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Afegãos buscam refúgio fora do país Afegãos buscam refúgio fora do país 

Os Talibãs na segunda maior cidade do Afeganistão: a ONU teme uma catástrofe humanitária

A situação no Afeganistão é dramática. Os Talibãs tomaram a segunda maior cidade do país, Kandahar, e Lashkar Gah, a capital da província de Helmand, no sul, depois de conquistar Herat no oeste. Nos Estados Unidos, estão sendo feitos preparativos para a evacuação da embaixada na capital. Há uma grande preocupação com uma situação que já estava prevista quando foi tomada a decisão de retirar as forças internacionais após 20 anos de presença.

Fausta Speranza, Silvonei José – Vatican News

Fora de todas as grandes cidades, com a única exceção de Cabul: as forças governamentais afegãs continuam a recuar. No caso de Lashkar Gah, o Talibãs deixaram 48 horas para políticos e administradores evacuarem a cidade: eles tomaram a segunda maior cidade do Afeganistão, Kandahar, alimentando o medo de que o governo apoiado pelos Estados Unidos pudesse cair nas mãos dos insurgentes. Não há mais vestígios de autoridades militares e civis na cidade, e os Talibãs estão tirando fotografias na Praça dos Mártires. Lashkar Gah no sul e Qala-e-Naw no noroeste estão em suas mãos. Herat, a terceira maior cidade do país, foi amplamente conquistada ontem: apenas o aeroporto e uma base militar permanecem nas mãos das forças governamentais, de acordo com um líder provincial, Ghulam Habib Hashimo. A capital da província de mesmo nome era a base da missão italiana no Afeganistão. Após a retirada anunciada pelos Estados Unidos e pela OTAN, os soldados italianos deixaram a cidade exatamente um mês atrás, em 12 de julho.

De Washington chega o anúncio: 3.000 homens para evacuar o pessoal dos EUA. As primeiras tropas enviadas pelo Pentágono começarão a chegar "dentro de 24-48 horas", assegura o porta-voz do Departamento de Defesa, John Kirby. Há cerca de 5.000 civis e militares baseados no complexo da embaixada dos EUA em Cabul e nas instalações próximas ao Aeroporto Internacional Hamid Karzai. E a OTAN reúne, em um encontro urgente, os enviados dos 30 aliados em uma reunião convocada para a tarde deste sábado.

Apelo da UE para a cooperação e proteção das mulheres

De Bruxelas se eleva a voz do Alto representante da União Europeia para as relações exteriores e a política de segurança, Borell: “se um emirado islâmico for recriado", disse, "os Talibãs enfrentarão o não reconhecimento, o isolamento, a falta de apoio internacional e a perspectiva de que o conflito e a instabilidade continuem".  "A UE exorta os Talibãs a retomarem imediatamente conversações substanciais, regulares e estruturadas", escreveu Borrell em uma nota, "e também apela para um cessar imediato da violência e um cessar-fogo global e permanente".  "A ofensiva militar em curso está em contradição direta com seu compromisso declarado de uma solução negociada para o conflito e o processo de paz de Doha", especifica ainda a nota, na qual "a UE condena as crescentes violações do direito humanitário internacional e dos direitos humanos, particularmente em áreas e cidades controladas pelos Talibãs".

A União Europeia "pretende continuar sua parceria e apoio ao povo afegão". Entretanto, este apoio será condicionado a uma solução pacífica e inclusiva e ao respeito pelos direitos fundamentais de todos os afegãos, incluindo as mulheres, os jovens e as minorias. É essencial preservar os significativos resultados obtidos pelas mulheres e jovens nas últimas duas décadas, incluindo o acesso à educação", conclui a nota.

O Reino Unido autorizou o envio de 600 soldados para o Afeganistão para facilitar a evacuação de seus cidadãos e dos ex-colaboradores afegãos da embaixada. Isto foi anunciado em uma declaração do Ministro da Defesa britânico, Ben Wallace. As tropas fornecerão proteção e apoio logístico para a realocação de cidadãos britânicos onde for necessário e ajudarão a acelerar a chamada política afegã de "realocação e assistência", diz a nota. "Isto ajudará a garantir que os intérpretes e outro pessoal afegão que arriscaram suas vidas trabalhando ao lado das forças britânicas possam se mudar para o Reino Unido o mais rápido possível", diz a declaração. "A segurança dos cidadãos britânicos, do pessoal militar britânico e dos ex-funcionários afegãos é nossa maior prioridade. Devemos fazer tudo que pudermos para garantir sua segurança", disse Wallace.

Na Alemanha, também há apreensão pelas 4.000 pessoas que ainda estão no Afeganistão, depois de outras 1.700 terem retornado nos últimos dias. A ministra da Defesa alemã, Annegret Kramp-Karrenbauer, não deixa margem para dúvidas: "O que conseguimos nestes 20 anos foi não exportar o terrorismo para fora do Afeganistão", enquanto "o que não conseguimos fazer foi tornar o Afeganistão um país diferente, para transformá-lo positivamente a longo prazo".

Depois de uma guerra de 20 anos

A história diz que o grupo extremista controlou o país entre 1996 e 2001, até a invasão estadunidense decidida após os ataques terroristas em Nova York e Washington em 11 de setembro de 2001. O objetivo era encontrar os líderes da Al Qaeda, um grupo considerado responsável pelos atentados, ao qual os Talibãs ofereciam proteção. Os Estados Unidos vêm travando uma guerra há 20 anos no Afeganistão, que começou com a derrubada do regime Talibã em outubro de 2001. No último ano, depois que o governo dos EUA anunciou a retirada de suas tropas do país, os Talibãs conseguiram tomar o controle de cerca da metade dos 400 distritos em que o Afeganistão está dividido, consolidando sua presença principalmente em áreas rurais. Nas últimas semanas, eles também começaram a visar as cidades: aumentaram a pressão sobre Mazar-i-Sharif, no norte, onde uma presença tão forte dos Talibãs era impensável até recentemente. E iniciaram várias ofensivas em torno da província de Cabul, a capital, que se teme que em breve será sitiada pelos insurgentes com o objetivo de forçar o governo afegão a se render.

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14 agosto 2021, 10:41