Busca

A Itália venceu o Campeonato Europeu 2020 contra a Inglaterra A Itália venceu o Campeonato Europeu 2020 contra a Inglaterra

Os valores do esporte testados no campo

A Copa América, o Campeonato Europeu de Futebol, as Olimpíadas e as Paraolimpíadas: nunca antes tantos eventos foram concentrados em poucas semanas. A pandemia adiou algumas competições por um ano. Em campo já existem alguns exemplos de lealdade, fraternidade e jogo limpo, que nos recordam os muitos discursos proferidos pelo Papa sobre os mais profundos valores do esporte.

Andrea De Angelis/Mariangela Jaguraba – Vatican News

De Wembley ao Maracanã, de Londres ao Rio de Janeiro com um eco que chega até Tóquio. Concluem-se os dois eventos continentais do esporte mais seguido no mundo, o futebol, e outro grande evento mundial está prestes a começar. Grandes eventos esportivos num ano em que o planeta sofreu e continua carregando as feridas e os medos da pandemia. Renascimento, portanto, no sentido mais profundo do termo, mesclado com prudência e esperança. Nas últimas horas triunfaram Itália e Argentina, duas seleções particularmente próximas ao Papa, primeiro bispo de Roma argentino da história, e agora os holofotes se voltam para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos que serão disputados no Japão.

Campeonato Europeu

Não existem inimigos, mas adversários. O Papa Francisco repetiu isso em várias ocasiões, por exemplo, em seu discurso aos membros do Centro Esportivo Italiano, recebido em audiência em 11 de maio de 2019:

A luta com os adversários, nas competições esportivas, é sempre definida como um “encontro”, e nunca como um “confronto”, porque no final, embora seja melhor vencer, em certo sentido vencem os dois. Este é o mundo com que sonhamos e que queremos construir com determinação, a partir de um saudável espírito competitivo, que vê sempre no adversário também um amigo e um irmão. Este é o cerne da visão cristã do homem, que para vocês também é a base da atividade esportiva.

No Campeonato Europeu, que se concluiu com a vitória da Itália contra a Inglaterra, houve pelo menos dois episódios que merecem destaque. O primeiro foi o mais dramático e envolveu o jogador mais representativo da Daminarca, Christian Eriksen, que sofreu uma parada cardíaca na partida de estreia contra a Finlândia. Em campo, todos os jogadores, independentemente da camisa, viveram aqueles minutos intermináveis ​​num único abraço. O mesmo abraço que o capitão da Dinamarca, Simon Kjaer, deu à esposa do campeão, apoiando-a e animando-a, após ter primeiro socorrido o seu companheiro no chão, imóvel. Eriksen e Kjaer, compatriotas, mas adversários no campeonato italiano, onde jogam respectivamente com as camisas do Inter e do Milan. Mesma cidade, unidos para sempre. Nas arquibancadas, naquele dia, todos os torcedores se uniram num único refrão, rezando por Eriksen e, em seguida, exultaram quando ele foi declarado fora de perigo.

O técnico da Espanha, Luis Enrique, parabeniza o jogador italiano Jorginho, autor do gol decisivo na semifinal
O técnico da Espanha, Luis Enrique, parabeniza o jogador italiano Jorginho, autor do gol decisivo na semifinal

O outro episódio ocorreu na semifinal entre Itália e Espanha e teve como protagonista o técnico da seleção ibérica, Luis Enrique. Ao final de um desafio equilibrado e competitivo, que terminou nos pênaltis com a vitória da Itália, o técnico espanhol usou palavras que rapidamente giraram o mundo e foram vistas como um exemplo de jogo limpo e esportividade. Na sua fala, não só saudou a seleção italiana, desejando que ganhasse o torneio, mas fez um apelo aos jovens, centrado na gestão das derrotas. “Estou cansado de ver lágrimas em torneios de jovens ou crianças, não sei porque choram. É preciso começar a lidar com a derrota, a congratular-se com o adversário. Temos que ensinar as crianças a não chorar. Tem que se levantar e parabenizar o vencedor", disse ele.

Venceu o jogo limpo

“Ficamos maravilhados com o jogo limpo neste Campeonato Europeu, quando deveria ser uma condição normal. A vitória foi do jogo limpo e do jogo de equipe, em muitas seleções que fizeram do grupo o seu ponto forte.” Foi o que disse na entrevista à Rádio Vaticano-Vatican News, dom Melchor Sánchez de Toca, subsecretário do Pontifício Conselho para a Cultura, responsável pelo setor de esporte do organismo.

"Em campo, a derrota foi aceita com grande esportividade. Esta é a essência do esporte”, prosseguiu De Toca. “O fato de a final ter sido disputada no dia de São Bento, padroeiro da Europa, é uma coincidência significativa e, sendo italiano, podemos dizer que lá estava a sua mão”, disse ele. Tendo em vista as Olimpíadas, o prelado deseja que os atletas possam viver esta tão esperada experiência "juntos", formando equipe no sentido mais profundo do termo, como "o Papa Francisco costuma repetir: fazer jogo de equipe, sem comer a bola. Uma das coisas mais bonitas que vimos nos últimos dias foi saber jogar juntos. Podemos também ler isso como uma esperança para sair da pandemia sem deixar ninguém para trás", concluiu.

A Copa América

A beleza do trabalho em equipe, do jogo de grupo. Brasil e Argentina se enfrentaram em uma das finais mais esperadas dos últimos anos. A Argentina venceu por 1 a 0 com gol de Di Maria. Um sucesso que leva a Copa de volta a Buenos Aires depois de 28 anos e que subverteu as previsões, que favoreciam a seleção brasileira.

