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Afeganistão: a dramática situação das meninas

Comunicado de imprensa de “Save the Children”: “após um ano da retomada do controle do Afeganistão, por parte dos Talibãs, é dramática a situação das meninas, que sofrem pelas graves consequências da crise entre isolamento, fome, falta de educação e depressão”.

Vatican News

Segundo a Organização não-Governamental “Save the Children”, a crise no Afeganistão é uma crise humanitária, mas também uma catástrofe dos direitos das crianças. A solução desta crise encontra-se nos recintos do poder dos líderes políticos internacionais, que deveriam fornecer financiamento humanitário imediato. Caso contrário, cada vez mais, meninos e meninas perderão a sua infância por falta de trabalho, casamentos precoces e constantes violações de seus direitos.

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Desde que os Talibãs retomaram o controle do Afeganistão, em agosto de 2021, “Save the Children”, que atua no país desde 1976, intensificou sua obra para ajudar o maior número possível de crianças vulneráveis. A Organização internacional presta seus serviços no campo da saúde, nutrição, educação, proteção infantil, além dos refúgios, água, higiene, segurança alimentar e auxílio à sobrevivência. A partir de setembro de 2021, “Save the Children” conseguiu ajudar mais de 2,5 milhões de pessoas, incluindo 1,4 milhão de menores.

A Organização não-Governamental “Save the Children” publicou um novo relatório, intitulado "Ponto de ruptura: a vida das crianças, após um ano da retomada do controle dos Talibãs”, sobre as condições das meninas, meninos e adolescentes afegãos: “Após um ano da retomada do controle do Afeganistão, pelos Talibãs, a crise econômica, a seca assoladora e as novas restrições transtornaram, totalmente, a vida das meninas, com graves consequências também para a sua saúde mental: quase todas foram excluídas da sociedade, a maioria passa fome e um quarto apresenta sinais de depressão”.

Em seu relatório, a Organização internacional constata que 97% das famílias afegãs estão tentando, desesperadamente, encontrar comida suficiente para matar a fome de seus filhos: as meninas comem menos que os meninos. Cerca de 80% das crianças afirmam ter ido dormir com fome, nos últimos 30 dias, uma probabilidade que, até o momento, envolve o dobro das meninas, em relação aos meninos.

De fato, a falta de alimentação está causando repercussões devastadoras na saúde das meninas e meninos, a ponto de ameaçar seu futuro. Nove, em cada 10 meninas, disseram que suas refeições diminuíram no ano passado; estão preocupadas porque estão perdendo peso e não têm forças suficientes para estudar, brincar ou trabalhar. A crise está colocando à dura prova o bem-estar mental e psicossocial das meninas. Segundo entrevistas com adultos de referência, 26% das meninas apresentam sinais de depressão, em comparação aos 16% dos meninos; 27% delas apresentam sinais de ansiedade, em relação aos 18% dos seus coetâneos.

Conforme os grupos, que contribuíram para a elaboração do Relatório, formados pela “Save the Children”, - Organização que, por mais de 100 anos, luta para salvar meninas e meninos, que correm sérios riscos, assegurando-lhes um futuro, - “as meninas confirmaram que têm problemas para dormir de noite, porque ficam angustiadas e atormentadas por pesadelos; disseram ainda que foram excluídas das muitas atividades, que antes as tornavam felizes, como também passar tempo com a família e amigos ou ir aos parques e fazer compras”.

Além disso, mais de 45% das meninas afirmaram não frequentar a escola - em relação aos 20% dos meninos. “A maioria delas ressaltou que as dificuldades econômicas, a proibição dos Talibãs de frequentar as aulas e as atitudes da comunidade em relação a elas são as principais barreiras que impedem seu acesso à educação”.

Com efeito, depois que os Talibãs assumiram o controle do Afeganistão, em agosto passado, milhares de meninas do ensino médio foram obrigadas a ficar em casa, anulando, assim, os anos de progresso em favor da igualdade de gênero. As meninas, entrevistadas pela “Save the Children”, expressaram sua decepção e raiva por esta decisão, dizendo que não têm esperança, em relação ao seu futuro, por falta de direito e liberdade que tinham antes.

O quadro, que emerge do Relatório da Organização “Save the Children”, graças aos testemunhos obtidos nas entrevistas, é realmente dramático, sobretudo para as meninas afegãs, que, muitas vezes, são alvo de práticas extremas. Por exemplo, mais de uma, em cada vinte meninas afegãs (5,5%), foi obrigada a se casar como meio para sustentar a família.

Parishad, 15 anos, vive no norte do Afeganistão e não vai à escola porque seus pais nem têm condições de matar a fome dela e de seus irmãos, não têm dinheiro para comprar livros ou material escolar. A situação da sua família piorou, rapidamente, nos últimos 12 meses, porque foi despejada de sua casa, por não poderem pagar mais o aluguel. O dono da casa fez a proposta de comprar um dos irmãos de Parishad, mas seus pais a rejeitaram.

