Professor fala da importância de desenvolver a sensibilidade dos jovens para questões sociais Professor fala da importância de desenvolver a sensibilidade dos jovens para questões sociais 

É urgente formar líderes políticos católicos, afirma professor brasileiro

O decano da Escola de Humanidades da PUCRS, de Porto Alegre, Draiton Gonzaga de Souza, esteve em Roma nesta semana para um seminário internacional sobre educação e democracia. Em entrevista ao Vatican News, abordou a questão da formação de líderes católicos na política, com o tesouro da Doutrina Social da Igreja em mãos, e disse: “temos que ir à praça pública, o cristão não pode ficar encerrado no seu mundo.”

Andressa Collet – Cidade do Vaticano

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Um leque internacional de pesquisas e experiências vividas em instituições educacionais católicas, provenientes das mais diferentes realidades universitárias do mundo, foi a base de um evento realizado durante dois dias (16 e 17 de setembro), na sede da Fundação Pontifícia Gravissimum Educationis. O pequeno grupo de professores em imersão em Roma representava mais de mil instituições ao redor do mundo, em atuação com 11 milhões de estudantes.

Em preparação para evento com o Papa

Com a temática “Democracia: uma urgência educativa em contextos pluriculturais e plurirreligiosos”, o seminário foi o primeiro de uma série de eventos que preparam ao encontro convocado pelo Papa Francisco para 14 de maio de 2020. A iniciativa mundial é para reconstruir o pacto educativo global, numa união de esforços para uma “ampla aliança educativa para formar pessoas maduras, capazes de superar fragmentações e contrastes”.

Para o seminário internacional de Roma, cerca de 30 especialistas, na maioria professores universitários, vieram desde a Índia, Filipinas, Líbano, Estados Unidos, Moçambique, Itália, Ucrânia e inclusive de países da América Latina, como o Brasil, o Chile, o Peru e o México.

Através da pesquisa e da formação, o projeto da Fundação com 14 universidades envolvidas no mundo, tem o intuito de ser um canal multiplicador de experiências inovadoras, informar as práticas democráticas pelos valores da paz, da solidariedade e do bem comum. Além disso, também promover, acompanhar e aumentar as vocações políticas.

O exemplo que vem do Brasil

Um dos projetos apresentados veio direto do Rio Grande do Sul com Draiton Gonzaga de Souza, da Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre. A PUC do RS é uma universidade de referência nacional, segundo rankings do governo do Brasil. O Doutor em Filosofia é decano da Escola de Humanidades dentro da própria instituição, que reúne 11 cursos de graduação e pós-graduação para aproximar professores e ações em campos comuns do ensino.

Em Roma, o professor apresentou a criação de um projeto da própria Escola de Humanidades em parceria com o Centro de Estudos Europeus Alemães – mantido pelo Ministério de Relações Exteriores e Embaixada da Alemanha, onde se encontra um fórum de fomento ao estado democrático de direito. O projeto brasileiro prevê pesquisas sobre o tema da democracia, interculturalidade e educação, “relacionando, então, a dimensão cristã da formação integral do ser humano à luz dos documentos pontifícios”, disse o brasileiro.

Promoção de líderes para a vida pública

Quando se analisa o papel da educação para fortalecer a democracia, o professor fala da importância de desenvolver a sensibilidade dos jovens para as questões sociais, através da promoção de líderes para atuar na vida pública. Ao formar pessoas disponíveis ao serviço da comunidade se propaga os valores do bem comum, da solidariedade e da igualdade, por exemplo.

“A política é algo que acontece com a nossa intervenção ou sem a nossa intervenção. É como aparece em Sartre, filósofo francês: eu não tenho como não decidir, quando eu decido não decidir, eu estou decidindo. Então, se eu decido não participar, eu assumo postura política também. Muitos dizem: ‘ah, a política é lugar de corrupção, de indecência e etc’, então, eu não vou me envolver com isso, ‘não quero me sujar’. Só que nós, como cristãos católicos, temos a tarefa de impregnar a sociedade com valores cristãos. E nada vai mudar se acharmos que a política não é para  nós."

“Eu considero urgente a tarefa de formação de líderes católicos na política também. E temos um tesouro que é a Doutrina Social da Igreja.”

A educação para a verdade e os valores

Ao formar agentes jovens para o futuro, o professor lembra ainda da importância de não se saber apenas sobre a própria profissão, mas ter uma visão mais ampla social – sobretudo para saber usar da melhor maneira os instrumentos da nova era digital. O professor Draiton, então, deu o exemplo do Brasil para abordar o tema da participação democrática e o acesso à informação objetiva e verdadeira.

“Nas eleições presidenciais do Brasil no ano passado, aconteceu um fenômeno novo. Antigamente a televisão tinha uma forte influência na formação da opinião do eleitor e agora nós temos um fenômeno novo que é das redes sociais. Então, em grande parte, a campanha eleitoral para a presidência foi feita através do Whatsapp, do Twitter, do Facebook, e não mais pela TV. E a questão do acesso à informação correta, esse também é um problema que nos ocupa: a questão das Fake News, dentro do processo de educação para a democracia, isto é, na perspectiva cristã à oposição às Fake News é a educação para a verdade, a educação para valores. Mas redes sociais também há muita mentira, mas não é postura correta católica cristã de nós nos ausentarmos do debate." 

“Temos que ir para a praça pública, o cristão não pode ficar encerrado no seu mundo.”

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18 setembro 2019, 14:52