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2018.01.03-Udienza-Generale 2018.01.03-Udienza-Generale 

Convivência ou comunhão?

No último encontro da série de reflexões sobre a vocação do matrimônio à luz do Sínodo da juventude que começou nesta semana no Vaticano, Pe. Douglas aborda a prática da convivência pré-matrimonial e elenca os problemas do medo, da dúvida e da ilusão do “test-drive”

Padre Douglas de Freitas Ferreira - Cidade do Vaticano

Caros amigos e amigas da Rádio Vaticano, bem-vindos ao nosso último encontro da série na qual estamos refletindo sobre a vocação para a vida matrimonial à luz do tema do Sínodo dos bispos: Os jovens, a fé e o discernimento vocacional, que se iniciou no último dia 3 e vai até o dia 28 deste mês de outubro.

No encontro anterior falávamos das três etapas, dentro da preparação próxima e imediata, que antecedem o momento de dizer sim, e ajudam aos casais verificar se existe amor na relação, se são capazes de serem concordes e, sobretudo, se desejam viver para sempre as promessas do matrimônio, sublinhávamos que as virtudes necessárias são a prudência e a castidade.

No programa de hoje, refletiremos sobre uma questão muito difusa e que, para nós cristãos, é um problema sério: a convivência. A proposta para o programa de hoje era diferente, mas alguns ouvintes me pediram para dar uma palavra sobre a questão. Obrigado pela vossa sugestão, podem continuar enviando para nós aquilo que vocês desejam ter esclarecido.

A prática da convivência pré-matrimonial é uma constante verificada entre os jovens antes de dizer o sim definitivo à outra pessoa. A desculpa é a necessidade de se conhecer melhor, numa linguagem atual poderíamos dizer: é como um test-drive da vida matrimonial. No entanto, tal prática, ao que parece, é prejudicial, não somente do ponto de vista religioso, mas também do ponto de vista humano.

O primeiro prejuízo é que a certeza da escolha certa ou errada não pode ser provada com um simples test-drive limitado no tempo. O amor verdadeiro, como havíamos falado no encontro anterior, vê o futuro, ainda que incerto, e tem a coragem de prometer. À promessa do amor não se responde somente com uma parte de nós ou por um período de tempo, o amor promete um dom total de si mesmo, que envolve inclusive o tempo. A convivência é, ao invés, um «contrato» instável, que pode ser desfeito a qualquer momento... ora, mas se é amor, e se existe o sentimento e a vontade de amar para sempre, por que fazer um test-drive? O medo de algo dar errado? A vida matrimonial, como em todos os compromissos sérios da nossa vida, encontrará momentos difíceis, mas não se pode ter medo, devemos encarar as dificuldades da vida e, óbvio, não ser inocente de acreditar que o mundo é sem problemas. Para enfrentar as diversas situações - da vida a dois - é preciso ter um alicerce muito forte.

O segundo problema é que o tipo de relação, porque instável na base, sempre gera a dúvida: mas será que essa pessoa não me abandonará amanhã? A dúvida não ajuda a enfrentar os problemas. No matrimônio existe uma promessa, existe uma palavra que, ainda em meio à instabilidade da fragilidade humana, conhece um ponto forte para enfrentar os problemas e reiniciar, se necessário. 

“A convivência pretende provar/experimentar com reservas e com a possibilidade de «sair correndo». No matrimônio, ao invés, se responde à promessa dando segurança a quem se ama.”

O terceiro problema é que a convivência, uma vez que existe uma dúvida no meio, e é uma espécie de teste, não favorece à união. A lógica é clara: o que não une, separa. A ilusão que dá a convivência é de união, mas é ilusão, no final das contas está separando. O verdadeiro amor une as pessoas e toda a vida. Se pode aplicar isso na vida espiritual. O pecado não é capaz de unir nenhuma pessoa; o pecado é sempre separação, por isso, a convivência seja do ponto de vista humano e espiritual (que não podem nunca ser visto separados) não une, ao invés, separa.

Qual a solução? A solução imediata é interpretar a verdade daquilo que se sente, experimenta. 

“É importante dar nome ao que se sente. É amor? É dependência? É uso? É medo? Se é amor, então, precisa dar um passo para o bem do outro.”

Como havíamos visto em um dos nossos encontros, o amor é um bem para o amado! O bem para o amado é a certeza daquilo que se sente e, por isso, abraçar a vida de comunhão total. Se se ama é preciso deixar o que separa e abraçar o que une. O conselho é enfrentar o caminho de conversão que, no caso do matrimônio, é ser capaz de ser um dom total de si para a outra pessoa e, por isso, deixar de lado a mentalidade de prova/teste; dar nome ao que se experimenta e sendo capaz de abraçar as consequências dessa verdade. 

“O passo que se espera da conversão é abraçar o sacramento do matrimônio.”

Obrigado por ter estado conosco, espero que tenha ajudado você a refletir sobre a grande vocação à vida matrimonial. Como disse São Paulo: esse mistério (do matrimônio) é grande! Até logo! Que Deus te abençoe.

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04 outubro 2018, 14:14