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Infância negada

Toda criança tem o direito de ser livre e de viver uma infância serena. “não podemos roubar dela a capacidade de sonhar".

Silvonei José - Cidade do Vaticano

Enquanto no Brasil, no dia 12 de junho celebrávamos o dia dos namorados, dia da construção de um amor a dois, o mundo inteiro recordava o Dia Mundial contra a exploração do trabalho infantil. Triste a constatação: no mundo de hoje, com todo o desenvolvimento que o homem atingiu, são mais de 152 milhões as crianças que trabalham. Crianças que em tenra idade já conheceram o peso de uma vida dura e a negação do direito de ser criança, em todas as suas etapas; tiveram a sua infância negada.

Se vivessem todas essas crianças em um único país elas constituíram o nono Estado mais populoso do mundo, mais do que o dobro da Itália; maior do que a Rússia. São os 152 milhões de pequenos entre os 5 e 17 anos, um entre 10 no mundo. Na África 1 em cada 5. Quase metade deles estão em trabalhos duros e perigosos, que colocam em risco sua saúde e segurança, com graves repercussões também do ponto de vista psicológico.

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Do coração do Papa brotou um apelo sincero  por ocasião desse Dia Mundial: "Como adultos – advertiu em um tuite - não podemos roubar das crianças a capacidade de sonhar". Então o apelo ao mundo dos adultos: "Procuremos favorecer um contexto de esperança, onde os seus sonhos cresçam e sejam partilhados: um sonho partilhado abre o caminho para um novo modo de viver”.

O Dia Mundial foi lançado pela Organização Internacional do Trabalho em 2002 para chamar a atenção sobre a difusão global do trabalho infantil e sobre as medidas a serem tomadas para eliminar esse fenômeno.

O trabalho infantil, de fato, é um fenômeno com dimensões significativas recordam Unicef ​​e Save the Children. Atualmente 64 milhões de meninas e 88 milhões de meninos são privados de uma infância à qual têm direito, privados da escola e dos cuidados de que necessitam, e da oportunidade de construir um futuro melhor para si e para a família. 7 em cada 10 são usados na agricultura, o restante trabalha no setor de serviços ou na indústria, em minas, em pedreiras, em trabalhos domésticos: 15,5 milhões estes últimos, talvez os mais expostos a vários perigos. Uma chaga  que segundo Save the children não poupa os países considerados mais avançados sob o aspecto da tutela dos direitos.

Apesar dos progressos significativos realizados nos últimos anos, o mundo ainda está longe de atingir o objetivo de erradicar toda forma de trabalho infantil até 2025, como previsto nos Objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. Se continuarmos nesta mesma marcha teremos ainda naquele ano 121 milhões de menores que serão explorados no mundo do trabalho.

O Unicef, por exemplo, considera que "entre 2008 e 2012, o trabalho infantil diminuiu apenas 1% e os progressos na redução do trabalho das meninas foram 50% menor se comparados com os dos meninos".

O trabalho infantil é tanto uma causa como uma consequência da pobreza, reforça as desigualdades e a discriminação social. Impede a melhoria das condições de vida de uma família porque não faz nada além de perpetuar o estado de coisas. Em suas piores formas, o trabalho infantil se transforma em escravidão, exploração econômica e sexual, especialmente para meninas, e pode levar à morte.

Em quase todas as regiões do mundo, meninos e meninas têm a mesma probabilidade de serem envolvidos em trabalho infantil, com exceção da América Latina e do Caribe, onde os meninos são mais propensos do que as meninas a trabalhar: 13% dos meninos contra 8% das meninas.

É preciso concentrar as forças em duas áreas fundamentais: a pobreza, combater a pobreza, dar instrumentos às pessoas, às famílias para poderem melhorar a sua condição econômica, e em segundo lugar a educação, permitir que as crianças e jovens frequentem a escola.

De acordo com Filippo Ungaro, porta-voz de Save the Children, aumentar o acesso à educação e fortalecer as estratégias de redução da pobreza, são as duas medidas que podem ajudar a reduzir e até mesmo eliminar o trabalho infantil. O fundamental, depois, é tornar as crianças visíveis, porque muitas não existem, um fenômeno ainda muito difundido.

Toda criança tem o direito de ser livre e de viver uma infância serena. “não podemos roubar dela a capacidade de sonhar". 

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15 junho 2019, 08:00