Mais difícil do que a reconstrução material é a reconstrução dos corações Mais difícil do que a reconstrução material é a reconstrução dos corações 

Mais que a parte material, é preciso reconstruir os corações na Síria

O núncio apostólico na Síria comenta as palavras do Papa Francisco sobre a reconstrução e recorda o papel dos líderes religiosos no processo, afirmando que eles "devem ser os arquitetos, os engenheiros desta restauração dos ódios e das sedes de vingança: é um dever que se impõe!".

Gabriella Ceraso e Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

"De igual modo, é importante que possam continuar, num clima propugnador de maior confiança entre as partes, as várias iniciativas de paz em curso a favor da Síria, para que se consiga finalmente encerrar o longo conflito que envolveu o país e provocou imensos sofrimentos.

Os votos de todos nós são que, depois de tanta destruição, tenha chegado o tempo de reconstruir. Mas, ainda mais que a construção de edifícios, é necessário reconstruir os corações, voltar a tecer a tapeçaria da mútua confiança, premissa imprescindível para o florescimento de qualquer sociedade.

Por isso, é preciso trabalhar para promover as condições jurídicas, políticas e de segurança, em ordem a uma retomada da vida social, onde cada cidadão, independentemente da sua pertença étnica e religiosa, possa participar no desenvolvimento do país.

Neste sentido, é vital tutelar as minorias religiosas, entre as quais se contam os cristãos, que há séculos contribuem ativamente para a história da Síria".

Diálogo, confiança entre as partes, reconstrução dos corações, acolhida. Este é o esforço que o Papa pediu - falando ao Corpo Diplomático na última segunda-feira - para alcançar a paz nas áreas mais conturbadas do planeta, a começar pela península coreana e pela Síria”.

"O Papa tocou no centro do problema na Síria hoje", comentou comovido o cardeal e Núncio no país, Dom Mario Zenari.

Antes de edificar a parte material, reconstruir os corações

"É fácil - explica o purpurado deixar-se impressionar pelos escombros evidentes em tantas cidades como Alepo, Homs, Raqqa, Deir Ezzor, escombros resultado de sete anos de guerra", mas "não é esta a verdadeira destruição".

O núncio fala de uma ruptura profunda nos corações e no tecido social que o Papa pede para ser reestabelecida e curada.

"O mosaico  multiétnico e multireligioso que representava este país um tempo, não existe mais", lamentou.

Reparar as profundas feridas nas crianças

As bombas, na realidade, não param, especialmente com os bombardeios na Província noroeste de Idlib. E quem paga as consequência disto, são sobretudo as crianças, denuncia o cardeal Zenari.

"Foram testemunhas das piores violências. Muitas ficaram órfãos e viram seus pais serem mortos, muitos foram explorados sexualmente ou recrutados. Portanto, recordemo-nos - como disse o Papa Francisco na mensagem de Natal - de começar a reparar as feridas profundas que existem em suas almas".

Líderes religiosos sejam arquitetos da reconciliação

No discurso ao Corpo Diplomático, o Papa também recomendou para o futuro da Síria "um clima propositivo de crescente confiança entre as partes".

Mas como é possível realizar isto nestas condições de precariedade? Para o cardeal Zenari, trata-se de "um desafio enorme" que não deve desencorajar, e "é voltado sobretudo às religiões presentes na Síria".

"Os líderes religiosos neste momento - afirma - devem ser os arquitetos, os engenheiros desta restauração dos ódios e das sedes de vingança: é um dever que se impõe peremptoriamente".

Lento o retorno dos cristãos refugiados

E o retorno dos cristãos refugiados nos Estados vizinhos, que o Papa tanto recomenda? Para Dom Zenari, este é um ponto doloroso.

"Eles - observa - que têm um papel fundamental na reconstrução, justamente pelo espírito que os distingue, retornam, por assim dizer, a conta-gotas. Pela mentalidade que têm, os cristãos representam na Síria uma janela aberta ao mundo, que a guerra fechou. Espero - concluiu o núncio - que esta janela possa abrir-se".

Cardeal Zenari sobre reconstrução da Síria

 

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15 janeiro 2018, 09:30