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Um mundo livre de armas nucleares para o bem da família humana

A ligação entre paz e desarmamento no tempo da pandemia no centro de um webinar promovido para a tarde desta quarta-feira, pelo Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral por ocasião da apresentação do livro "Um Mundo Livre de Armas Nucleares". Cardeal Silvano Maria Tomasi: "as armas nucleares não são de forma alguma aceitáveis".

Giancarlo La Vella e Amedeo Lomonaco – Vatican News

"Um mundo livre de armas nucleares". Este é o tema do webinar sobre desarmamento atômico organizado por ocasião da apresentação do livro publicado pela Georgetown University Press e intitulado "Um Mundo Livre de Armas Nucleares". O encontro, que terá lugar na tarde desta quarta-feira a partir das 16h, hora italiana, pode ser seguido no canal YouTube de Vatican News.

Não armas mas desenvolvimento

Neste tempo marcado pela pandemia, o apelo lançado pelo Papa Francisco, que na sua encíclica "Fratelli tutti" indica um preciso "imperativo moral e humanitário", torna-se mais urgente do que nunca: "A paz e a estabilidade internacionais não podem basear-se numa falsa sensação de segurança, na ameaça de destruição mútua ou aniquilação total, ou simplesmente na manutenção de um equilíbrio de poder". "Neste contexto", acrescentou o Pontífice, "o objetivo último da eliminação total das armas nucleares torna-se simultaneamente um desafio e um imperativo moral e humanitário", "com o dinheiro que é gasto em armas e outras despesas militares", salientou Francisco, "podemos criar um fundo mundial que possa finalmente acabar com a fome e fomentar o desenvolvimento nos países mais pobres”.

A paz constrói-se dia após dia

As palavras do Papa Francisco sobre a paz fazem parte do caminho traçado por São Paulo VI na sua encíclica "Populorum Progressio". O desenvolvimento - escreve Papa Montini é o novo nome da paz.  "As desigualdades econômicas, sociais e culturais que são demasiadas grandes entre as pessoas e as pessoas provocam tensões e discórdias, e põem em perigo a paz". "A paz não se reduz a uma ausência de guerra, resultado do equilíbrio sempre precário das forças". "É construída dia após dia", salienta o Papa Paulo VI, na busca de uma ordem desejada por Deus, que comporta uma justiça mais perfeita entre os homens".

As armas nucleares são funcionais a uma lógica de medo

O webinar desta quarta-feira está, portanto, ligado às duas encíclicas "Fratelli tutti" e "Populorum Progressio". Mas também às palavras pronunciadas pelo Papa Francisco em 10 de novembro de 2017 por ocasião do seu discurso aos participantes do Simpósio Internacional sobre Desarmamento promovido pelo Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral e centrado no tema: "Perspectivas para um Mundo Livre de Armas Nucleares e para o Desarmamento Integral". "Não podemos deixar de sentir uma viva sensação de inquietação", disse o Papa Francisco na ocasião, "se considerarmos as catastróficas consequências humanitárias e ambientais decorrentes de qualquer utilização de armas nucleares”. "Portanto, mesmo considerando o risco de uma detonação acidental de tais armas devido a um erro de qualquer tipo, a ameaça da sua utilização, bem como a sua própria posse, deve ser firmemente condenada, precisamente porque a sua existência é funcional a uma lógica de medo que diz respeito não só às partes em conflito, mas a toda a raça humana. As relações internacionais não podem ser dominadas pela força militar, pela intimidação recíproca, pela ostentação de arsenais de guerra". "As armas de destruição em massa, em particular as armas atômicas", acrescentou o Santo Padre, "não podem constituir a base da coexistência pacífica entre os membros da família humana, que deve ser inspirada numa ética de solidariedade".

Diálogo intercultural e desenvolvimento humano integral

O encontro desta quarta-feira visa continuar a discussão iniciada nesse Simpósio realizado em 2017. E baseia-se no livro "Um Mundo Livre de Armas Nucleares" publicado para comemorar o 75º aniversário de Hiroshima e Nagasaki. O objetivo é promover o diálogo intercultural e uma maior compreensão do desenvolvimento humano integral, tal como previsto pelo Papa Francisco na encíclica "Laudato si'". É isto que disse ao Vatican News o cardeal Silvano Maria Tomasi, ex-observador permanente da Santa Sé junto à ONU em Genebra e colaborador do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, recordando os objetivos do encontro:

R. - É um convite à renovação de esforços para eliminar a ameaça e a utilização de armas atômicas e também para reforçar e fazer compreender a posição tomada pelo Papa Francisco que progressivamente tem sido esclarecida: não só é eticamente inaceitável utilizar armas nucleares, como também é eticamente inaceitável possuí-las. Este passo provocou uma nova e mais profunda reflexão para tornar claro que a paz não é apenas a ausência de guerra, mas abrange o desenvolvimento e a justiça das relações entre povos e Estados. Esta ideia fundamental, que foi impulsionada pelo Papa Francisco, foi depois reiterada na sua viagem histórica ao Japão e na sua última encíclica "Fratelli tutti". É uma avaliação moral que as armas nucleares, devido às suas consequências, não são de forma alguma aceitáveis e que a verdadeira paz abraça uma visão mais ampla que inclui a segurança para todos e não apenas para alguns.

Por que a arma nuclear é mais imoral do que as armas convencionais? Afinal de contas, ambas matam....

R. - É verdade, de fato o objetivo da Santa Sé e da Igreja é eliminar todas as armas e que exista também um controle do tráfico de armas convencionais. Mas as armas de destruição em massa, especialmente as armas nucleares, têm consequências que vão para além do controle das pessoas que as utilizam. Têm um impacto no ambiente e, sobretudo, nas pessoas. Mesmo as pessoas não envolvidas em ações militares são afetadas e destruídas. Isto torna a utilização de armas nucleares moralmente inaceitável. As consequências são o critério que conduz a esta conclusão. E depois, se alguém possui armas nucleares, as possui em função de uma eventual utilização. As relações de paz e confiança entre os países do mundo não podem ser estabelecidas com base no medo e na ameaça da sua destruição ou de destruição mútua. É necessário dar um passo além, um passo que seja mais positivo e que leve adiante e mostre que, através da confiança e do diálogo sério, sincero e controlado entre países e entre grupos de pessoas, se pode verdadeiramente construir um contexto de paz, que dê bem-estar e serenidade para todos.

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16 dezembro 2020, 11:53