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Padre Luigi Lenzini Padre Luigi Lenzini 

Padre Lenzini é Beato. Semeraro: arquétipo do Bom Pastor

Ele queria ser o sacerdote de todos, esse mártir modenês morto in odium fidei em 1945 pela fúria cega do comunismo anticlerical. Exemplo de pastor de almas, bom porque é capaz de dar a vida pelos outros: assim o definiu o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos na homilia de Beatificação na Catedral de Módena.

Roberta Barbi - Cidade do Vaticano

É melhor ser pastor ou ser bom? Interrogação sobre o paradigma do Bom Pastor levantada pelo prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, na Missa de Beatificação do padre Luigi Lenzini, celebrada neste sábado, 27, na Catedral Metropolitana de Santa Maria Assunta em Cielo e San Geminiano em Módena.

"Na Bíblia fala-se de muitos pastores - disse o cardeal - mas de alguns entre eles o profeta Ezequiel diz que em vez de apascentar o rebanho, apascentam a si mesmos e que em vez de se colocar a serviço das ovelhas, colocam as ovelhas a seu serviço". Qual é, então, o pastor bonus? Jesus o diz claramente: aquele que está disposto a dar a vida pelas próprias ovelhas.

A versão de São Boaventura e São Gregório Magno

 

O prefeito falou depois como Santos do calibre de Boaventura e Gregório Magno interpretaram o modelo do Bom Pastor. O primeiro recorria a uma imagem, um verdadeiro trocadilho: pastor como derivação de pastus, de modo que o pastor se torna bom quando ele próprio se torna uma refeição, ou seja, alimento espiritual para suas ovelhas.

“Esta é uma verdade que sempre podemos ter em mente quando nos aproximamos do altar para nos alimentarmos de Jesus Eucaristia”, explicou o cardeal. São Gregório Magno, por outro lado, centrou-se no critério de avaliação da autenticidade de um pastor: em tempos tranquilos todos cuidam do rebanho, mas são os tempos difíceis que revelam o autêntico pastor e desmascaram o mercenário.

"O novo Beato como pastor instruiu o povo cristão cuidando do catecismo das crianças e do ensino da religião na escola, pregando em cada Missa com uma palavra simples e convincente - observou o cardeal Semeraro - como pastor ele ainda alimentava os fiéis levando o viático aos enfermos, era solícito em relação aos pobres, mostrando-se sempre pronto para as obras de caridade, para a ajuda dos necessitados e para o conforto dos aflitos. Ele, por sua vez, se nutria com a Adoração prolongada da Eucaristia”.

Padre Lenzini, a natureza extraordinária na normalidade

 

O novo Beato era originário de Fiumalbo, na região de Módena, e vinha de uma família rica e muito religiosa. Ordenado sacerdote em 1904, ele viveu na Emília Romagna nos anos sombrios em que se propagava uma forma de socialismo ateu e materialista que visava erradicar a fé. Um dia, quando era pároco em Finale, um grupo desses "pregadores" chega para arengar a multidão até o adro da paróquia. Dom Luigi, que tem apenas 30 anos, sai e começa a rebater as acusações com a luz da Verdade do Evangelho de Cristo.

De onde tira a sua força? A quem o pergunta, quem sabe diante de um bom copo de vinho ou durante uma partida de trunfo (“briscola”), responde que é a oração diante de Jesus Eucarístico, mas também a leitura da Palavra. Ele não despreza a normalidade, nem mesmo aquela das osterias, a vida cotidiana de seu povo que muitas vezes acompanha padre Luigi: só assim ele está convencido de poder realmente alcançar todas as almas sem excluir ninguém, nem mesmo os partisãs que ele esconde durante a guerra, nem mesmo aqueles comunistas procurados que depois, quando a guerra acabar, serão assassinados. "Foi essa vida 'normal' que o preparou quando a tristeza do momento e a crueldade humana fizeram seu corpo de exemplo - disse o cardeal Semeraro - hoje a Igreja o declara 'mártir' porque reconhece que seu execrável assassinato foi decidido e realizado in odium fidei para eliminar um padre católico".

Um sino e um tiro na noite

 

E chegamos à história de sua morte, uma morte tão extraordinária, o martírio, no final de uma vida deliberadamente normal. É a noite de 21 de julho de 1945, a noite mais escura para Crocette di Pavullo nel Frignano, onde padre Luigi, já com 64 anos, é pároco há algum tempo. Quando seus assassinos chegam, armados de engano, ele não está dormindo. Ele está rezando. Primeiro eles tocam a campainha, chamam padre Luigi, querem que ele vá visitar um moribundo. Mas aquele moribundo foi visitado durante o dia, ele não está tão mal, então ele recusa a armadilha. Eles porém não desistem, sobem uma escada, invadem a casa canônica. A ajudante foge, padre Luigi toca os sinos: seu último grito de socorro. Os agressores, que são um grande grupo, disparam tiros de advertência no adro da igreja. Nenhum paroquiano, por medo, corre em socorro de padre Luigi, que é arrastado para a floresta seminu, forçado a cavar sua própria cova, terrivelmente torturado, mutilado. Ele deixa fazer tudo, sem reagir, mas blasfemar contra seu Deus, isso não, não o aceita, e é justamente isso que desencadeia a fúria assassina de seus captores que, por fim, o matam. Seu corpo só será encontrado uma semana depois.

Santidade na vida cotidiana nas palavras dos Papas

 

O Cardeal Semeraro, no final de sua homilia, sublinhou o valor excepcional da normalidade na vida cristã, como foi sublinhado ao longo dos últimos pontificados: "São João Paulo II escreveu na Carta Apostólica Novo millennio ineunte que era chegada a hora de repropor a todos com convicção o 'alto padrão' da vida cristã ordinária. Bento XVI disse que a santidade não consiste em realizar feitos extraordinários, mas em unir-se a Cristo, em viver seus mistérios, em fazer nossas suas atitudes, seus pensamentos e comportamentos; Francisco recomenda não separar a santidade da vida cotidiana, mas buscá-la e abraçá-la na vida cotidiana”. Assim como padre Lenzini.

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28 maio 2022, 19:22