Busca

1571822538045.jpg

Juntos pela fraternidade humana, sikhs e cristãos em diálogo

"Se não nos comprometemos com urgência, o perigo que corremos é enorme, e se não conseguirmos encontrar uma maneira e os meios para construir conscientemente pontes de relações entre os povos, corremos o risco de ser acusados de acelerar um colossal fracasso da humanidade", advertiu o cardeal Miguel Ángel Ayuso Guixot.

Cidade do Vaticano

"Uma importante contribuição para aprofundar o conhecimento recíproco, que leva à valorização das riquezas das diferentes tradições" de fé. Este é o resultado alcançado pelos participantes da Conferência inter-religiosa sobre o tema "A fraternidade humana pela paz e a harmonia”,  realizada em Roma na terça-feira, 22 de outubro, por ocasião do 550º aniversário do nascimento de Sri Guru Nanak Dev Ji, fundador do sikhismo, uma religião de origem indiana.

Nos trabalhos - organizados pela Sikhi Sewa Society na Itália, em colaboração com o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso e o Escritório Nacional para o Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso da Conferência Episcopal Italiana – pronunciaram-se autoridades civis e institucionais, líderes religiosos, acadêmicos e seguidores de diferentes religiões, que fizeram questão de participar da Audiência Geral com o Papa Francisco na manhã desta quarta-feira, 23, na Praça de São Pedro.

Precisamente no ano em que o Pontífice e o Grão Imame de al-Azhar assinaram a Documento Conjunto sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum, dirigido não somente aos muçulmanos e aos cristãos, mas a "todas as pessoas que trazem em seus corações fé em Deus ", os participantes da conferência ouviram e compartilharam experiências pessoais e comunitárias, fazendo memória aos ensinamentos de Sri Guru Nanak, homem de paz e construtor de harmonia social, reformador social e religioso, que viveu em um contexto histórico difícil para as relações entre os seguidores de diferentes credos.

Papa Francisco com delegação sikh na Audiência Geral
Papa Francisco com delegação sikh na Audiência Geral

Ao final, foi divulgada uma declaração conjunta onde é enfatizado como "em uma época como a atual, onde as religiões são cada vez mais usadas como formas de discriminação e conflito", é necessário "reconhecer a centralidade da" fraternidade", como um valor comum e, portanto,  terreno de encontro e de diálogo para construir harmonia e paz entre todos os homens e mulheres que compõem a família humana".

Os signatários consideram, de fato, "que precisamente a fraternidade pode representar o caminho privilegiado" para construir "uma coexistência pacífica entre todos os grupos e comunidades sociais, culturais e religiosas".

Aplicação da regra de ouro

 

Inspirando-se em experiências de vida e nos testemunhos que foram compartilhados durante o trabalho, o texto faz votos de um esforço concreto e compartilhado "para difundir o espírito de fraternidade como é expresso nas religiões de pertença e como é sintetizado pela regra de ouro que convida "a fazer aos outros o quanto gostaríamos que a nós fosse feito" e "a não fazer aos outros o quanto não gostaríamos que fizessem a nós". Na convicção, concluem os autores documento, de que "essa será a nossa contribuição para a construção de um mundo mais justo e mais harmonioso onde a paz, verdadeiro dom de Deus, possa reinar no coração de todo homem e toda mulher".

O dia de trabalhos foi aberto com o discurso inaugural proferido pelo cardeal Miguel Ángel Ayuso Guixot, presidente  do dicastério vaticano para o diálogo que - recordou - apoia todos aqueles "esforços voltados a promover relações cordiais e cooperação entre os católicos e pessoas de outras religiões, encorajando as Igrejas locais a estreitar laços de amizade com todos os crentes e com as pessoas de boa vontade”.

Portanto, em uma era "na qual muitas pessoas se tornam cada vez mais cegas às necessidades dos outros, acostumadas ao sofrimento dos pobres, e anseiam a  superioridade e a determinação em um modelo de bem-estar material, com crescentes instâncias de tensões, conflitos e violência, infelizmente e deplorávelmente, também em nome das religiões”, o cardeal relançou" os ensinamentos sagrados do fundador do sikhismo", que" são de importância vital e atestam, sem ambiguidade, a ameaça representada pela sobrevivência da humanidade pela perda ou pela destruição de fraternidade universal”.

Fraternidade humana, nova oportunidade que bate à nossa porta

 

Além disso, explicou o purpurado, "se não nos comprometemos com urgência, o perigo que corremos é enorme, e se não conseguirmos encontrar uma maneira e os meios para construir conscientemente pontes de relações entre os povos, corremos o risco de ser acusados ​​de acelerar um colossal fracasso da humanidade".

Aqui, então, apontou o presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, que "a fraternidade  humana é uma nova oportunidade que bate à nossa porta para reconstruir o nosso mundo partindo das bases morais ou espirituais, orientando em direção a esta meta o sentido de nosso desenvolvimento".

Momento de fraternidade na Audiência Geral
Momento de fraternidade na Audiência Geral

Reconhecer o direito do outro

 

No entanto, alertou, "ela pode ter início e ser fortalecida somente por meio do reconhecimento do direito do outro de viver com dignidade e ser tratado com respeito. Falo explicitamente de "respeito" -  precisou  - porque alguns tendem a usar esse termo como sinônimo de "tolerância"."

Enquanto isso só pode acontecer em um clima de solidariedade que favorece a convivência, de forma que todos os necessitados possam estar certos de que toda a humanidade evocará no outro o dever de oferecer socorro ao próprio irmão ou irmã. De fato, aqueles de nós que professam a paternidade de Deus, também professam a "fraternidade" dos seres humanos e a prática do amor de Deus e do amor do outro como prova irrefutável de nossa fé".

Disto o convite, "hoje mais do que nunca", para "sair da escuridão da suspeita, da desconfiança, do ódio e da violência, para entrar na maravilhosa luz da fraternidade, amizade e comunhão".

Manipulação do ponto de vista religioso ou político para obter vantagens egoístas

 

A exortação do cardeal Ayuso Guixot foi clara: "embora hoje em muitas partes do mundo se propaguem sentimentos de ódio entre as pessoas, e em particular entre os seguidores de diferentes tradições religiosas, e algumas culpem as religiões", é urgente esclarecer "sobre o fato de que as religiões não são e não podem ser a causa de problemas, mas fazem parte das soluções.

O problema - observou - está nos crentes, em cada um de nós, que não conseguimos e, às vezes, também nos recusamos em viver a fé por causa de nossos interesses ou daqueles que querem nos manipular do ponto de vista religioso ou político para obter vantagens egoístas".

Preservar e fazer progredir o que é verdadeiro e santo

 

Ao concluir, o palestrante identificou quatro imperativos: "viver autenticamente os ensinamentos de nossas religiões; adquirir delas o conhecimento para reconhecer, preservar e fazer progredir o que é verdadeiro e santo nelas; garantir a cada um espaço legítimo para praticar e propagar a própria religião sem medos nem favoritismo; construir pontes para dar esperança em quaisquer situação de dificuldades”.

(L’Osservatore Romano)

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui

23 outubro 2019, 19:54