João Paulo II e Dimitrios I em 1979 na Turquia João Paulo II e Dimitrios I em 1979 na Turquia 

Unidade dos Cristãos: desafio das Igrejas é nos conhecermos melhor

Dom Brian Farrell, Secretário do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos repercorre a história dos 60 anos do Dicastério. Para Dom Farrel o desafio é assumir o compromisso ecumênico de nos conhecermos melhor, de nos abrirmos aos outros, de colaborarmos, de rezarmos juntos

Bernadette Reis – Vatican News

Hoje, no 60º aniversário do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, colhemos os frutos de um longo período que, nas palavras do Secretário do Dicastério, Dom Brian Farrell, tem um ponto de partida que é a "graça" de João XXIII e do Concílio Vaticano II, e tem um ponto crucial em João Paulo II e na sua encíclica Ut Unum sint.

Desde então, o mundo e as Igrejas - observa Dom Farrell - em suas relações mudaram muito e os frutos mais visíveis, explica ele, são os encontros entre líderes e a colaboração ativa entre os fiéis das diferentes comunidades. Hoje o desafio pode ser considerado o de fazer com que todos se sintam comprometidos na busca da unidade desejada não só pelo Papa ou teólogos e bispos, mas pelo Senhor. Portanto, “conhecer melhor todos” é o desejo do Secretário neste sexagésimo aniversário do Dicastério que se dedica desde junho de 1960, à "troca de dons" que é o ecumenismo.

Dom Brian Farrell: Devo dizer que tudo foi graças a João XXIII, que 60 anos atrás impôs à Igreja, através do Concílio Vaticano II, uma nova atitude, uma nova abertura em relação às outras Igrejas. João XXIII com o coração aberto tomou uma iniciativa que deu os frutos que todos podemos ver. Na época as relações entre as diferentes Igrejas eram frias e distantes, agora, ao contrário, as relações são amistosas, as Igrejas estão mais próximas, com muita colaboração a serviço da humanidade e este é o fruto daquela Graça que foi a inspiração daquele grande Papa.

Quais são os desafios que a Igreja enfrenta neste diálogo?

Dom Farrell: Antes de mais nada, acho que é absolutamente verdade que fizemos enormes progressos. O mundo mudou, mas as relações entre as Igrejas também mudaram nos últimos anos. Tem havido um grande compromisso de oração, de estudo, e os frutos são visíveis: encontramos os chefes de todas as Igrejas, nossos fiéis em nível local fazem muitas coisas junto com os fiéis das outras Igrejas. Penso particularmente no grande desafio que é assegurar que em todas as Igrejas, em particular na nossa Igreja Católica, que todos se sintam comprometidos nesta busca de unidade desejada pelo Senhor. Porque não se trata apenas do Papa ou dos bispos, nem mesmo de especialistas: toda a Igreja deve caminhar para as outras Igrejas, uma em direção à outra. Portanto, o desafio é assumir o compromisso ecumênico de nos conhecermos melhor, de nos abrirmos aos outros, de colaborarmos, de rezarmos juntos: tudo isso é um grande desafio.

Recentemente o Papa Francisco usou a palavra "impaciência" como característica deste diálogo. O que é a "impaciência" no campo do diálogo ecumênico?

Dom Farrell: A encíclica de João Paulo II Ut unum sint sobre o compromisso ecumênico, chegou em um momento particular. Após 30 anos de atividade com as outras Igrejas, viu-se que não bastava tentar racionalmente e teologicamente resolver as controvérsias do passado. Foi visto que era necessário abrir todas as nossas comunidades ao encontro com os outros, e neste sentido João Paulo II na encíclica fala do compromisso ecumênico, como uma "troca de dons", não só de ideias, portanto de vida. Nesta base estamos progredindo, tentando ver o que temos que possa ser um presente aos outros cristãos e o que eles têm para nós. Agora, o grande desafio é mudar nossa mentalidade de autossuficiência ou mesmo, às vezes, de superioridade, para aprender com os outros, creio que esta seja a conversão necessária para chegarmos ao que o Senhor deseja.

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03 junho 2020, 12:29