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Pessoas deslocadas em uma carroça puxada por animais, após ataques das Forças de Apoio Rápido (RSF) ao campo de deslocados de Zamzam, na cidade de Tawila, Darfur do Norte, Sudão, em 15 de abril de 2025. REUTERS/Stringer/Foto de arquivo Pessoas deslocadas em uma carroça puxada por animais, após ataques das Forças de Apoio Rápido (RSF) ao campo de deslocados de Zamzam, na cidade de Tawila, Darfur do Norte, Sudão, em 15 de abril de 2025. REUTERS/Stringer/Foto de arquivo 

ACNUR revela: mais de 122 milhões de pessoas em fuga de seus países

Com 14,3 milhões de refugiados e deslocados internos, o Sudão representa atualmente a maior crise de deslocamento e refugiados do mundo, assumindo a posição que era ocupada pela Síria (13,5 milhões), seguida pelo Afeganistão (10,3 milhões) e Ucrânia (8,8 milhões).

Francesco Ricupero - Cidade do Vaticano

A persistência e o agravamento dos conflitos, a crise climática, as complexas e perigosas inter-relações entre estes e os seus efeitos secundários, como a insegurança alimentar, estão atualmente forçando mais de 122 milhões de pessoas a abandonarem as suas casas em busca de segurança e proteção. Além disso, os cortes contínuos na ajuda humanitária levam oa risco de provocar novos movimentos forçados, também através da Europa.

É o que revela o “Global Trends Report” ("Relatório de Tendências Globais"), divulgado nesta quinta-feira pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e realizado por ocasião do Dia Mundial do Refugiado, que será celebrado na sexta-feira, 20 de junho.

Trata-se de um evento anual promovido pelas Nações Unidas para reconhecer a força, a coragem e a determinação de milhões de pessoas forçadas a fugir, em todo o mundo, devido a guerras, violência, perseguição e violações dos direitos humanos.

Em Roma, o Dia contará com um evento institucional chamado: "Um compromisso partilhado em um mundo onde a solidariedade está em crise", durante o qual representantes institucionais, o setor privado e a sociedade civil debaterão sobre a partilha das responsabilidades na busca de soluções duradouras para os refugiados, em tempos de forte instabilidade internacional. Entre os palestrantes estará o cardeal Fabio Baggio, subsecretário do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

Pessoas fogem de conflitos

 

De acordo com o relatório, no final de abril de 2025, havia 122,1 milhões de pessoas forçadas a abandonar suas casas, em comparação com 120 milhões no mesmo período do ano passado, o que representa uma década de aumento anual no número de refugiados e outras pessoas em movimento.

Os principais impulsionadores continuam sendo os grandes conflitos, como os do Sudão, Mianmar e Ucrânia, e a contínua incapacidade da política de interromper os combates. As tendências nos meses restantes de 2025 – de acordo com o ACNUR – dependerão em grande parte da possibilidade de alcançar a paz, da melhoria das condições de retorno para casa e do impacto dos atuais cortes de financiamento nas situações de refugiados e deslocados em todo o mundo.

Pessoas deslocadas internamente

 

Entre as pessoas obrigadas a deixar a própria casa encontram-se aquelas deslocadas dentro de seus próprios países devido aos conflitos que aumentaram acentuadamente em 6,3 milhões, chegando a 73,5 milhões até o final de 2024, e refugiados que fogem de seus países  de origem (42,7 milhões de pessoas).

Com 14,3 milhões de refugiados e deslocados internos, o Sudão representa atualmente a maior crise de deslocamento e refugiados do mundo, assumindo a posição que era ocupada pela Síria (13,5 milhões), seguida pelo Afeganistão (10,3 milhões) e Ucrânia (8,8 milhões).

O relatório constata que, ao contrário da percepção generalizada em regiões mais ricas, 67% dos refugiados permanecem em países limítrofes e que os países de baixa e média renda acolhem 73% dos refugiados do mundo.

Os países de baixa renda continuam a acolher uma parcela desproporcional dos refugiados do mundo, tanto em termos de população quanto de recursos disponíveis. O relatório destaca que esses países representam 9% da população mundial e apenas 0,6% do PIB global, mas acolhem 19% dos refugiados. Por exemplo, há populações de refugiados muito grandes no Chade, na República Democrática do Congo, na Etiópia, no Sudão e em Uganda. 60% das pessoas forçadas a fugir nunca deixam o próprio país.

Um período marcado por sofrimento humano agudo

 

"Vivemos em um período de intensa volatilidade nas relações internacionais, com a guerra moderna criando um cenário frágil e angustiante, marcado por sofrimento humano agudo. Devemos redobrar nossos esforços para buscar a paz e encontrar soluções duradouras para refugiados e outras pessoas forçadas a fugir de suas casas", afirmou Filippo Grandi, Alto Comissário da ONU para Refugiados.

Demasiados cortes na ajuda humanitária

 

Embora o número de pessoas em fuga aumente, o financiamento para atender às necessidades humanitárias está agora praticamente no mesmo nível de 2015, em um contexto de cortes na ajuda humanitária. Essa situação é insustentável e deixa refugiados e pessoas que fogem do perigo ainda mais vulneráveis: mulheres sem proteção, crianças sem escolas e comunidades inteiras sem água e alimentos.

"Mesmo diante de cortes devastadores — acrescentou Grandi —, nos últimos seis meses, vimos alguns vislumbres de esperança. Após mais de uma década de exílio, quase dois milhões de sírios conseguiram retornar para casa. O país continua frágil e as pessoas precisam da nossa ajuda para reconstruir suas vidas."

A generosidade da Itália

 

A Itália, um dos principais países doadores do ACNUR, continua a apoiá-lo em emergências humanitárias, fornecendo proteção e promovendo iniciativas de desenvolvimento com o objetivo de proteger e estabilizar as populações ao longo das rotas migratórias na África e em outras regiões afetadas por crises. A colaboração com a Itália também é muito forte na proteção dos grupos mais vulneráveis, no desenvolvimento de canais legais de entrada e na integração de refugiados. Vivemos em um mundo – sublinhou Chiara Cardoletti, representante do ACNUR para a Itália, Santa Sé e San Marino – onde o que acontece em outros lugares também tem consequências para nós. Quando as emergências humanitárias recebem respostas inadequadas, as consequências não apenas aumentam o sofrimento humano, mas também geram maior instabilidade. Cortar a ajuda leva ao risco de levar mais pessoas ao desespero, desencadear novas fugas – inclusive para a Europa e a Itália – e agravar crises que se tornarão ainda mais difíceis de enfrentar no futuro. Este é – concluiu – um círculo vicioso que devemos tentar quebrar urgentemente.

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12 junho 2025, 15:08