamento do Dr. Musarra sobre a "Translatio Franciscana dos Lugares Santos", que liga Greccio a Belém, o Calvário a La Verna, e um enfoque sobre o Perdão de Assis.
Dom Accrocca em sua palestra afirmou que "a memória do encontro de Francis com o sultão al-Malik al-Kamel foi mediada (e condicionada) ao longo dos séculos, por imagens e não por fontes escritas. O que dizem realmente as fontes de "marca" franciscana sobre aquele encontro, que certamente não passou despercebido e do qual podemos ver um eco evidente nos escritos do próprio Francisco (Regula non bullata XVI)?
O primeiro autor franciscano a referir sobre o encontro foi Tommaso da Celano - explica Dom Accrocca - que próximo da canonização de Francisco (1228-1229) publicou a "Vita beati Francisci". Tommaso escreve que o Santo se apresentou ao sultão sem nenhuma proteção. O sultão o acolheu com honra e o escutou de bom grado, impressionado com sua personalidade, mas cada um permaneceu em sua própria posição.
Segundo ainda dom Accrocca, "diferente, ao invés, é a narração de Boaventura. Ele retomou a "Vita beati Francisci" em vários pontos, mas, todavia, descreveu o Sultão de modo impiedoso, mesmo se, ao longo da narração, parece quase forçado a negar-se a si mesmo; além disso, Boaventura inseriu em seu escrito a dupla proposta de uma "prova de fogo".
O bispo de Benevento afirma que não se pode dizer mais nada sobre isso, mas o que resta, junto com a lição que Francisco tirou dela, é suficiente para que esse encontro nos faça refletir, e nos faça refletir por muito tempo.
Já nesta quarta-feira centrais serão as duas conferências da manhã. A primeira, do cardeal Leonardo Sandri, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, sobre a atualização do significado do encontro entre São Francisco e o Sultão no magistério e nos gestos do Papa Francisco, e a segunda, do Secretário geral da Ordem dos Frades Menores, frei Giovanni Rinaldi, que introduzirá uma atualização para a Ordem dos Frades Menores e sua presença na Terra Santa.
O destaque será a visita e o encontro com Muhammad Ahmad Hussein, Gran Mufti de Jerusalém, dentro dos espaços da Mesquita de Al-Aqsa e depois, à tarde, a celebração do Trânsito de São Francisco, que abrirá as celebrações para a festa do Santo.
O objetivo da conferência em Jerusalém "é comemorar este encontro", comentou o frei Francesco Patton, Custódio da Terra Santa, "mas este não é apenas um objetivo ligado apenas ao olhar para trás, porque este encontro, há 800 anos, torna-se fundamental para superar a lógica do conflito de civilizações". “De modo especial, esta conferência poderia ajudar-nos a atualizar a mensagem do encontro em linha continuativa, de acordo com o que o Papa Francisco propôs para a construção da paz, primeiro no Egito e depois em Marrocos. Este encontro nos recorda que há uma alternativa ao conflito: a lógica do encontro com o coração, o espírito e a atitude fraterna".
Presentes na Terra Santa muitos brasileiros. Entre eles o Frei Vander de Oliveira Souza, de Minas Gerais.
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