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Cristãos perseguidos Cristãos perseguidos 

Editorial: Coração ferido, mas esperançoso

Um cristão a cada sete, vive em um país onde a perseguição é uma realidade dramática, para um total de mais de 300 milhões de fiéis que sofrem discriminação e perseguição.

Silvonei José – Cidade do Vaticano

Quando na nossa realidade, no nosso país, a nossa Igreja promove um ano especial dedicado a um tema específico, certamente nós como fiéis aproveitamos a iniciativa e nos dedicamos a ela com afinco. O que para nós pode parecer uma grande normalidade, e para muitos até mesmo uma banalidade, no sentido que é evidente uma reação do fiel diante da proposta da sua Igreja, em outros países, em outras circunstâncias isso pode ser totalmente diferente.

Estamos falando daqueles lugares onde a liberdade de professar a própria fé é um verdadeiro calvário. Falamos de lugares onde a perseguição religiosa é de casa. Quanto nós brasileiros estamos distantes destas realidades terríveis onde o simples fato de carregar uma Bíblia ou um crucifixo no pescoço pode levar a consequências terríveis, até mesmo à morte.

Ser cristão não é fácil

Nos dias passados concluiu-se no Paquistão o ano dedicado à Eucaristia. Um país onde ser cristão, católico, não é muito simples. Para os fiéis desta terra foi um ano de crescimento espiritual, de renovação interior. Os doze meses de reflexões, catequeses e conferências sobre o “Pão da Vida” permitiram à pequena Igreja paquistanesa, perseguida e na dor, “crescer no amor pelo sacrifício eucarístico, fonte e ápice da vida cristã”, como auspiciara o Papa Francisco em sua mensagem enviada à Conferência episcopal local. “É verdade, o Ano da Eucaristia foi vivido com grande fervor e entusiasmo tanto pelos religiosos quanto pelos fiéis. Cada um fazendo a sua parte”, contou comovido Pe. David John, sacerdote da Diocese de Islamabad.

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Todos estão convictos de que os frutos deste ano não tardarão, apesar do ataque contínuo contra os cristãos e das grandes dificuldades em que se encontra o país asiático. “Os bispos paquistaneses desejam vários frutos, ligados às diferentes situações em que o país se encontra: da situação social à religiosa, sem esquecer a situação econômica. Todos os dias nossa pequena comunidade deve enfrentar desafios complexos, mas estou certo de que o Ano da Eucaristia que vivemos será fonte de plenitude e alegria”, acrescentou o sacerdote.

Eucaristia é força

Assim, a comunidade católica daqueles país redescobriu na Eucaristia a força para enfrentar as violências, as arbitrariedades e as injustiças às quais é sistematicamente submetida. E para viver e realizar tudo isso, a Eucaristia é a fonte verdadeira da coragem. Diante da violência – é o pensamento do sacerdote local – “devemos ter uma atitude eucarística: não responder com o mal, mas confiando a Deus nosso sofrimento e rezando pela paz”.

A Igreja naquele país é perseguida. Os cristãos sofrem em silêncio. “Não podemos elevar a voz contra as injustiças e, por conseguinte, precisamos de alguém que se torne nossa voz para dizer ao mundo que os cristãos no Paquistão necessitam de ajuda. Este Ano eucarístico ofereceu a toda a comunidade cristã a oportunidade para demonstrar ser sal e luz em nosso país”, disse por fim Pe. David John.

No início do ano, mais precisamente em meados de março os bispos paquistaneses se encontram com o Papa e convidaram ele a visitar o Paquistão. O convite foi compartilhado pelo governo paquistanês. Em 2015, o então primeiro-ministro Nawaz Sharif enviou dois ministros a Roma para entregar um convite ao Papa.

Papa Francisco, homem de paz

O Papa Francisco é muito estimado por todos os paquistaneses, incluindo os muçulmanos. Consideram-no um homem de paz e apreciam os seus vários passos rumo à comunidade islâmica, como por exemplo as boas relações com al-Azhar.  Mas a minoria cristã do Paquistão continua sofrendo, sobretudo por causa dos ataques contra igrejas. Foram registrados no recente passado ataques contra igrejas.

Outra fonte de sofrimento para os cristãos é o mau uso da lei anti-blasfêmia. Recentemente, um jovem cristão de Lahore, Patras Masih, foi acusado de ter ofendido o Profeta Maomé e foi preso.

“Mais uma vez, uma pessoa, na maioria das vezes inocente, é acusada sem nenhuma prova e sem possibilidade de se defender. Esta lei, que causa o sofrimento também aos muçulmanos, é mal usada e faltam procedimentos para administrar corretamente os casos”.

Caminho da justiça

Além disso, a pressão exercida pelos fanáticos islâmicos impede o bom caminho da justiça. Para impedir o abuso da norma é preciso uma mudança na mentalidade paquistanesa.

O problema da lei anti-blasfêmia está incutido na sociedade que ainda não está pronta para administrar propriamente o fator religioso, dizem os analistas locais. A pequena comunidade cristã no Paquistão encontra força na solidariedade internacional.

A Organização Ajuda Igreja que sofre lançou a iniciativa de iluminar o Coliseu de Roma de vermelho. Essas iniciativas mostram ao Ocidente que no mundo existem cristãos que sofrem por viverem em países onde não há divisão entre religião e Estado. Fiéis desta terra e de outras onde há perseguição sabem que outros fiéis distantes conhecem sua situação e rezam por eles. Assim sentem-se menos sozinhos, e mais incentivados.

Um cristão a cada sete, vive em um país onde a perseguição é uma realidade dramática, para um total de mais de 300 milhões de fiéis que sofrem discriminação e perseguição. São carne e sangue de nossos irmãos na fé. Do coração ferido, no silêncio, brota a esperança.

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30 novembro 2018, 15:51