Busca

Um cidadão caminha ao lado de uma placa pedindo a participação no referendo promovido pelo presidente Jovenel Moise, em Porto Príncipe, Haiti, 27 de maio de 2021 (ANSA) Um cidadão caminha ao lado de uma placa pedindo a participação no referendo promovido pelo presidente Jovenel Moise, em Porto Príncipe, Haiti, 27 de maio de 2021 (ANSA)

Haiti. Bispos: não a referendo sobre Constituição em plena crise social e política

Decidir substituir a Carta fundamental, enfatiza a Conferência episcopal, não é possível "em meio a uma crise política em que é difícil chegar a um acordo" e "perseverar neste ponto mergulhará o país numa crise ainda mais grave", pois a atual situação social e política, composta de "divisão, desconfiança e violência de todo tipo", não é de modo algum favorável "a um projeto desta magnitude, o que implicaria mais e mais uma colaboração entre todas as forças nacionais"

Vatican News

Ouça a reportagem e compartilhe!

A Conferência Episcopal do Haiti (CEH) critica a decisão das autoridades de reformar a Constituição. Os prelados ressaltam que tal medida não pode ser tomada em meio a uma crise sócio-política nacional, por causa da qual é difícil obter o consentimento de toda a população.

De fato, está previsto para 27 de junho um referendo sobre a Carta fundamental, cujas mudanças, entretanto, são objeto de perplexidade tanto por parte das forças da oposição quanto dos ambientes próximos do chefe de Estado, Jovanel Moise.

Efetivamente, a reforma acentuaria os poderes do próprio presidente, que tem sido alvo de numerosos protestos populares desde outubro de 2019 porque acusado de corrupção.

Protestos levaram ao adiamento das eleições legislativas

Os protestos forçaram o adiamento das eleições legislativas que tinham sido previstas para janeiro de 2020, levando o governo a agir através de decretos contínuos. A pandemia da Covid-19 agravou ainda mais a atual crise social, causando quase 15 mil infecções e mais de 300 mortes.

O clima de violência na ilha caribenha também é trágico, devido a quadrilhas armadas, os chamados "esquadrões da morte" que semeiam terror por toda parte, num contexto de impunidade quase total.

Ouvimos o clamor de nossos irmãos e irmãs

"Nestes tempos difíceis de nossa história como povo - escrevem os bispos numa longa mensagem - ouvimos o clamor de nossos irmãos e irmãs, clamores provocados por males terríveis como a multiplicação de quadrilhas fortemente armadas que fazem a lei e impõem seus diktats; violência em todas as suas formas; sequestros; insegurança que impede a livre circulação dentro do território nacional; criminalidade; impunidade; instabilidade política; a deterioração das estruturas estatais; o alto custo de vida; a pandemia da Covid-19."

Por esta razão, a Conferência Episcopal do Haiti apela aos expoentes políticos de todas as tendências para que "evitem colocar fardos pesados sobre os ombros do povo, que terão a consequência de desacelerar ou até mesmo impedir seu caminho para o pleno desenvolvimento".

Em primeiro lugar, buscar o caminho certo e consensual

E entre esses fardos os bispos citam precisamente "o desejo de prover o país, a todo custo, com uma nova Constituição, por meio de referendo". Mas o que é necessário, em primeiro lugar, é "buscar o caminho certo e consensual para alcançar este objetivo" e "e este não é o caso, no momento".

Decidir substituir a Carta fundamental, enfatiza a Conferência episcopal, não é possível "em meio a uma crise política em que é difícil chegar a um acordo" e "perseverar neste ponto mergulhará o país numa crise ainda mais grave", pois a atual situação social e política, composta de "divisão, desconfiança e violência de todo tipo", não é de modo algum favorável "a um projeto desta magnitude, o que implicaria mais e mais uma colaboração entre todas as forças nacionais".

Renunciar referendum, decisão sábia a ser tomada

"Renunciar ao projeto de um referendo seria, portanto, a sábia decisão a tomar", explicam os bispos às autoridades. "Imploramos que evitem que o país passe por dias ainda mais sombrios e piores do que aqueles que estamos vivendo atualmente."

O pensamento dos bispos haitianos dirige-se, em seguida, para a população que "não pode mais esperar para ver a nação sair da miséria, insegurança, instabilidade e ilegalidade crônica".

Não se deixarem roubar a esperança

Daí, a exortação a "trabalhar urgentemente, desde já, pela paz e por uma mudança profunda", relançando "sem mais tardar o processo democrático que permite aos cidadãos escolher seus líderes legítimos através de eleições livres e transparentes".

Os bispos também exortam todos os haitianos a "não se deixarem roubar a esperança por um futuro de paz e participação na construção da democracia". "O Haiti viverá!", conclui a mensagem episcopal que, por fim, confia o país à intercessão de sua Padroeira, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

Vatican News – IP/RL

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui

03 junho 2021, 11:31