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Evaldo D´Assumpção – Médico e Escritor Evaldo D´Assumpção – Médico e Escritor 

Suicídio....ou suicídios

Suicídio significa, literalmente, colocar um fim na própria vida. Contudo, temos uma variedade de “suicídios”, que mesmo não nos tirando a vida de uma vez, aos poucos nos vai aniquilando, até completar sua macabra tarefa, retirando-nos dessa existência.

Evaldo D´Assumpção – Médico e Escritor

Não há maior tragédia para uma família do que a ocorrência de um suicídio em seu seio. E não há maior tragédia para uma pessoa, que assumir ser o suicídio a única solução para seus problemas, deixando-os todos para trás, eliminando sua própria vida. A esse propósito, e com algumas informações sobre como lidar com essa verdadeira catástrofe, em todos os seus níveis, escrevi e publiquei, pela Ed. Vozes, o livro “Suicídio – como entender e lidar com essa trágica realidade”. Em pouco mais de 100 páginas, procurei mostrar, de forma bem objetiva e accessível para todos, esse assunto tão difícil. Pelos retornos que tenho recebido, acredito estar alcançado meus objetivos. Nesse artigo, abordo formas de “suicídio” que cometemos, sem, entretanto, nos matarmos num só ato decisivo.

Suicídio significa, literalmente, colocar um fim na própria vida. Contudo, temos uma variedade de “suicídios”, que mesmo não nos tirando a vida de uma vez, aos poucos nos vai aniquilando, até completar sua macabra tarefa, retirando-nos dessa existência.

Podemos começar falando dos vícios, que sob a aparência de estar proporcionando prazer ou até um arremedo de felicidade para a pessoa, na verdade a está corroendo, física, mental e até espiritualmente.

A bebida alcoólica e o tabagismo encabeçam essa lista, não só pela sua popularidade, como pelo alto grau de devastação que produz. O álcool tem um consumo social que, em princípio não justifica ser incluído nessa listagem. A questão é que existem pessoas, as quais possuem uma propensão genética para transformar o uso social em uma dependência irreversível. E como ainda não possuímos, pelo menos até onde sei, algum exame genético factível para demonstrar essa situação, a auto-observação, reforçada pelo apoio de verdadeiros amigos e familiares, pode acender o sinal amarelo indicando o perigo, para aquela pessoa. Uso imoderado e compulsivo; alteração de comportamento, especialmente a agressividade após ingestão de pouca quantidade de bebida; necessidade imperiosa e irresistível de beber, mesmo não havendo uma razão especial para isso, tal como um encontro social ou uma festa, substituem aquele sinal amarelo, pelo vermelho. Nesse caso, há que se buscar aconselhamento médico e cortar, radicalmente, o consumo dessas bebidas. O alcoolismo, além dos danos físico e psíquicos que produzem no seu usuário compulsivo, também o expõe a graves situações de risco, pois pode tornar-se violento, com risco de ser ferido de morte em algum desentendimento.

O tabagismo, além da rejeição por pessoas que não toleram o cheiro de cigarro, produzem no fumante uma série de alterações físicas e psíquicas. As físicas incluem o câncer de pulmão, a bronquite crônica, a falta de fôlego para certas atividades, podendo levar a situações de óbito. As psíquicas dizem respeito, principalmente, à agressividade contra pessoas que explicitam seu incômodo pelo tabaco em suas várias formas, e principalmente contra amigos e parentes que tentam demovê-lo desse vício.

Além dessas formas mais comuns, e às vezes até sutis de autoagressão, quase todas com um pano de fundo suicida, mais ou menos explícito, existe também o gosto por atividades de alto risco, tais como dirigir carro, moto e até bicicleta em altíssima velocidade, práticas de atividades físicas justificadas pela “procura de adrenalina”, os desafios de risco elevado, que quando superados levam a pessoa a dizer: “Viu? Fiz isso e nada aconteceu comigo!” E isso é sempre verdade, até que ocorra um final trágico para esses desafios.

E podemos também incluir alguns vícios modernos, que possuem componentes de risco e de auto rejeição. O mais comum é o uso desregrado dos chamados smartphones. Vício esse que costuma ter o mesmo perfil do tabagismo, no que diz respeito à revolta do usuário contra as pessoas que reclamam ou se sentem incomodadas com um parente, um amigo, com quem se reúne para conversar, mas não largam o aparelhinho para nada. E, sendo bem prático, nele também existem riscos de acidentes graves e até fatais, quando a pessoa, na sua incapacidade de deixa-lo por alguns momentos, continua usando-o enquanto carrega a bateria do seu celular, ligado na rede elétrica. O mesmo acontece com quem vai abastecer o carro, e continua falando ao celular. Uma faísca que se solte do aparelho, havendo vapor de gasolina por perto, pode ser fatal, para o usuário e para quem estiver em volta. Muitas explosões e até mortes já foram registradas por essa imprudência. E, mais grave ainda, são as pessoas que dirigem e falam ao celular, às vezes até digitando recados “rápidos”. Num único segundo de distração, pode provocar gravíssimos acidentes, sendo ela mesma a vítima, e ainda levando outros na tragédia.

Muitas outras situações podem ser classificadas como tentativas indiretas de suicídio, mas o espaço é pequeno para descrevê-las todas. De qualquer forma, ficam esses exemplos para que os leitores os apliquem em outras situações.

Médico e Escritor. Da Academia Mineira de Medicina e da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores. Autor dos livros “Sobre o viver e o morrer”, “Luto” e “Suicídio” da Ed. Vozes, e o recém lançado: “Crônica à beira-mar”, da Ed. DelRey. Também os dois volumes de suas memórias, esses disponíveis pelo e-mail: evaldo.edite@gmail.com

 

 

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04 outubro 2022, 15:44