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Multidão em padaria libanesa para comprar pão Multidão em padaria libanesa para comprar pão 

Líbano: a escassez de pão alimenta tensões com refugiados sírios

A Organização Save the Children pede ao governo libanês e às partes interessadas que tomem medidas urgentes para estabilizar a economia e evitar mais sofrimento para as crianças e suas famílias

Vatican News

No Líbano, a violência, o assédio e a discriminação contra os refugiados sírios estão aumentando como resultado da crescente tensão sobre a escassez de pão causada pela guerra na Ucrânia, a desvalorização da moeda e os danos sofridos pelos principais silos de grãos em Beirute. O alarme foi lançado pela organização Save the Children, que luta há mais de 100 anos para salvar meninas e meninos em risco e garantir-lhes um futuro.

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Falta de pão

As reservas de trigo estão em falta em todo o país e as famílias passam horas na fila para comprar um pacote de pão. Um efeito dominó causado pela guerra na Ucrânia que interrompeu o  fornecimento de grãos para o Líbano e a explosão devastadora dos silos do porto. Há dois anos, antes da explosão de 2020, os silos armazenavam mais de 100 mil toneladas de trigo. O porto era uma âncora de salvação para o Líbano em crise, que depende fortemente das importações de trigo, já que a produção interna cobre apenas 10% do consumo total do país. A falta de pão e o aumento dos preços desencadearam o pânico, levando ao assédio e à discriminação contra os refugiados sírios nas padarias.

Assédios e discriminações

A ONU acredita que em algumas partes do Líbano foram impostos toques de recolher para os refugiados ou que tenha sido pedido às padarias que dessem prioridade aos cidadãos libaneses sobre os sírios, chegando ao ponto de pedir aos clientes que mostrassem identificação. As autoridades libanesas anunciaram recentemente a formação de um novo comitê de segurança encarregado de evitar confrontos e atos discriminatórios nas padarias.

Com 1,5 milhões de refugiados sírios vivendo no país em comparação com os 6,8 milhões de habitantes, o Líbano continua sendo o país que abriga o maior número de refugiados per capita. Devido à diminuição do fornecimento de grãos, o preço do pão disparou: nos supermercados, um pacote de pão custa quatro vezes a mais do que no ano passado. Muitas famílias gastam quase 50% de seu salário mensal para comprar pão. As famílias mais pobres do Líbano - que antes dependiam de pelo menos dois pacotes de pão por dia como substituto de alimentos mais nutritivos, porém mais caros - estão recorrendo a medidas cada vez mais desesperadas, como pular refeições ou comer alimentos estragados.

Crise financeira e guerra

Embora o Banco Central do Líbano subsidie as importações de trigo para diminuir o custo do pão, os preços subiram devido à perda de mais de 90% do valor da moeda nacional nos últimos dois anos como resultado de uma das piores crises financeiras da história moderna. Mais de três quartos da população do Líbano vive agora abaixo da linha de pobreza. A guerra na Ucrânia fez o preço do trigo disparar, forçando as padarias a racionar pão e acumular farinha, práticas que afetam toda a população do país.

Save the Children

Jennifer Moorehead, diretora do Save the Children no Líbano declarou: “O pão não é um luxo. No Líbano, é uma necessidade básica assim como a água potável ou um abrigo. As famílias dependem tanto do pão que tememos que os níveis de fome saiam de controle e o impacto será catastrófico se a crise continuar. O impacto da falta de pão está afetando todas as famílias no Líbano, mas o fardo mais pesado é o dos refugiados que enfrentam o aumento dos casos de assédio. Todas as pessoas vulneráveis devem ter igual acesso a alimentos que salvam vidas, independentemente de sua nacionalidade".

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08 agosto 2022, 13:26