Parishad, narra: “Certos dias, meu pai nem consegue comprar comida. Meus irmãos acordam, durante a noite, chorando de fome. Eu procuro não comer para deixar comida aos meus irmãos e irmãs. Quando meus irmãos e irmãs me pedem comida, fico triste e choro muito. Então, vou à casa do vizinho pedir se tem alguma coisa para dar. Às vezes, me ajuda e me dá alguma coisa para comer; mas, às vezes, também diz que não têm nada, infelizmente”.

Mas, Parishad acrescenta: "Quando deixamos a nossa casa para vir para esta, fiquei muito chateada e disse: “Por que estamos saindo de novo? Por que enfrentar novamente este problema?” Fiquei muito sentida, por este momento difícil, que até chorei. Queria tanto ir à escola! Quando vejo outras meninas indo à escola, me dá vontade de ir junto. Sempre mudamos de casa; por isso, também seria difícil frequentar as aulas. Além do mais, não dispomos de material escolar, porque não temos dinheiro para comprar livros. Não aguento mais, mas não sei o que fazer".

Por fim, Parishad mandou a seguinte mensagem à Comunidade internacional: "Ajudem minha família! Ajudem as crianças e as famílias mais vulneráveis, com dinheiro e comida! Gostaria que meus irmãos se alimentassem bem e tivessem roupas e sapatos bonitos. Por favor, ajudem-nos a ter acesso à educação".

Os Talibãs assumiram o controle do Afeganistão em 15 de agosto de 2021, após a retirada das forças internacionais: bilhões de dólares de ajuda internacional foram cancelados; as reservas de valores cambiais afegãos foram congeladas e o sistema bancário entrou em colapso. A crise econômica consequente e a pior seca do país, nos últimos 30 anos, levaram, definitivamente, as famílias à extrema pobreza.

As crianças entrevistadas pela “Save the Children” também disseram: “Devido à difícil situação econômica, às famílias sem comida suficiente e sem os bens de necessidades básicas, houve um grave aumento de casamentos prematuros em suas comunidades; isso está tendo um forte impacto mais entre as meninas que entre os meninos. Ano Passado, entre os menores, obrigados a se casar para melhorar a situação financeira da família, 88% eram meninas.

Chris Nyamandi, diretor da “Save the Children” no Afeganistão, declarou: “Desde que os Talibãs assumiram o controle do país afegão, há um ano, a vida dos menores se tornou terrível. As crianças vão dormir com fome, quase todas as noites. Elas estão esgotadas e debilitadas, até incapazes de brincar e estudar como antes. Elas passam seus dias trabalhando, com afinco, em olarias, catando lixo e limpando as casas ao invés de ir à escola”.

Chris Nyamandi, acrescentou ainda: “As meninas carregam o peso da deterioração da situação no país: comem menos, sofrem de isolamento e estresse emocional e ficam em casa, enquanto seus colegas de sexo masculino vão à escola. Trata-se de uma crise humanitária, mas também de uma catástrofe dos direitos das crianças. A solução não pode vir apenas do Afeganistão, mas se encontra nos recintos de poder dos líderes políticos internacionais. Se não fornecerem financiamento humanitário imediato, através de um modo eficaz para relançar o sistema bancário e sustentar a economia em queda livre, as crianças perecerão; os meninos e as meninas perderão, cada vez mais, suas infâncias por causa da falta de emprego, casamentos precoces e contínuas violações de seus direitos”.

A “Save the Children”, - que ajudou a família de Parishad com o apoio financeiro necessário para superar a situação, -  atua no Afeganistão, desde 1976, e ali permaneceu apesar dos períodos de conflito, mudanças de regime e desastres naturais. A Organização internacional mantém projetos em nove províncias do país e colabora com parceiros em outras seis províncias. Desde que os Talibãs retomaram o controle do país, em agosto de 2021, a “Save the Children” intensificou sua obra dando ajuda ao crescente número de crianças vulneráveis. A Organização dispensa serviços no campo da saúde, nutrição, educação, proteção infantil, bem como refúgio, água, higiene, segurança alimentar e ajuda à sobrevivência. Desde setembro de 2021, “Save the Children” conseguiu ajudar mais de 2,5 milhões de pessoas, incluindo 1,4 milhão de menores.

Para discutir sobre a terrível situação das crianças e suas famílias no Afeganistão, “Save the Children organizou nesta quarta-feira (10/8) uma Conferência “via zoom” com a Diretora Geral, Inger Ashing, da qual muitos jornalistas participaram, através do link: https://us06web.zoom.us/j/81292104006?pwd=OXFLWWNWWTZBZ1orRSs1ZW81NU5OZ09).

Uma parte das verbas para o Afeganistão foi fornecida pelo Banco Mundial. Mas, muitos fundos internacionais ainda permanecem bloqueados em instituições de crédito estrangeiras ou em bancos internacionais. Por isso, “Save the Children” faz, novamente, seu premente apelo para que as verbas do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial sejam desbloqueadas, a fim de que, realmente, possam ajudar a população do país afegão. Sua petição está disponível no link:

https://www.savethechildren.it/firmaperlafghanistan?utm_term=btn

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11 agosto 2022, 13:49