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Papa: em meio à vida de injustiças no mar, o serviço da escuta a pescadores e agentes marítimos

Na audiência desta quinta-feira (27), Francisco recebeu uma centena de capelães, voluntários e diretores nacionais do Apostolado do Mar. O Papa denunciou a vida precária e angustiante do mundo marítimo e encorajou o “serviço da escuta”, com “compaixão e discrição”, para enfrentar as violações dos direitos humanos de quem trabalha no mar.

Andressa Collet – Cidade do Vaticano

Ouça a reportagem com a voz do Papa

O Papa Francisco, entre a série de audiências na manhã desta quinta-feira (27), recebeu uma centena de capelães, voluntários e diretores nacionais do Apostolado do Mar na Sala Clementina, no Vaticano. O grupo, que trabalha nos portos europeus, participou de um encontro em Roma neste mês de junho.

No discurso, o Papa começou lembrando da atuação do apostolado Stella Maris há mais de 300 anos presente em todos os portos do mundo para “oferecer assistência espiritual e material” aos agentes da navegação marítima, pescadores e suas famílias. Sem eles, afirmou Francisco, “a economia global pararia” e “muitas partes do mundo sofreriam a fome”. Afinal, mais de 90% do comércio mundial é transportado pelos navios de todos os tipos, criando “uma dependência indiscutível” da nossa sociedade em relação à indústria marítima, explicou o Pontífice, numa rotina profissional vivida por “longos períodos, a milhares de quilômetros de distância” do país de origem e dos familiares.

Papa denuncia injustiças e abusos no mundo marítimo

“A vida de marítimo ou de pescador não é marcada somente pelo isolamento e pelo afastamento. Às vezes também é ferida por experiências vergonhosas de abusos e injustiças; pelas insídias dos traficantes de pessoas humanas; pelas chantagens do trabalho forçado. Outras vezes não recebem o salário devido ou são abandonados em portos distantes. Além dos perigos da natureza – tempestades e tornados – devem enfrentar aqueles dos homens, como os piratas e os ataques terroristas. Navegam os oceanos e os mares do mundo, desembarcando em portos onde nem sempre são bem acolhidos.”

A hora da escuta no mar

Com a realidade vivida pelo mundo marítimo, “às vezes serena ou inquieta ou angustiante”, o Papa encoraja capelães e voluntários do Stella Maris a seguir na missão de visitar diariamente os navios com “compaixão e discrição”, dando a possibilidade de que as pessoas “abram o coração” num serviço importante de escuta.

“A escuta depois leva à ação. Encorajo, então, a multiplicar os esforços para enfrentar questões que são muito frequentemente o resultado da ganância humana. Penso ao tráfico de seres humanos, ao trabalho forçado e às violações dos direitos humanos e do trabalho de tantos homens e mulheres que vivem e trabalham nos mares. Com esse serviço, vocês podem contribuir a restituir o sentido da dignidade a essas pessoas.”

Serviço pastoral no mar para reencontrar a esperança

O Papa também lembrou em discurso que, em 2020, será celebrado o centenário do Apostolado do Mar com um Congresso Mundial em Glasgow, na Escócia. Uma ocasião, disse Francisco, para “discernir o presente e traçar o futuro” do serviço pastoral e segundo “as exigências do nosso tempo”. Invocando Maria, Estrela do Mar, o Pontífice concedeu a bênção apostólica para ser levada às pessoas encontradas pelos mares, principalmente às mais vulneráveis, para que possam “reencontrar a esperança de um futuro melhor”.

“O empenho de vocês pode ajudá-las a não desistir diante de uma vida precária e às vezes marcada pela exploração. A presença de vocês nos portos, pequenos e grandes, já por si deveria ser uma demonstração da paternidade de Deus e ao fato de que, perante Ele, somos todos filhos e irmãos; um chamado ao valor primário da pessoa humana antes e sobre qualquer interesse; e um estímulo a todos, a partir dos mais pobres, a se empenhar pela justiça e pelo respeito dos direitos fundamentais.”

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27 junho 2019, 11:05