Cardeal húngaro József Mindszenty Cardeal húngaro József Mindszenty 

Cardeal Czerny preside Missa pelos 46 anos da morte do cardeal József Mindszenty

Para recordar os 46 anos da morte do Venerável cardeal József Mindszenty neste dia 6 de maio, foi celebrada uma Missa na igreja da qual era titular em Roma, presidida pelo também cardeal Michael Czerny SJ

Jackson Erpen - Vatican News

Deixou um luminoso testemunho de fidelidade à Igreja e de amor à Pátria. Seu amor e a sua recordação permanecerão sempre como uma bênção” (São João Paulo II, Esztergom, 16 agosto 1991).

No final da tarde desta quinta-feira, 6 de maio, o cardeal Michael Czerny SJ, sub-secretário para a Seção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, presidiu a Santa Missa na Igreja Santo Stefano Rotondo sul Celio, em Roma, por ocasião do 46° aniversário da morte do Venerável cardeal József Mindszenty.

A celebração foi organizada pela Embaixada da Hungria junto à Santa Sé, pelo Pontifício Instituto Eclesiástico Húngaro, pela Fundação Santo Estêvão da Hungria e pela comunidade húngara em Roma.

Breve biografia do cardeal József Mindszenty

 

Nascido em 29 de março de 1892 em Csehimindszent, József Mindszenty foi ordenado sacerdote em 12 de junho de 1915, em Szombathely.

Consagrado bispo em 25 de março de 1944 em Esztergom, tomou posse da Sede Primacial de Esztergom em 2 de outubro de 1945.

Criado cardeal pelo Papa Pio XII em 21 de fevereiro de 1946, tomou posse da Igreja titular de Santo Stefano Rotondo, em Roma, em 3 de março de 1946.

Foi preso pelo governo comunista em Esztergom em 26 de dezembro de 1948, sendo condenado à prisão perpétua em Budapeste em 8 de fevereiro de 1949. Foi libertado por revolucionários em 30 de outubro durante a revolução de 1956.

Buscou refúgio na Embaixada dos Estados Unidos em Budapeste em 4 de outubro de 1956. A pedido do Papa Paulo VI, conseguiu deixar a Hungria em 28 de setembro de 1971.

Publicou suas memórias em 10 de outubro de 1974, vindo a falecer em Viena, Áustria, em 6 de maio de 1975.

Seus restos mortais foram transladados de Mariazell a Esztergom em 3 maio de 1991, sendo sepultados na Cripta da Basílica de Esztergom, em 4 maio de 1991.

A homilia do cardeal Czerny 

 

Prima leitura: Atos 15, 7-21 / Salmo responsorial 96, 1-2a, 2b-3, 10 /Evangelho: João 15, 9-11

"I. Em 1948, meus pais, meu irmão menor e eu fugimos da Tchecoslováquia e nos refugiamos no Canadá. Nos primeiros dez anos de nossa permanência neste novo país, nossos contatos foram principalmente com outros refugiados pós-Segunda Guerra Mundial dos países devastados da Europa. O passado traumático por nós vivido nos acompanhou, inevitavelmente, no novo mundo, definindo-nos, às vezes, com base naquilo de que havíamos fugido e nos medos que havíamos experimentado. Nós mesmos fomos artífices disso: por exemplo, nos primeiros anos no Canadá, meus pais comiam excessivamente, porque temiam que outro desastre pudesse fazer reaviver a fome que haviam sofrido. Naquela época, o medo se tornou palpável. As pessoas construíam abrigos antiaéreos em porões e estocavam suprimentos para o caso de uma guerra nuclear estourar. Esses medos eram muito reais.

Todavia, os anos cinquenta marcaram um período de retomada econômica para o Ocidente, o início da prosperidade. Percebia-se sinais que davam esperança de uma nova liberdade nos países do bloco comunista, uma chama gloriosa e promissora que ardeu por algumas semanas durante a revolução húngara de outubro de 1956.

O impacto que este evento teve em todo o mundo foi forte, mesmo no longínquo Canadá. Em nossa casa, viveu conosco por seis meses um refugiado húngaro "Buba". O menino de 10 anos que eu era na época ficou impressionado com a coragem dos revolucionários, o que foi uma grande inspiração para mim. Fiquei horrorizado com o desespero e a crueldade com que a repressão deles foi realizada. Eu sabia do cardeal Mindszenty, que fora condenado à prisão perpétua em 1949, para depois ser libertado e, mais tarde - quando o desejado apoio externo não veio - foi forçado a se refugiar na Embaixada dos Estados Unidos. O cardeal personificou todo o drama do povo húngaro.

Quando eu era jovem, o cardeal Mindszenty personificava uma figura corajosa, honesta e verdadeira. A repressão e a perseguição não o aniquilaram; em vez disso, ele as transcendeu. Não se preocupou com as ameaças que lhe vinham de fora, mas valeu-se da sua força interior humana, cultural e espiritual para permanecer livre, fiel ao seu chamado e à sua missão, para continuar a crescer e a evangelizar.

