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Papa Francisco: prisões precisam ser laboratórios de humanidade e esperança

O Pontífice recebeu em audiência nesta quinta-feira (07/02), na Sala Paulo VI, no Vaticano, cerca de 600 funcionários da Penitenciária Regina Coeli, de Roma. No discurso, o Papa afirmou que as prisões podem se transformar em lugares para se mudar de vida “através de percursos de fé, de trabalho e de formação profissional, mas sobretudo de proximidade espiritual e de compaixão, seguindo o exemplo do Bom Samaritano”.

Andressa Collet – Cidade do Vaticano

O Papa Francisco recebeu em audiência nesta quinta-feira (07/02), na Sala Paulo VI, no Vaticano, cerca de 600 funcionários da Penitenciária “Regina Coeli”, de Roma, uma prisão que nasceu no ano de 1800. No discurso à direção, agentes administrativos e de custódia, médicos, educadores, capelães e voluntários, acompanhados das famílias, o Pontífice encorajou o trabalho realizado junto aos detentos através de um percurso espiritual que consiga partir do Evangelho, transformando o período de pena e sofrimento, num “laboratório de humanidade e esperança”.

De lugar de punição e sofrimento àquele de atenção e humanidade

O reconhecimento do Papa Francisco aos funcionários veio logo no início do discurso, ao descrever o trabalho na prisão como uma “tarefa difícil para curar as feridas daqueles que, por erros realizados, se encontram privados da sua liberdade pessoal” e, por isso, “requer fortaleza interior, perseverança e consciência”. E, uma outra coisa, acrescentou o Pontífice: é preciso rezar todos os dias.

“A prisão é um lugar de pena no duplo sentido de punição e sofrimento, e há muita necessidade de atenção e humanidade. [...] Já se sabe que uma boa colaboração entre os vários serviços na prisão precisa de uma ação de grande apoio para a reeducação dos detentos. Todavia, por causa da carência de pessoal e da superlotação crônica, o trabalho cansativo e delicado corre o risco de ser, em parte, perdido.”

Equilíbrio e motivação para enfaixar as feridas

O Pontífice se mostrou consciente do estresse vivido nas prisões por causa de fatores como os turnos e a distância dos familiares, além da pressão psicológica. Por isso, insistiu o Papa, a necessidade de equilíbrio pessoal e motivação constantemente renovada para manter a ordem e garantir a segurança do local, mas também “enfaixar as feridas dos homens e das mulheres” que os funcionários encontram diariamente na penitenciária.

“Ninguém pode condenar o outro pelos erros que cometeu, nem mesmo infligir sofrimentos ofendendo a dignidade humana. As prisões precisam ser sempre mais humanizadas, e é difícil ouvir que muitas vezes são consideradas lugares de violência e de ilegalidade, onde se alastram as maldades humanas.”

A prisão pode ser a ressureição

O Papa Francisco então lembrou que não podemos esquecer que muitos presos são pobres, não têm famílias e nem meios para defender os próprios direitos, além de se sentirem abandonados ao próprio destino.

“Para a sociedade, os detentos são indivíduos inconvenientes, são um resto, um peso. Mas a experiência demonstra que a prisão, com a ajuda dos agentes penitenciários, pode se transformar realmente em um lugar de resgate, de ressureição e de mudança de vida; e tudo isso é possível através de percursos de fé, de trabalho e de formação profissional, mas, sobretudo, de proximidade espiritual e de compaixão, seguindo o exemplo do Bom Samaritano, que se inclinou para curar o irmão ferido. Essa postura de proximidade, que tem raiz no amor de Cristo, pode favorecer, em muitos presos, a confiança, a consciência e a certeza de serem amados.”

A esperança na reinserção

O Papa insistiu que a pena não pode ser fechada, mas “sempre ter ‘a janela aberta’ para a esperança”, tanto da parte da prisão como de cada pessoa, já que todos precisam pensar na reinserção: “uma pena sem esperança não serve, não ajuda, provoca sentimentos de rancor no coração, muita vezes de vingança, e a pessoa sai pior do que entrou”.

A proximidade do Pontífice junto ao contexto carcerário foi descrita através da sua rotina vivida em Buenos Aires, quando Bergoglio ia com frequência à prisão. “Sempre tive a sensação quando entrava: ‘por que eles e não eu?’”, um questionamento que, segundo Francisco, ajuda muito se for feito. O Papa acrescentou que agora, a cada 15 dias, de domingo, liga para um grupo de detentos numa penitenciária que visitava.

Francisco finalizou o discurso encorajando todos os funcionários do Regina Coeli, da direção aos voluntários, a caminharem na mesma direção, trabalhando com “sentimentos de concórdia e unidade”, para ajudar “a se levantar e a crescer na esperança aqueles que, infelizmente, caíram na armadilha do mal”. O desejo do Papa é que possam contribuir para que 

“a prisão, lugar de pena e sofrimento, seja também laboratório de humanidade e de esperança.”

Ouça a reportagem completa com a voz do Papa

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07 fevereiro 2019, 10:53