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Francisco ao entregar o Prêmio Paulo VI ao presidente da Itália, Sergio Mattarella Francisco ao entregar o Prêmio Paulo VI ao presidente da Itália, Sergio Mattarella 

Papa a presidente da Itália: prêmio por dedicação ao bem do país inspirada em valores cristãos

Francisco entrega o Prêmio Paulo VI ao presidente Sergio Mattarella e recorda o convite do Papa Montini à responsabilidade pelo bem comum: é necessário andar contra a maré "em relação ao clima de derrotismo e reclamação, para sentir as necessidades dos outros como as suas próprias".

Tiziana Campisi - Vatican News

Acredito que hoje a entrega do Prêmio Paulo VI ao presidente Mattarella seja realmente uma bela ocasião para celebrar o valor e a dignidade do serviço, o mais elevado estilo de vida, que coloca os outros acima das próprias expectativas.

O serviço é o que faz da ação política uma forma de caridade, afirmou Francisco na manhã desta segunda-feira (29), na Sala Clementina do Palácio Apostólico, por ocasião da entrega do prêmio que leva o nome do Papa Montini ao presidente da Itália, que renunciou o seu descanso depois de tantos anos de trabalho justamente para prestar seu serviço ao Estado. O reconhecimento, criado por iniciativa do Instituto Paulo VI para assinalar personalidades eminentes que se distinguiram nos vários âmbitos da cultura e na promoção da justa convivência humana e que, de diferentes maneiras, testemunham a vitalidade do legado espiritual do Papa Montini, é conferido a Mattarella, pode-se ler na motivação, "por sua dedicação ao bem comum em um compromisso político inspirado nos valores cristãos e, ao mesmo tempo, rigoroso no serviço das instituições civis".

Em seu discurso, o Pontífice lembra que o próprio Paulo VI, aos representantes da União dos Democratas Cristãos, em 1972, "disse que aqueles que exercem o poder público devem se considerar 'como servidores de seus compatriotas, com o desinteresse e a integridade que convém à sua alta função'". Em uma Audiência Geral - em 9 de outubro de 1968 - Montini especificou que "o dever do serviço é inerente à autoridade" e que "quanto maior o dever, maior a autoridade". Mas "a tentação generalizada, em todas as épocas, mesmo nos melhores sistemas políticos" é a de "servir-se da autoridade em vez de servir através da autoridade", observa Francisco, destacando como "é fácil subir em um pedestal" e difícil, ao invés disso, "abaixar-se para servir aos outros".

O serviço e a responsabilidade

O Papa enfatiza que "servir gera alegria e faz bem, antes de tudo, a quem serve" e recorda, a esse respeito, o que Alessandro Manzoni, definido por Paulo VI como "gênio universal", "tesouro inesgotável de sabedoria moral", "mestre da vida", escreveu em "I promessi sposi": "deveria se pensar mais em se fazer o bem do que em estar bem: e assim também se acabaria ficando melhor".

Mas o serviço corre o risco de continuar sendo um ideal bastante abstrato sem uma segunda palavra que nunca pode ser separada dele: responsabilidade. Ela, como a própria palavra indica, é a capacidade de oferecer respostas, com base em seu próprio compromisso, sem esperar que sejam os outros a dá-las. Quantas vezes, Sr. Presidente, antes pelo exemplo do que pelas palavras, o senhor exigiu isso! Também nisso, não podemos deixar de notar, uma fecunda afinidade com Giovanni Battista Montini.

O compromisso de cada um pelo bem comum

E ainda, de Paulo VI, Francisco recorda a Carta Apostólica Octogesima adveniens, onde se enfatiza que "as palavras servem para pouco 'se não forem acompanhadas em cada um por uma consciência mais viva da própria responsabilidade'", porque, continua o documento, "é muito fácil descarregar a responsabilidade da injustiça sobre os outros, se não se está convencido ao mesmo tempo de que cada um participa e de que a conversão pessoal é, antes de tudo, necessária". Uma afirmação que ainda é atual, constata o Papa, "quando acaba sendo quase automático culpar os outros, enquanto a paixão pelo todo enfraquece e o compromisso comum corre o risco de eclipsar as necessidades do indivíduo".

A responsabilidade, por outro lado, como tantos cidadãos da Emília-Romagna nos mostram nestes dias, chama cada um a andar contra a maré em relação ao clima de derrotismo e reclamação, para sentir as necessidades dos outros como se fossem as suas e a se redescobrir como partes insubstituíveis do único tecido social e humano ao qual todos nós pertencemos.

O compromisso com a legalidade

Falando, então, de responsabilidade, Francisco também aborda o "compromisso com a legalidade", que "requer luta", "determinação" e também "memória daqueles que sacrificaram suas vidas pela justiça", como Piersanti Mattarella, irmão do chefe de Estado italiano, "as vítimas do massacre da máfia Capaci".

São Paulo VI observava que, nas sociedades democráticas, não faltam instituições, pactos e estatutos, mas "muitas vezes falta a observância livre e honesta da legalidade" e que ali "o egoísmo coletivo se eleve". Também nessa área, Senhor Presidente, com suas palavras e seu exemplo, corroborados por sua experiência, o senhor representa um professor coerente de responsabilidade.

O sonho de Paulo VI: comunidades solidárias

Por fim, o Papa ressalta a importância que São Paulo VI atribuiu à "responsabilidade de cada um pelo mundo de todos", com seu convite, na Populorum Progressio, a "lutar sem resignação diante dos desequilíbrios da injustiça planetária" e a "enfrentar os desafios climáticos", convencido de que o meio ambiente se tornaria intolerável para o homem "como consequência da atividade destrutiva do próprio homem que, ao dominar a criação, não se encontraria mais no controle dela". Montini "nos deixou o exigente legado de construir comunidades solidárias", reconhece Francisco, acrescentando que o sonho de seu predecessor de "comunidades de participação e vida", que fariam o melhor "para construir uma solidariedade ativa e vivida", "se chocou com vários pesadelos que se tornaram realidade", como a "terrível história de Aldo Moro".

E, no final de seu discurso, o Papa, feliz por entregar ao presidente Mattarella o Prêmio Paulo VI, por ter sido um "testemunho coerente e cortês de serviço e responsabilidade", citou novamente o Papa Montini, que escreveu na Evangelii nuntiandi, escrevia: "o homem contemporâneo escuta com mais boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou, se escuta os mestres, o faz porque eles são testemunhas".

As palavras do Papa foram precedidas por um breve discurso do presidente Mattarella, que, emocionado, agradeceu ao Instituto Paulo VI por ter decidido conceder-lhe o prêmio, e ao Papa Francisco por tê-lo entregue. Em seguida, o Chefe de Estado pediu ao Instituto Paulo VI que destinasse a soma ligada ao prêmio à Comunidade João XXIII, nascida na Emília-Romagna e que tem casas de acolhimento naquela região italiana, "gravemente afetada pelas inundações dos últimos dias". "Penso que com o prêmio, mais do que a minha ação pessoal, pretendeu-se e pretende-se indicar um modo de interpretar o compromisso na sociedade e nas instituições que muitos praticaram e desenvolveram inspirando-se na visão de Paulo VI e nos seus ensinamentos", disse Mattarella, confidenciando que os escritos do Papa Montini "foram pontos fundamentais de orientação". "Com seus ensinamentos", concluiu o Chefe de Estado, "São Paulo VI colocou e transmitiu, em uma visão harmoniosa, clara e realizada, a fé, a dignidade humana, a liberdade e a paz".

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29 maio 2023, 12:20