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A rede do terceiro milênio

O mundo se modificou depois da criação do www. A world wide web foi uma inovação não só tecnológica, mas cultural, que em pouco tempo globalizou o conhecimento, invadiu todas as áreas da vida individual e coletiva.

Silvonei José - Cidade do Vaticano

Nesta semana comemoramos uma data que passou, talvez para muitos, desapercebida; os 30 anos da invenção da WEB, dessa rede que ao longo das últimas três décadas mudou a vida e o comportamento de bilhões de pessoas. Sim, porque a “rede do terceiro milênio”, como é conhecida,  é habitada por mais da metade da população do mundo.

No, não tanto distante 12 de março de 1989, mas uma eternidade se pensarmos em termos de avanços tecnológicos nascia a World Wide Web, concebida pelo engenheiro informático inglês, Tim Berners-Lee, um jovem pesquisador do CERN de Genebra; ele tinha 34 anos quando propôs organizar eficientemente as inumeráveis informações coletadas durante seus estudos no maior laboratório do mundo de física nuclear, através de um sistema baseado em 'hipertextos' e 'links', que permitia a conexão entre eles de diferentes documentos contidos nos computadores.

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Depois do código do World Wide Web, criou-se uma nova linguagem de programação chamada Html (hypertext markup language). O que significa isso: foi dado a cada destino da web um nome específico, denominado Url (universal resource locator), e foi projetado o Http (hypertext transfer protocol): um conjunto de regras que permitia a troca de informações em tempo real na internet. Chegara o momento para que a tecnologia www saísse dos laboratórios e se estendesse a todos, e o mais importante, gratuitamente.

O mundo se modificou depois disso. A world wide web foi uma inovação não só tecnológica, mas cultural, que em pouco tempo globalizou o conhecimento, invadiu todas as áreas da vida individual e coletiva, marcando o início - segundo alguns pensadores - de uma nova era antropológica. Enquanto isso, o cenário de referência mudou profundamente.

Mas com toda essa inovação e possibilidade de acesso e navegação para bilhões de pessoas um dado emerge quase em sentido contrário: são poucas as pessoas que a dominam e a administram, com acesso a dados sensíveis das pessoas e atividades que ali se desenvolvem e lucrando com isso. Isso ocorreu na ausência de regras que pudessem definir e proteger a natureza do bem comum da rede. Mais tarde tentaram legislar, quando os poderes já estabelecidos são um forte inexpugnável para parlamentos e governos, atravessados ​​por pressões de lobbys de interesses ligados à mídia, economia e política.

Certamente o nascimento da world wide web suscitou uma onda de grande otimismo que hoje deu lugar a interrogativos, dúvidas e desafios a serem enfrentados. Este “mundo paralelo” criou, como sabemos, uma globalização dos mercados. A tecnologia favoreceu muito isso. Depois se desenvolveu a globalização dos serviços de internet e nos anos 2000-2002, quando começaram os primeiros blogs e as redes sociais. Foi oferecida a capacidade e  possibilidade a qualquer pessoa de se expressar sobre tudo, mas isso aconteceu sem parâmetros de referência e sem muitos critérios de regulamentação. Hoje nos deparamos com problemas consideráveis ​​em relação à privacidade e ao controle dos usuários.

Necessitamos de cooperação na web com os governos, a população, legisladores que tomem decisões e atuem quando os interesses do setor privado ameaçam os bem público.

Hoje estamos vivendo em um emaranhado de situações novas sobre as quais devemos refletir e pensar. Criamos a possibilidade de novos conhecimentos, mas perdemos a capacidade de memória; não temos mais necessidade disso. Criamos um universo de amigos digitais e poucos reais. Não aprendemos mais a socializar, a se encontrar uns com os outros: sentimo-nos sozinhos em mundo habitado por milhões de pessoas, isolados com o olhar fixo em uma tela. É preciso refletir qual a contribuição dessa grande conquista do homem. Certamente nem tudo é culpa do instrumento tecnológico, mas talvez da própria sociedade que produz a cultura do egoísmo, do individualismo. A nova tecnologia talvez tenha só acentuado o “eu” no lugar do “nós. Mas ainda há tempo para rever conceitos e atitudes. O instrumento deve ser usado e não se deixar manipular por ele. Deve contribuir e não tirar. Deve abrir os horizontes das pessoas e não fechá-las em quatro paredes, fixando-as em uma tela.

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16 março 2019, 08:00