Hoje, devemos enfrentar desafios semelhantes. Existem muitos regimes que mostram tendências totalitárias e suprimem as liberdades. Milhões de pessoas buscam refúgio da guerra, da repressão, da pobreza e da degradação ambiental, enquanto as vozes que se levantam para invocar dignidade e liberdade são silenciadas com uma fria violência. Persistem, na sociedade atual, desigualdades e divisões violentas. O atual Sucessor de São Pedro convida o mundo a resistir à tentação natural de defender o próprio "nós" e, ao invés disso, aspirar a um “nós” cada vez maior. Eis porque considero que tenha sido providencial que, precisamente hoje, juntamente com um bispo da Grã-Bretanha, uma mulher que trabalha com refugiados e dois colegas do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, eu tenha apresentado a Mensagem do Santo Padre para o Dia Mundial de Migrantes e Refugiados, que será celebrada no domingo, 26 de setembro. A mensagem deste ano é intitulada "Rumo a um nós cada vez maior ".

II. Hoje, os ensinamentos de 1949 e 1956 nos interpelam. A mensagem do Papa Francisco é clara: “Nacionalismos fechados e agressivos (cf. Fratelli tutti, 11) e o individualismo radical (cf. ibid., 105) nos desintegram ou dividem o nós, tanto no mundo como dentro da Igreja. E o preço mais alto é pago por aqueles que mais facilmente podem se tornar os outros: os estrangeiros, os migrantes, os marginalizados, que vivem nas periferias existenciais”. (Mensagem GMMR 2021).

O Papa Francisco nos chama a “caminhar juntos rumo a um nós cada vez maior, a recompor a família humana, para construir juntos nosso futuro de justiça e de paz, garantindo que ninguém seja excluído”. (Mensagem GMMR 2021).

O Papa Francisco pede aos membros da Igreja que sejam "cada vez mais fiéis ao “ser católicos”, realizando o que São Paulo recomendava à comunidade de Éfeso: "Um só corpo e um só espírito, como uma só é a esperança à qual fostes chamados, o da sua vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo"" (Mensagem GMMR 2021, citação Ef 4, 4-5).]

III. Este apelo a um “nós cada vez maior” é dolorosamente urgente, devido às crises de identidade desencadeadas em muitas partes do mundo.

Neste sentido, a primeira leitura de hoje nos dá uma lição muito clara. Quando se pensa nas comunidades e nos povos levados a um confronto sobre a questão "quem somos nós?", é difícil imaginar uma controvérsia maior do que aquela levantada pelos primeiros cristãos contra os pagãos convertidos que não eram judeus.

Alguns sustentavam que “pela graça do Senhor Jesus seremos salvos exatamente como eles” (15, 11), eles, ou os pagãos que abraçaram a fé cristã. A comunidade cristã, segundo eles, não devia ter fronteiras entre tribos ou culturas. Outros, no entanto, insistiam na necessidade de se tornarem judeus (como o próprio Jesus e todos os seus discípulos) como condição para ter acesso à salvação trazida por Cristo.

Pedro, com base na sua missão e experiência, testemunha que Deus "não fez distinção alguma entre nós e eles" (15, 9). Disto deriva a Igreja verdadeiramente universal, que dura até os nossos dias e que viverá para sempre. Assim, Barnabé e Paulo informam toda a assembleia de “quantos milagres e prodígios Deus fizera entre os gentios por meio deles” (15, 12), prova clara de que Deus confirma sua missão.

É Tiago Maior que toma a palavra para encerrar a assembleia sinodal, citando as palavras do Profeta Amós (9, 11-12). A citação se refere a uma época em que Deus teria reedificado o tabernáculo de Davi que caiu, "para que também o resto do homens busque o Senhor", até mesmo todos os gentios (15, 17). O Senhor Ressuscitado reinterpreta a restauração de Israel em termos da missão universal. O "reunir o povo de Israel", que começou com a pregação apostólica, agora se expande e ultrapassa todas as barreiras, para incluir os gentios.

Se olharmos para os 70 anos de Mindszenty, vemos que a Guerra Fria foi um labirinto; para usar as palavras do Papa Francisco, “um falso caminho, é um vagar sem propósito e finalidade, é permanecer no labirinto; é somente desperdício de energia e ocasião para o mal”. O mundo parecia perdido em um labirinto que inevitavelmente levava à recíproca destruição de massa. Existem duas maneiras de sair de um labirinto. Alguns tentam encontrar um caminho, por assim dizer, "no local", esperando (como no Mito do fio de Ariadne) evitar um beco sem saída. A outra possibilidade é seguir um caminho vertical, elevar e transcender.

Hoje podemos apreciar melhor como, em 1962, o Papa São João XXIII "se elevou" para tirar o mundo da crise dos mísseis cubanos e depois "transcender" com a Pacem in terris, fundando e consolidando a paz, não no equilíbrio de forças, mas nos direitos humanos. Então, em 1971, o Papa Paulo VI organizou a libertação e o exílio de Mindszenty, que continuou seu ministério de testemunho em Viena até sua morte, 46 anos atrás.

4. Homenageamos, aqui, o cardeal Mindszenty, recordando dele com admiração e afeto. Pedimos a ele que interceda por nós, para que recebamos a graça de olhar para os problemas como ele os vê, de nossa casa celestial. Tendo ouvido o Evangelho de hoje, não posso deixar de imaginar o cardeal Mindszenty como um discípulo a quem Jesus dirige as seguintes palavras:

“Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e permaneço em seu amor. Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa (Jo 15,9-11).

Nós pedimos ao cardeal Mindszenty somente para rezar por nós, mas seguimos o seu exemplo. Porque ele é um protetor e um companheiro, guardou os mandamentos de Jesus e, por isso, permanece no amor do Pai nosso e experimenta uma alegria plena. A nossa Eucaristia é a prova disso: o cardeal continua a inspirar-nos e a interceder por nós e por isso damos graças a Deus.”

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06 maio 2021, 19:38