Papa envia mensagem a Encontro de "Scholas Occurrentes" no México

Francisco: "É o fim que permite que uma história seja escrita, um quadro pintado, que dois corpos se abracem. Mas cuidado, o fim não está só no final".

Cidade do Vaticano

De 28 a 31 de outubro, na Cidade do México, no Colégio Israelita, realizou-se a quarta edição do Encontro Internacional de Jovens, depois das realizadas no Vaticano (2016), Jerusalém (2017) e Argentina (2018). O evento foi organizado em conjunto pela Scholas Occurrentes e World ORT, organização não-governamental judaica que se ocupa de educação e formação profissional. O Papa Francisco enviou uma videomensagem aos participantes em espanhol. Eis na íntegra as palavra do Santo Padre:

Queridos jovens de Scholas Occurrentes, provenientes de tantas nações do mundo, celebro com vocês o fim deste encontro. Quero estar aí, quero ficar aí, no final.

O que seria deste encontro se não tivesse um fim? Talvez não fosse um encontro. E o que seria desta vida se não tivesse também o seu fim?

Sei que alguém vai dizer: "Padre, não seja fúnebre. Mas vamos pensar bem nisto. Eu sei de uma boa fonte que mantiveram inflamada, durante toda a experiência a pergunta sobre a morte. Ai brincaram, pensaram e criaram a partir de suas diferenças.

Bem, eu celebro e agradeço vocês por isso. Porque, sabes de uma coisa? A pergunta sobre a morte é a pergunta sobre a vida, e manter aberta a pergunta sobre a morte, talvez, seja a maior responsabilidade humana para manter aberta a pergunta sobre a vida.

Assim como as palavras nascem do silêncio e terminam ali, permitindo-nos escutar seus significados, assim é com a vida. Isto pode parecer um pouco paradoxal, mas... É a morte que permite que a vida permaneça viva!

É o fim que permite que uma história seja escrita, um quadro pintado, que dois corpos se abracem. Mas cuidado, o fim não está só no final. Talvez devêssemos prestar atenção a cada pequeno fim da vida quotidiana. Não só no final da história, que nunca sabemos quando termina, mas no final de cada palavra, no final de cada silêncio, de cada página que se escreve. Só uma vida que é consciente deste instante que termina, torna este instante eterno.

Por outro lado, a morte nos lembra a impossibilidade de ser, compreender e englobar tudo. É uma bofetada na nossa ilusão de omnipotência. Ensina-nos na vida a relacionarmo-nos com o mistério. A confiança de pular no vazio e perceber que não caímos, que não afundamos, que desde sempre e para sempre há alguém ali para nos sustentar. Antes e depois do fim.

É o "não saber" desta pergunta o lugar da fragilidade que nos abre à escuta e ao encontro com o outro; é esse surgir da comoção que nos chama a criar; e do sentido que nos une para celebrá-lo.

Finalmente, na pergunta sobre a morte, se formam desde sempre – através das épocas e das terras – as diferentes comunidades, povos e culturas. As diferentes histórias que lutam em tantos cantos para se manterem vivas, e outras que ainda não nasceram. É por isso que hoje, talvez como nunca antes, deveríamos abordar esta questão.

O mundo já está configurado, onde tudo está explicado, não há espaço para a pergunta aberta. Isso é verdade? É verdade, mas não é verdade. Esse é o nosso mundo. Foi configurado e não há lugar para a pergunta aberta. Num mundo que cultua a autonomia, a auto-suficiência e a auto-realização, parece não haver lugar para o outro. O mundo dos projetos e da aceleração infinita, da rapidez, não permite interrupções, e assim a cultura mundana que escraviza tenta nos anestesiar para esquecer o que significa pararmos no fim.

Mas o esquecimento da morte é também o seu início, e também, uma cultura que esquece a morte começa a morrer por dentro. Aquele que esquece a morte já começou a morrer.

É por isso que lhes agradeço tanto! Porque tiveram a coragem de abrir esta pergunta e de passar pelo corpo as três mortes que nos esvaziam a vida! A morte de cada instante. A morte do ego. E a morte de um mundo que dá lugar a um novo.

Lembrem-se, se a morte não tem a última palavra, é porque na vida aprendemos a morrer pelo outro.

Finalmente, gostaria de agradecer especialmente ao ORT Mundial e a cada uma das pessoas e instituições que tornaram possível esta atividade em que a cultura do encontro se torna palpável.

E peço a cada um de vocês, por favor, cada um à sua maneira, cada um segundo as suas convicções: não se esqueçam de rezar por mim. Obrigado.

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31 outubro 2019, 20:30