Faleceu Gino Strada, fundador de Emergency. Pax Christi: um artífice da paz

Antonella Palermo – Vaitcan News

"Os pacientes sempre vêm por primeiro": isto é o que Gino Strada gostava de repetir. Em uma declaração, Emergency - a organização internacional de saúde que ele criou em 1994 - lembra seu senso de justiça, lucidez, rigor e capacidade de visão. "Ele soube sonhar, divertir-se, inventar mil coisas. Sua presença sozinha era suficiente para nos fazer sentir mais fortes e menos sozinhos, mesmo que ele estivesse distante. Entre seus últimos pensamentos estava o Afeganistão, ontem. Ele morreu feliz.

"É um trabalho cansativo, o de um cirurgião de guerra. Mas é também, para mim, uma grande honra. (Gino Strada)".

Uma vocação para ajudar os países pobres

Nascido em Sesto San Giovanni, uma cidade da classe trabalhadora na periferia de Milão, Gino cresceu em um ambiente católico sensível às questões sociais. Ele foi um ativista do Movimento Estudantil durante os anos de protesto. Ele também participou de grupos de voluntários católicos onde conheceu Teresa Sarti em 1971, que viria a se tornar sua esposa no mesmo ano. Sua formação como cirurgião médico, aperfeiçoada nos Estados Unidos, foi desenvolvida na Inglaterra e na África do Sul. Em 1988, ele decidiu aplicar sua experiência em cirurgia de emergência ao atendimento de feridos de guerra. Nos anos seguintes, até 1994, ele trabalhou com a Cruz Vermelha Internacional em Genebra, no Paquistão, Etiópia, Tailândia, Afeganistão, Peru, Djibuti, Somália e Bósnia. Em 1994, sua experiência o levou a fundar Emergency, uma associação independente e neutra criada para levar tratamento médico e cirúrgico gratuito, e de alta qualidade, às vítimas da guerra, das minas terrestres e da pobreza. O primeiro projeto foi em Ruanda durante o genocídio. Depois o Camboja, onde ele permaneceu por alguns anos. Em 1998, partiu para o Afeganistão: chegou ao norte do país por terra, onde, no ano seguinte, inaugurou seu primeiro projeto: um Centro Cirúrgico para vítimas de guerra em Anabah, no Vale do Panshir. Em 2005, ele começou a trabalhar na abertura do Centro de Cirurgia Cardíaca no Sudão, o primeiro totalmente livre na África. Em 2014 ele foi para Serra Leoa para a emergência do Ébola.

Pax Christi: acolher seu apelo contra as armas

Gino Strada morreu precisamente no momento em que ressurge a violência no Afeganistão. O compromisso ali remonta a 1999 e desde então sete milhões de pessoas foram tratadas pela Emergency, que agora está presente no país com dois Centros Cirúrgicos para vítimas de guerra em Cabul e Lashkar-gah, um Centro Cirúrgico e Pediátrico e um Centro de Maternidade em Anabah, no Vale Panshir, e uma rede de 44 Postos de Primeiros Socorros. Nos primeiros quatro meses de 2021, seus hospitais já admitiram 1.853 pacientes afetados pela guerra, um aumento de 202% a partir de 2011, quando a guerra já durava dez anos. "Devemos dizer que, na loucura de uma guerra no Afeganistão, Gino Strada estava certo. Escolher a guerra é sempre errado", observa Renato Sacco, coordenador italiano da Pax Christi, que teve a oportunidade de conhecer a esposa e a filha de Strada e visitar, há dez anos, um dos hospitais que ele fundou em Cabul. "Emergency cuida das vítimas e a guerra é a grande fábrica das vítimas", diz Sacco, que mais uma vez denuncia o enorme investimento em armas que países, incluindo a Itália, fazem, surdos aos apelos de Strada. Trabalhar juntos por um mundo sem guerra é o maior trabalho que podemos transmitir às gerações futuras, dizia ele, seu legado. "Quantos hospitais, quantas clínicas, quantas próteses poderíamos ter construído com este dinheiro! E poderíamos ter tirado oxigênio dos Talibãs! Gino Strada nos acompanhe para que não tomemos o caminho errado ", destaca Pax Christi.