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Papa: opor-se à lógica do mundo que busca o sucesso e construir a paz

Francisco de Assis "pede a vocês para serem menores, seguindo o exemplo de Jesus que não veio para ser servido, mas para servir", disse o Papa aos Frades Menores Conventuais.

Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (17/06), na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Capítulo Geral da Ordem dos Frades Menores Conventuais.

O Pontífice lembrou que, recentemente, a Santa Sé aprovou as Constituições renovadas da ordem. “As Constituições são um instrumento necessário para defender o patrimônio carismático de um Instituto e garantir a transmissão futura. As Constituições expressam a modalidade concreta da sequela de Cristo proposta pelo Evangelho, regra absoluta de vida para todos os consagrados e particularmente para os seguidores de São Francisco de Assis, que na profissão, se comprometem a «viver segundo o santo Evangelho»”, sublinhou o Papa.

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“O Evangelho é para vocês, queridos irmãos, regra e vida. A missão de vocês é ser evangelho vivo, «exegese viva da Palavra»”, disse ainda o Pontífice.

“Este caminho de sequela se destaca pela fraternidade, que Francisco sentia como um dom.”

«O Senhor me concedeu irmãos». A fraternidade é um dom que deve ser acolhido com gratidão. É uma realidade sempre em caminho, em construção e pede a contribuição de todos, sem que ninguém se exclua ou seja excluído”, uma realidade “em que não há consumidores, mas construtores. Uma realidade em que podem ser vividos percursos de aprendizagem contínua, de abertura ao outro, de intercâmbio, uma realidade acolhedora, disposta e disponível a acompanhar, uma realidade em que é possível fazer uma pausa na vida cotidiana para cultivar o silêncio e o olhar contemplativo e reconhecer nela a marca de Deus, uma realidade em que todos se consideram irmãos, seja os ministros seja outros membros da fraternidade, uma experiência em que cada um é chamado a amar e nutrir o seu irmão, como uma mãe que ama e alimenta o próprio filho.”

Alimentar a fraternidade

O Papa convidou os Frades Menores Conventuais a alimentar a fraternidade com o espírito da santa oração e devoção, “ao qual todas as outras coisas temporais devem servir”. “Dessa forma, a sua vida fraterna em comunidade se torna uma forma de profecia na Igreja e no mundo; e se torna uma escola de comunhão, que deve ser praticada, seguindo o exemplo de São Francisco, em relação de amor e obediência aos Pastores”.

A seguir, o Papa destacou outra característica da forma de vida dos Frades Menores Conventuais: a minoria.

“Esta é uma escolha difícil porque se opõe à lógica do mundo que busca o sucesso a todo custo, deseja ocupar os primeiros lugares e ser considerado como senhores.”

“Francisco pede a vocês para serem menores, seguindo o exemplo de Jesus que não veio para ser servido, mas para servir e nos diz: «Quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se o servidor de vocês, e quem de vocês quiser ser o primeiro, deverá tornar-se o servo de todos». Que esta seja a única ambição de vocês: ser servos, servir uns aos outros. Se vocês viverem assim, a sua existência será uma profecia neste mundo em que a ambição do poder é uma grande tentação.”

Paz e reconciliação

“Preguem a paz. A saudação franciscana que os distingue é ‘Paz e bem’! “Shalom we tob”, disse o Papa em hebraico, ressaltando que a tradução é “reconciliação, reconciliação com si mesmo, com Deus, com os outros e com as criaturas, ou seja, viver em harmonia: paz que leva à harmonia”.

“É uma reconciliação em círculos concêntricos, que parte do coração e se estende ao universo, mas na realidade tem início do coração de Deus, do coração de Cristo."

“A reconciliação é o prelúdio da paz que Jesus nos deixou. Uma paz que não é ausência de problemas, mas que vem com a presença de Deus em nós e se manifesta em tudo o que somos, fazemos e dizemos.”

"Que vocês sejam mensageiros da paz, primeiramente com a vida e depois com as palavras. Que vocês sejam instrumentos de perdão e misericórdia em todos os momentos. Somente quem tem o coração reconciliado pode ser “ministro” da misericórdia, construtor da paz.”

Formação adequada

Segundo o Papa, para tudo isso é necessária uma formação adequada. “Um caminho de formação que favoreça nos irmãos a plena conformação a Cristo. Uma formação integral que envolva todos as dimensões da pessoa. Uma formação personalizada e permanente, como um itinerário que dura a vida toda. Uma formação do coração que muda a nossa maneira de pensar, sentir e se comportar."

“Uma formação à fidelidade, bem consciente de que hoje estamos vivendo na cultura do provisório, em que o ‘para sempre’ é muito difícil e as escolhas definitivas não estão na moda.”

Nesse contexto, Francisco sublinhou “a necessidade de formadores sólidos e experientes na escuta e nos caminhos que levam a Deus, capazes de acompanhar os outros ao longo deste caminho”.

“Formadores que conhecem a arte do discernimento e do acompanhamento. Só assim poderemos conter, pelo menos em parte, a hemorragia dos abandonos que afeta a vida sacerdotal e consagrada”, concluiu o Papa.

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17 junho 2019, 13:09