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Domenico Giani (à direita), na Audiência Geral da última quarta-feira Domenico Giani (à direita), na Audiência Geral da última quarta-feira  

Giani: agradecido por ter servido o Papa com honra até o último momento

O Comandante da Gendarmaria, Domenico Giani, enfatiza à mídia vaticana a gratidão ao Papa pelo serviço que pôde prestar no Vaticano nos últimos anos.

de Alessandro Gisotti

Um momento delicado, de grande provação pessoal, mas vivido interiormente com serenidade, encorajado pela confiança e pelo apoio do Santo Padre, de sua família e de muitos colaboradores e pessoas que de várias maneiras, nestes anos, o conheceram e apreciaram suas qualidades humanas e profissionais.

Domenico Giani, comandante do Corpo da Gendarmaria, em entrevista à mídia vaticana, confia os sentimentos com que deixa o serviço e sublinha a gratidão ao Papa que reconheceu sua honra, lealdade e fidelidade em seu trabalho diário.

Após 20 anos de serviço ao Papa e à Santa Sé à frente do Corpo da Gendarmaria, o deixa em um momento delicado e certamente não fácil a nível pessoal Com que sentimentos você vive esse momento?

Vivo esse momento difícil com a serenidade interior que, aqueles que me conhecem, sabem que marcou meu estilo de vida mesmo diante de eventos dolorosos. Dediquei 38 anos da minha vida ao serviço de instituições, primeiro na Itália e depois por 20 anos no Vaticano, ao Romano Pontífice. Nestes anos, gastei todas as minhas energias para assegurar o serviço que me foi confiado. Tentei fazê-lo com abnegação e profissionalismo, mas sentindo-me, como nos recorda o Evangelho de dois domingos atrás, serenamente um "servo inútil" que fez sua pequena parte até o fim.

No comunicado divulgado pela Sala de Imprensa, é enfatizado que você renunciou ao cargo mesmo não tendo "nenhuma responsabilidade subjetiva" no acontecimento ...

Os fatos recentemente ocorridos provocaram grande dor ao Santo Padre e isso me tocou profundamente. Já se passaram 15 dias desde a publicação do documento enviado para uso interno exclusivo da Gendarmaria e da Guarda Suíça. Conforme indicado no comunicado da Sala de Imprensa de 1º de outubro, está em andamento uma investigação e as pessoas envolvidas são objeto de um procedimento administrativo. O vazamento deste documento, publicado por alguns meios de comunicação, certamente feriu a dignidade dessas pessoas. Também eu, como comandante, senti vergonha pelo que aconteceu e pelo sofrimento causado a essas pessoas. Por esse motivo, tendo sempre dito e testemunhado estar pronto para sacrificar a minha vida para defender a vida do Papa, com esse mesmo espírito, tomei a decisão de colocar meu encargo à disposição para não prejudicar de maneira alguma a imagem e a atividade do Santo Padre. E assim, assumindo a "responsabilidade objetiva" que somente um comandante pode sentir.

 

O Papa enfatizou que tanto a renúncia quanto o serviço prestado nesses anos "honram a sua pessoa". Quão importante é isso para você?

Durante as conversas que tive com o Santo Padre nestes dias, sempre senti aquela paternidade que marcou o especial relacionamento que tive com ele, desde o início do Pontificado, e acredito poder dizer que isso era visível para todos. Sempre senti nesses encontros o sofrimento do Santo Padre na decisão compartilhada. O Papa, no entanto, também sabia de algumas dificuldades pessoais que eu carregava há meses e também um desejo de dedicar mais tempo à minha família, à minha esposa e aos meus filhos. Estou, portanto, profundamente agradecido ao Santo Padre, porque o fato de atestar minha lealdade, honra e fidelidade com a qual realizei meu serviço, me ajuda a enfrentar com serenidade o futuro e os novos compromissos que poderei assumir, no âmbito de minhas competências, após essa experiência extraordinária.

Em 20 anos, a Gendarmaria serviu três Pontífices. Para a mídia, é o "anjo da guarda" do Papa por seu papel na proteção da pessoa do Santo Padre. O que essa experiência única lhe traz a nível pessoal?

Tive a honra de servir três Papas. Antes de tudo, recordo-me com grande emoção de São João Paulo II, que me chamou para servir no Vaticano e a quem acompanhei até os últimos momentos de sua vida. Desfrutei e continuo desfrutando da estima e do carinho de Bento XVI, ao lado de quem enfrentei questões muito delicadas, sempre recebendo seu apreço e sua confiança. O Pontificado do Papa Francisco, por seu estilo marcado pela proximidade com as pessoas e pela espontaneidade nos gestos, foi outro grande desafio, com momentos significativos e particulares: recordo-me, de forma especial, de sua peregrinação a Lampedusa, a Viagem Apostólica ao Brasil para a JMJ e à República Centro-Africana. Se fecho meus olhos, surgem diante de mim cenas intermináveis ​​das quase 70 Viagens Apostólicas internacionais que acompanhei, das inúmeras visitas pastorais em Roma e na Itália, e de tantos momentos privados com os três Pontífices. Além disso, gosto de lembrar que, sob meu comando, a Gendarmaria desenvolveu toda uma série de atividades e serviços de caridade aos últimos, conforme o Evangelho nos pede.

Que mensagem você deixa para seus homens, para o Corpo da Gendarmaria, que você guiou nesses anos não muito fáceis?

Na ocasião da última festa do Corpo, concentrei-me em algumas qualidades que deveriam distinguir nossos homens: a disciplina, a obediência, a fraternidade, a caridade e a humanidade. A este desejo, acrescentaria a unidade na fidelidade, apesar de algumas situações fisiológicas que me causaram desgostos compreensíveis. O Corpo, como também enfatizei ao Santo Padre nestes dias, é saudável e bem preparado. Sempre procurei, junto com meus colaboradores, formar pessoas que poderiam ser bons gendarmes e, com a preciosa ajuda de capelães, também bons cristãos. Estou certo de que aqueles que entram neste delicado serviço encontrarão um terreno fértil, o mesmo que eu recebi do falecido Comendador Cibin a quem dedico uma deferente memória. Um último pensamento, cheio de minha gratidão e de amor, vai para minha esposa Chiara e meus filhos Luca e Laura. Eles sustentaram uma vida cheia de satisfação, mas também de grandes sacrifícios e renúncias. A Providência, a qual sempre faço referência, não obstante o momento de incerteza também pessoal pelo qual estou passando, nos indicará o caminho que certamente é o do Senhor.

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14 outubro 2019, 15:22