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“Deus não se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir perdão” (Papa Francisco) “Deus não se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir perdão” (Papa Francisco) 

Simpósio sobre o Sacramento da Penitência: a misericórdia de Deus através da história

O encontro está marcado nos dias 21 e 22 de outubro, no Palazzo della Cancelleria, e tem como tema: "Penitência e Penitenciaria entre revoluções e restaurações (1789-1903)". O "longo século XIX" estará no centro do debate do ponto de vista histórico e espiritual. O regente da Penitenciaria, mons. Krzysztof Nykiel: é necessário o Sacramento da Reconciliação, para relançar mais uma vez a sua beleza e a sua importância.

Gabriella Ceraso e Federico Piana – Vatican News

Teologia, práxis, religiosidade e direito: são diferentes as abordagens com as quais, nos dois dias do VII Simpósio organizado pela Penitenciaria Apostólica, se falará sobre o sacramento da misericórdia e da função curial, desde o final do século XII, desejada pelo Papa, com competências no foro interno e externo. O enfoque histórico se concentrará no "longo século XIX" entre a Revolução e Restauração (1789-1903), tendo em conta as relações internas da Cúria e com a Igreja da época, mas também do confronto com os governos e com as demandas do mundo moderno. Segundo o regente da Penitenciaria Apostólica, mons. Krzysztof Nykiel, "é de particular interesse, ao lado das contribuições especializadas, o espaço dedicado ao tema da penitência na perspectiva das artes, e uma absoluta novidade que é a abertura, para esta ocasião, do 'Arquivo do Teólogo' uma fonte preciosa para reconstruir, através dos documentos nele contidos, o clima cultural e a rede de relações dentro da Cúria a partir de uma perspectiva até então inédita".

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Dom Nykiel, quais são os objetivos do Simpósio organizado pela Penitenciaria Apostólica?

Mons Nykiel: O Simpósio que se realizará amanhã e depois de amanhã pretende aprofundar os dois temas da Penitência sacramental e da Penitenciaria Apostólica no período entre a Revolução Francesa (1789) e a morte de Leão XIII (1903), época marcada - como foi escolhido para inserir no título do evento – por revoluções e restaurações, mudanças contínuas, retorno ao antigo e inovações, tanto a nível político-social quanto eclesial. Os relatores convidados tratarão esses temas com uma abordagem transdisciplinar, de acordo com as perspectivas da história da teologia e da práxis sacramental, da religiosidade, do direito, etc. Entre outras coisas, no final do primeiro dia, está previsto um discurso a duas vozes de mons. Frisina, a quem todos conhecemos, e a dra. Breda, funcionária dos Museus Vaticanos, que guiarão os participantes num itinerário sobre o pecado, a misericórdia e a reconciliação através das artes do século XIX. Gostaria de sublinhar, em todo o caso, que ao promover iniciativas para o aprofundamento histórico do Sacramento da Penitência e da própria Penitenciaria, o nosso Dicastério definido pelo Santo Padre Tribunal da Misericórdia, deseja colocar o Sacramento da Confissão no centro de interesse, através do qual flui o canal da misericórdia de Deus para todos nós feridos pelo pecado. Não se trata apenas de recordar um passado que já não existe mais, mas, através da reflexão sobre o passado, relançar a beleza e a importância deste sacramento na vida dos fiéis, como o Papa Francisco nos recorda constantemente, que mesmo em meio às imperfeições e às quedas inevitáveis, continuam indo adiante no caminho que leva à salvação (cf. GE 3). O papel e a beleza do sacramento da misericórdia nesta dinâmica de queda e reconciliação são mais do que evidentes.

Simpósio da Penitenziaria Apostólica
Simpósio da Penitenziaria Apostólica

Quais foram as transformações mais importantes das formas de Penitência no século XIX?

Mons Nykiel: O século XIX é marcado pela superação do rigorismo jansenista, difundido no século XVIII, e pelo triunfo da teologia moral de Santo Afonso Maria de Ligório, mais equilibrada e atenta às necessidades concretas dos penitentes. O grande santo napolitano, canonizado no decorrer do século e posteriormente proclamado por Pio XII padroeiro de todos os confessores, é referência indiscutível para todos os sacerdotes que exercem o ministério no confessionário. Mas o século XIX é também o século em que surgem novos problemas, que os confessores são chamados a enfrentar aplicando na prática os princípios da norma. Pense nas questões relacionadas à moral do casamento, mas também em todas as questões que hoje chamaríamos de doutrina social ligadas às relações dos católicos com as sociedades modernas, muitas vezes permeadas por um espírito liberal e anticlerical.

Uma sessão do Simpósio será dedicada à abertura do fundo 'Arquivo do Teólogo'. O que emerge de importância desses documentos?

Mons Nykiel: O 'Arquivo do Teólogo' detém os votos, isto é, as opiniões elaboradas pelos Consultores Teólogos da Penitenciaria ao longo dos séculos. Com efeito, foi confiado ao Teólogo o estudo e a resolução de todos os casos que chegavam à Penitenciaria e que apresentavam dificuldades particulares ou que exigiam um exame mais aprofundado. O Papa Francisco, em 2019, autorizou a abertura à consulta daquela parte deste importante complexo documental, até então totalmente fechado à pesquisa científica, que diz respeito a questões teológicas e jurídicas tratadas em nível puramente geral, e não a casos específicos de consciência, sempre protegidos pelo sigilo sacramental. O estudo desses papéis permite entender gradualmente não apenas as orientações de cada teólogo ou da própria Penitenciaria, mas também o clima cultural e a rede de relações dentro da Cúria a partir de uma perspectiva até então inédita

Ao longo dos séculos, quais foram as mudanças institucionais mais importantes da Penitenciaria Apostólica?

Mons Nykiel: Recordo brevemente que a Penitenciaria Apostólica nasceu como gabinete curial durante o século XIII para auxiliar o trabalho do Cardeal Penitenciário Maior, a quem o Papa havia delegado desde o século XII a concessão de absolvições e dispensas tanto no fórum interno quanto no fórum externo. Após um aumento constante de competências no final dos séculos medievais, em 1569, o Papa Pio V decretou uma reforma drástica dos funcionários e das atribuições da Penitenciaria, reduzindo a jurisdição quase exclusivamente ao fórum interno. A estrutura institucional conferida por Pio V no século XVI e posteriormente confirmada, com algumas atualizações, por Bento XIV no século XVIII, é aproximadamente a que ainda vigorava no século XIX. Com a peculiaridade, no entanto, que em tempos de emergência, como nos anos da ocupação napoleônica de Roma (1809-1814) ou durante as fases mais dramáticas do conflito entre Pio IX e Vittorio Emanuele II que resultou no estabelecimento do Reino da Itália e no fim do poder temporal dos Papas, a Penitenciaria desempenhou um papel protagonista dentro da estrutura curial, quase superando, de certa forma, a tarefa institucional do Tribunal do foro interno. Alguns dos relatos dos próximos dias destacarão o peso da Penitenciaria na resolução dessas questões, retomando o que já se sabe da historiografia anterior, mas ao mesmo tempo propondo novos elementos de reflexão e considerações inéditas.

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20 outubro 2021, 20:05