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Cruz Missioneira (Foto de José Roberto de Oliveira) Cruz Missioneira (Foto de José Roberto de Oliveira) 

Grande Projeto Missões, valorização e resgate da história jesuítico-guarani

Um rico patrimônio ainda pouco conhecido e não suficientemente valorizado, mas que com o envolvimento da comunidade pode ser resgatado, tornando-se um potencial de desenvolvimento para um território que envolve 26 municípios na região das Missões, no Rio Grande do Sul. Este é o objetivo do Grande Projeto Missões, cujos idealizadores buscaram apoio do Papa Francisco, com um convite para visitar a região.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

Ouça a entrevista com Álvaro Theisen

Nasce da necessidade de valorizar e tornar conhecido o rico patrimônio jesuítico-guarani o Grande Projeto Missões, iniciativa que trabalha no resgate de uma história e no desenvolvimento de uma região, em um processo que envolve a “transformação cultural e de mentalidades”.  E um projeto assim só terá sucesso “se houver a participação de toda a comunidade”, pontua Álvaro Medeiros de Farias Theisen, coordenador e idealizador do Grande Projeto Missões.

Tendo concluído seu ciclo profissional como engenheiro eletricista, este santoangelense resolveu resgatar um pouco de sua origem e do interesse que tinha pela região que tem uma grandiosa história, “mas muito pouco conhecida, porque nos colégios, nas escolas, nossa formação básica lá não é muito explorada, porque como a gente vivia praticamente em cima daqueles resquícios missioneiros dos Sítios Arqueológicos a gente nunca valorizou aquilo como uma coisa diferenciada.”

Potencial da região das Missões

 

Os 22 anos de trabalho na PUC-RS, e depois em multinacionais fora do país, mas especialmente visitando outros Sítios Arqueológicos, é que percebeu o grande potencial existente na região das Missões e a pouca valorização que se dava a tão rico patrimônio.

Nos inúmeros contatos feitos, percebeu que outras pessoas compartilhavam da ideia de que algo precisava ser feito, mas era necessário sair do isolamento, unir os esforços isolados e desenvolver algo, pois “a causa é nobre”, enfatiza ele.

Outro desafio é encontrar uma forma de obter recursos financeiros para executar os projetos, o que poderá ocorrer com a aprovação do projeto de lei “Fundo pró-Missões” que tramita na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

A perspectiva inicial de implementação do projeto é de dez anos, mas o idealizador da iniciativa avalia que o mesmo deverá ser repaginado no final desses dez anos.

Nessa primeira fase, que já dura quase dois anos, já são colhidos os primeiros resultados dos esforços empreendidos. Há quase 200 pessoas envolvidas, todos de forma voluntária. “Encontramos mais de 280 resquícios missioneiros – conta Álvaro Theisen - restos de capelas, estruturas, materiais, vestígios de pontes, de estradas, caminhos, estâncias, moinhos, fontes, as mais diversas estruturas missioneiras que ainda não estão mapeadas e catalogadas, que foram identificadas pelos colaboradores de uma forma espontânea”.

Ruínas de São Miguel Arcanjo (Foto: José Roberto de Oliveira)
Ruínas de São Miguel Arcanjo (Foto: José Roberto de Oliveira)

Outra conquista foi o asfaltamento de dois Sítios dos Sete Povos que não tinham acessos. Quando chovia, o percurso de 7 km ficava intransitável.

Por outro lado, também busca-se qualificar o turismo, com projetos de melhoria das instalações, da forma como as informações são apresentadas, elaboração de guias digitais, entre outras.

Qualificação do ensino no resgate da memória

 

Mas um trabalho fundamental, e que representa um dos cinco pilares do Projeto, além de um grande desafio, é a qualificação do ensino sobre as Missões jesuítico-guarani junto às escolas de Ensino Fundamental, pois “sem passar pela educação e sem passar pela nova abordagem de ensino do tema Missões, nós não vamos transformar a região”, admite o santoangelense.

Para ele, o conhecimento existente sobre as Missões é muito superficial. “As comunidades não estão preparadas, porque desconhecem a história que é muito mal contada, é muito mal ensinada, e isso faz faz com que nós não tenhamos um processo de valorização maior do que foi essa história.”

Assim, o trabalho desenvolvido pelo Projeto busca “a valorização ou a mudança do conceito que as pessoas, as famílias, os indivíduos que vivem sobre esses lugares devem ter sobre o que aconteceu naquela região e a valorização”. E para ajudar neste processo, foi contactada a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), que tem um projeto de um instituto de inovação para a educação e tem apoiado as iniciativas nesse sentido junto às Coordenadorias regionais de educação.

 

A importância do envolvimento da comunidade

 

Álvaro reitera que só será possível mudar a atual situação, se houver uma colaboração e envolvimento de toda a comunidade, “porque é um processo de transformação cultural e de mentalidade. E isso é importante porque não se constrói um novo momento sem mudar a consciência, a mentalidade das pessoas. Mas mais que construir sobre ruínas, sobre pedra, sobre uma história passada, a gente quer construir sobre pessoas, sobre formas de interagir com as pessoas. Aquele conceito comunitário que as Missões passaram do uso das coisas comuns, do bem coletivo, a gente quer transmitir para as novas gerações, é um estado de fraternidade”.

De coração aberto à espera do Papa Francisco

 

Mas se por um lado os projetos envolvem fundamentalmente os 26 municípios missioneiros, por outro os olhares cruzam o oceano para buscar ajuda no além-mar. De fato, em setembro de 2020 foi enviado o Grande Projeto Missões ao Papa Francisco com todos os seus detalhes, acompanhado por uma carta da Associação dos Municípios das Missões (AMM), que não só falava deste rico patrimônio, incluindo o Santuário de Caaró, mas incluía um convite ao Pontífice jesuíta para visitar a região, como contou ao Vatican News o idealizador do projeto:

“A expectativa brasileira pela visita do Papa é enorme. Quando a região soube do envio da carta que foi suportada pelo presidente da Assembleia, e que em breve deve ir uma do governador que já deve estar pronta - só tem os trâmites burocráticos, que nós estamos vendo porque ela não chegou em vocês ainda – demonstram que a figura do Santo Papa aqui é muito querida e a expectativa é muito grande. Realmente, todos queremos que ele venha, porque realmente tem sentido associar a figura de um jesuíta, que é Papa, à história missioneira, esse conceito do cristianismo feliz, que há a esperança para isso.”

Com a data de 3 de março, foi enviada a carta resposta ao presidente da Associação dos Municípios das Missões (AMM), Sr. Ricardo Klein, assinada por Monsenhor Luigi Roberto Cona, que recebeu “a honrosa missão de transmitir, da parte de Sua Santidade, as preces pelo bom êxito do referido projeto e os votos de que um conhecimento mais aprofundado da história da primeira evangelização nestas terras, seja impulso para as novas gerações crescerem no amor a Jesus Cristo e ao seu Evangelho”.

Já em maio, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputado Gabriel Souza, enviou uma carta ao Pontífice, referendando o trabalho desenvolvido pela Associação dos Municípios das Missões, “para manter viva a memória dos povos originários das primeiras Reduções Jesuíticas que se desenvolveram naquelas terra aos sul do Brasil”.

Assim, assegura Álvaro Theisen, “temos total apoio regional da comunidade, dos prefeitos e do Governo do Estado do Rio Grande do Sul e também através do Governo Federal. Então, tudo o que for necessário para que o Papa inclua na sua agenda a visita às Missões aqui no Rio Grande do Sul será feito. Estamos completamente de coração aberto à espera do Papa”.

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12 junho 2021, 08:38