Em busca de um futuro melhor, muitos migrantes acabam vítimas de escravidões modernas Em busca de um futuro melhor, muitos migrantes acabam vítimas de escravidões modernas 

Editorial: Tráfico de seres humanos, “crime vergonhoso”

Em muitas ocasiões o Papa Francisco levantou o véu da indiferença diante deste flagelo pedindo uma maior consciência em nível político e institucional, mas também individualmente.

Silvonei José - Cidade do Vaticano

Um “crime vergonhoso” que deve ser combatido e denunciado por todos. Palavras do Papa Francisco durante o Angelus do último dia 29 de julho, um dia antes da celebração do Dia Mundial contra o Tráfico de Seres Humanos, promovido pelas Nações Unidas. Sem meios termos o Santo Padre fala da chaga que escraviza homens, mulheres e crianças, fala da exploração no trabalho, exploração sexual, comércio de órgãos, mendicância e delinquência forçada. É responsabilidade de todos – disse com voz forte Francisco - denunciar as injustiças e combater firmemente esse crime vergonhoso”.

Cerca de 28% das vítimas do tráfico identificadas em todo o mundo são crianças, denuncia o UNICEF em um relatório recordando que "em regiões como a África Subsaariana, América Central e Caribe, as crianças constituem uma porcentagem ainda maior de vítimas de tráfico identificadas, 64% e 62%, respectivamente ".

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Crianças raramente são identificadas 

O Unicef ​​estima que o número de crianças vítimas de tráfico seja maior do que os dados atuais sugerem. A realidade é que as crianças raramente são identificadas como vítimas de tráfico. Poucos se apresentam com medo dos traficantes, falta de informações sobre as opções disponíveis, desconfiança em relação às autoridades, medo de estigmatização ou a possibilidade de serem repatriados sem qualquer proteção e apoio material.

As crianças refugiados, migrantes e deslocadas "são categorias particularmente vulneráveis ao tráfico - sublinha o Unicef ​​– seja aquelas que estão fugindo de guerras ou violência, seja aquelas que estão procurando melhores oportunidades de formação ou sustento; um pequeno número de crianças encontra maneiras de se mover regularmente e com segurança com suas famílias. Isso aumenta as chances de que as crianças e os membros de suas famílias usem rotas irregulares e mais perigosas ou que as crianças se movam sozinhas, fator que as tornam mais vulneráveis ​​a violências, abusos e exploração por parte de traficantes.

O tráfico é uma ameaça extremamente concreta

Para Henrietta Fore, Diretora Geral do Unicef, "o tráfico é uma ameaça extremamente concreta para milhões de crianças na mundo, especialmente para aquelas que foram forçadas a deixar o
suas casas e comunidades sem proteção adequada. Essas crianças precisam urgentemente de ações de governos que intensifiquem e atuem medidas para mantê-las seguras”.

Em muitos contextos, faltam soluções sustentáveis ​​para crianças vítimas de tráfico, incluindo cuidados a longo prazo, reabilitação e proteção. Muitos sistemas de proteção da infância e adolescência e não têm recursos suficientes e há uma extrema falta de tutores legais e outros mecanismos alternativos de proteção.

De fato, as crianças são frequentemente colocadas em acomodações inadequada, onde elas correm o risco de mais traumas e se tornam ainda mais vítimas.

Uma Indústria macabra, a do tráfico de seres humanos, com um volume de negócios de 150 bilhões de dólares em todo o mundo: só em 2016, quase 10 milhões de crianças e adolescentes, foram forçadas à escravidão, vendidas e exploradas principalmente para fins sexuais e de trabalho, de acordo com o último relatório publicado nos dias passados por várias ONGs. Um número que corresponde a um quarto do total de pessoas nessa condição, mais de 40 milhões, dos quais sete em cada dez são mulheres e meninas. Nos 28 países da União Europeia é 30.146, dos quais mais de mil menores, as vítimas registradas de tráfico e exploração, em comparação com as estimativas de que cerca de 3,6 milhões de pessoas escravizadas na Europa em 2016.

Papa Francisco levantou o véu 

Em muitas ocasiões o Papa Francisco levantou o véu da indiferença diante deste flagelo pedindo uma maior consciência em nível político e institucional, mas também individualmente. Assim é necessário compartilhar conteúdo com todos para aumentar a conscientização sobre um problema negligenciado. Esse trabalho de conscientização deve começar em casa, por nós mesmos, porque só assim poderemos tornar nossas comunidades conscientes, motivando-as a se comprometerem para que nenhuma pessoa possa jamais ser a vítima de tráfico de seres humanos.

“O lucro da escravidão deve parar agora! Esses corpos não estão à venda”, diz uma campanha promovida pelo Dicastério vaticano para o serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

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04 agosto 2018, 08:00