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O presidente do Tribunal vaticano, Pigantone, durante audiência no processo pela gestão de fundos da Santa Sé O presidente do Tribunal vaticano, Pigantone, durante audiência no processo pela gestão de fundos da Santa Sé

Processo vaticano, Pignatone: "Mudar método de interrogatórios"

Na trigésima segunda audiência, o presidente do Tribunal vaticano convidou a acusação e a defesa a formularem suas perguntas de forma diferente para não repetir fatos presentes no processo ou longe das acusações. Dois gendarmes e um consultor financeiro foram ouvidos, em meados de novembro poderá ser ouvido o diretor do Ior Mammì

Salvatore Cernuzio – Vatican News

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"Desta forma, não podemos continuar, atingimos o nível de saturação. Deste modo terminaremos em 2070". Foi diante de mais uma pergunta sobre fatos já registrados, que, portanto, não acrescentou nenhuma especificidade ou elementos novos, que o presidente do Tribunal vaticano, Giuseppe Pignatone, proferiu palavras importantes para o futuro do processo acerca da gestão dos fundos da Santa Sé.

Recomendações de Pignatone

A audiência flash de sexta-feira, 21 de outubro - comparada com as anteriores -, foi a 32ª na Sala dos Museus Vaticanos: menos de quatro horas, com o interrogatório de dois gendarmes e um consultor da polícia judiciária. Na metade do interrogatório de um deles, o presidente da Corte afirmou: "O objetivo não é ler as informações já depositadas. A partir da próxima audiência, não permitirei mais esta forma de conduzir os interrogatórios. É uma perda de tempo e não está na lógica e no espírito do Código atual", disse ele, referindo-se ao Código de 1913 que não exige que sejam produzidas provas na sala de audiências. "Na Itália, continuamos assim há anos. O julgamento é complicado, há muitas testemunhas... Permiti a mais ampla abordagem possível para os réus. Tanto o Gabinete do Promotor de Justiça quanto as defesas usaram justamente essa liberdade, nós o fizemos para as primeiras testemunhas, mas francamente não se pode continuar assim. Isto se aplica a todos, até mesmo ao Tribunal".

Segunda parte do interrogatório ao gendarme Antonucci

A audiência de sexta-feira teve a continuação do testemunho de gendarme Gianluigi Antonucci, que foi interrogado na quarta-feira anterior e participou da busca na Diocese de Ozieri, na Sardenha. O contra-interrogatório das partes civis e de defesa centrou-se nas contribuições da Secretaria de Estado para a cooperativa Spes, guiada por Antonino Becciu, irmão do cardeal. As transferências, explicou o gendarme, "foram feitas a partir de uma conta da Secretaria de Estado, mantida no Ior", em nome da Seção de Assuntos Gerais, onde existem outras "44 subcontas" nas quais "transitam somas muito importantes destinadas ao Óbolo de São Pedro".

O financiamento para Spes

Entre as numerosas transferências, também a de 100 mil euros para a Caritas de Ozieri, da qual a Spes teria se beneficiado para projetos de solidariedade, solicitada por Becciu em 13 de junho de 2013. O purpurado também havia pedido um relatório anual a ser enviado por Ozieri sobre as iniciativas sociais, mas, segundo Antonucci, não há registro disto: "Em teoria, a soma não foi gasta". Nem mesmo resulta que a soma tenha sido devolvida.

Durante o interrogatório, a natureza do financiamento foi amplamente questionada. Era para a renovação de uma padaria administrada pela Spes, que foi adquirida em 2004 e depois reformada após um incêndio por volta de 2015. O negócio fazia parte do projeto "Com as mãos dos últimos", para a produção do pão que proporcionava emprego a numerosos jovens, do contrário desempregados. O gendarme reconstruiu toda a história da padaria, chegando também à outra transferência enviada pela Secretaria de Estado a pedido de Becciu: 24 mil euros. Eram para a compra de uma máquina de fazer pão, com um custo total de 98 mil euros mais ICMS. Os valores acabaram no que foi chamado de "conta conjunta", usada tanto pela Caritas como pela Spes.

O advogado Fabio Viglione, defensor de Becciu, perguntou ao gendarme se os bispos Sebastiano Sanguinetti e Corrado Melis, respectivamente, administrador apostólico e bispo de Ozieri, tinham conhecimento desta conta. "Não falamos com os bispos", respondeu a testemunha, explicando que durante as buscas em Ozieri, eles entraram na catedral uma vez durante a missa com a Polícia fiscal e só falaram com o pároco, que entrou em contato com o bispo por telefone. Nenhum bispo foi convocado nas buscas. A defesa de Becciu perguntou porque "não foi considerado necessário ouvir o bispo"; Antonucci respondeu dizendo que não era sua decisão como conduzir as investigações.

Declaração do bispo Melis

Viglione lembrou novamente uma declaração pública feita por dom Melis em 13 de fevereiro de 2021, que, com relação aos 100 mil euros enviados a pedido de Becciu, escreveu que "em mãos", para o projeto a ser apresentado ao Município de Ozieri, eles tinham 500 mil dos 8x1000 da CEI, mais 100 mil da Secretaria de Estado "como contribuição extraordinária", não utilizados "enquanto se aguarda o alcance de uma quantia maior". Segundo o gendarme, "dizer que o dinheiro da Secretaria de Estado ainda está lá é impossível: quando entra em um caldeirão, ele se mistura".

Despesas com a "conta conjunta"

Ainda houve uma bateria de pergunta e resposta entre a defesa de Becciu e o gendarme Antonucci sobre algumas despesas feitas com a conta conjunta, cerca de 109 euros, para roupas, refeições, combustível. O advogado perguntou à testemunha se ele havia verificado que essas despesas eram talvez destinadas aos refugiados assistidos pela Caritas em Ozieri. "Não posso excluí-lo, mas é estranho que certas despesas fossem para migrantes", disse o gendarme.

A respeito desta reconstrução, os advogados do cardeal Becciu, em nota divulgada no final da audiência, apresentaram uma versão diferente, argumentando que as contribuições concedidas pela Secretaria de Estado - como já apontadas pela defesa em audiências anteriores - foram utilizadas para fins caritativos.

Os outros interrogatórios

A audiência ouviu Domenico De Salvo, inspetor adjunto da Gendarmaria, sobre as estadias na Suíça - cerca de vinte entre 2016 e 2019 - de Fabrizio Tirabassi, ex-funcionário da Secretaria de Estado (réu). As viagens e pernoites teriam sido pagas pela empresa Sogenel Capital Holding de Enrico Crasso (réu). O próprio Tirabassi especificou em uma declaração espontânea que as estadias estavam relacionadas a reuniões feitas para o Escritório e autorizadas pelo então chefe monsehor Alberto Perlasca. Menos de um minuto foi gasto interrogando Stefano Calamelli, dirigente do Bambino Gesù, que confirmou a declaração na fase instrutória. Enquanto Angelo Martone, auxiliar da polícia judiciária, encarregado de analisar as contas bancárias, se concentrou nas atividades de Crasso, em particular os investimentos da Secretaria de Estado através de empresas a ele pertencentes.

Próximas testemunhas

Por fim, Pignatone lembrou que está programado o interrogatório a Perlasca para os dias 23, 24 e 25 de novembro. O diretor geral do Ior, Gian Franco Mammì, também deverá ser interrogado em meados do próximo mês.

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24 outubro 2022, 12:00