O capitão da Argentina, Lionel Messi, beija a Copa América conquistada por sua seleção contra o Brasil
O capitão da Argentina, Lionel Messi, beija a Copa América conquistada por sua seleção contra o Brasil

São dois países onde o futebol é muito mais do que uma disciplina esportiva. Como disse o jogador de futebol brasileiro Pelé, o Brasil “come, dorme e bebe futebol. Vive de futebol”. O seu colega argentino Valdano numa entrevista afirmou que em muitos países latino-americanos deveriam ter colocado portões de futebol nas fronteiras, "ficaria claro para o visitante que são grandes campos de futebol com algumas presenças acidentais, como árvores e edifícios". Em cada campo da periferia, se aprende imediatamente que as regras e o grupo são a base do jogo. São valores que Francisco também enfatizou em diversas ocasiões. No discurso aos participantes do encontro promovido em 24 de maio de 2019 por "La Gazzetta dello Sport" e a Figc, o Papa disse:

Ouçam bem isto: esporte, não sozinho. Vivemos numa época em que, também graças à presença maciça das novas tecnologias, é fácil isolar-se, criar laços virtuais com muitos, mas à distância. Laços, mas sozinhos. A beleza de jogar com a bola é poder fazer junto com os outros, passá-la no meio do campo, aprender a construir ações de jogo, trabalhar em equipe. A bola se torna um meio para convidar as pessoas a partilhar amizade, a se encontrar num espaço, a olhar-se no rosto, desafiando um ao outro para testar suas habilidades. Caros amigos: o futebol é um jogo de equipe. Não se diverte sozinho! Se for vivido assim, também pode ser bom para a cabeça e para o coração numa sociedade que exaspera o subjetivismo, que é a centralidade de si mesmo, quase como um princípio absoluto. O futebol é um jogo de equipe e isso faz bem a todos nós.

Também aos membros do Centro Esportivo Italiano, recebidos em audiência a 11 de maio de 2019, o Papa destacou a importância das regras:

Uma grande lição do esporte, que também nos ajuda a enfrentar o cansaço diário do estudo e do trabalho, bem como das relações com os outros, é que só se pode divertir dentro de um quadro de regras muito específicas. Na verdade, se numa competição alguém se recusar a respeitar a regra do impedimento, ou sair antes da "largada", ou no drible aparecessem bandeirinhas, não haveria mais competição, mas apenas atuações individuais e desordenadas. Ao contrário, quando enfrentam uma competição, vocês aprendem que as regras são essenciais para viver juntos; que a felicidade não se encontra na imprudência, mas na busca fiel de seus objetivos; e aprendem também que não se sente mais livre quando não tem limites, mas quando, com seus próprios limites, dá o seu melhor. Devemos ser senhores de nossos limites e não escravos de nossos limites.

As Olimpíadas

Tóquio 2020 é o ano em que os Jogos Olímpicos deveriam ter sido realizados, adiados por doze meses por causa da pandemia da Covid-19. A nova emergência de saúde levou os organizadores a expandir ainda mais as medidas de segurança: não haverá presença de espectadores, nem mesmo nos locais inicialmente planejados. As Olimpíadas continuam sendo o evento esportivo por excelência: este ano serão 33 esportes protagonistas, com 50 modalidades (um recorde absoluto) divididas em mais de trezentos eventos programados de 23 de julho a 8 de agosto. O espírito olímpico também foi lembrado pelo Papa Francisco, por ocasião de seu discurso aos dirigentes e atletas do Comitê Olímpico Nacional Italiano, recebidos em audiência no dia 19 de dezembro de 2014:

O lema olímpico - "Citius, altius, fortius" - não é um incitamento à supremacia de uma nação sobre a outra, de um povo sobre outro povo, nem à exclusão dos mais fracos e menos protegidos, mas representa o desafio ao qual todos somos chamados, não apenas os atletas: o de assumir o esforço, o sacrifício, para alcançar as metas importantes da vida, aceitando os próprios limites sem deixar-se bloquear por eles, mas procurando superar-se.

Os preparativos para as Olimpíadas e Paraolimpíadas estão em pleno andamento em Tóquio
Os preparativos para as Olimpíadas e Paraolimpíadas estão em pleno andamento em Tóquio

Em seu discurso aos delegados dos Comitês Olímpicos Europeus, em 23 de novembro de 2013, Francisco dirigiu as seguintes palavras:

É típico da atividade esportiva unir e não dividir! Construir pontes e não muros. Mesmo os cinco anéis entrelaçados, símbolo e bandeira dos Jogos Olímpicos, representam o espírito de fraternidade que deve caracterizar o evento olímpico e a competição esportiva em geral. Quando o esporte é considerado unicamente por parâmetros econômicos ou de conquista da vitória a qualquer custo, existe o risco de reduzir os atletas a meras mercadorias para tirar lucro.

As Paraolimpíadas

Os Jogos Paraolímpicos serão realizados em Tóquio de 24 de agosto a 5 de setembro. O valor da inclusão e do respeito pela dignidade de cada ser humano são alguns dos temas que marcaram, no dia 5 de outubro de 2016, a audiência de Francisco com os participantes do encontro promovido pelo Pontifício Conselho para a Cultura sobre esporte e fé:

As nossas tradições religiosas partilham o compromisso de garantir o respeito pela dignidade de cada ser humano. Portanto, é bom saber que as instituições esportivas do mundo levaram corajosamente a sério o valor da inclusão. O movimento paraolímpico e outras associações esportivas de apoio às pessoas com deficiência, como as Olimpíadas Especiais, desempenharam um papel decisivo para ajudar o público a reconhecer e admirar o extraordinário desempenho de atletas com diferentes habilidades e capacidades. Estes eventos nos proporcionam experiências nas quais a grandeza e a pureza do gesto esportivo são admiravelmente destacadas.

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui

12 julho 2021, 14:39